Tiros, Explosões e Risos
Dupla Explosiva ou The Hitman´s Bodyguard (título que o filme foi lançado na Netflix) serve para mostrar que mesmo a mais desgastada fórmula pode exibir frescor se for desenvolvida com vontade suficiente por seus criadores. O roteiro do filme, escrito pelo novato Tom O´Connor (que só tinha o esquecível Fogo Contra Fogo no currículo – calma, não é a obra-prima de 1995 com Robert De Niro e Al Pacino, e sim um filme muito meia boca com Bruce Willis e Rosario Dawson), não tem nada de novo e de fato parece uma daquelas histórias que ficaram na geladeira durante décadas – a vibe é anos 1980 e 1990 total.
Na trama, Ryan Reynolds, de volta aos holofotes após o sucesso imensurável de Deadpool (2016), interpreta Michael Bryce, um exímio segurança, dono de sua própria empresa e equipe. No topo de seu jogo, um atentado no qual perde um cliente (não é spoiler, já que ocorre logo nos primeiros minutos de filme), o faz cair em desgraça. Essa é sua história de redenção. Desmotivado com o trabalho, o sujeito continua a fazer o que sabe, sem o mesmo prestígio e estrutura. Quando sua ex-namorada, papel da exótica francesa Elodie Yung (a Elektra das séries Demolidor e Os Defensores), reaparece em sua vida, a missão mais difícil que já encarou também se apresenta.
O que acontece é que Darius Kincaid (Samuel L. Jackson), um dos assassinos de aluguel mais temidos do mundo, finalmente foi capturado. E não apenas isso, o sujeito fez um acordo com os federais para entregar em corte Vladislav Dukhovich (Gary Oldman), ditador genocida, também sob custódia dos oficiais. O problema é que os homens do renomado criminoso de guerra não pretendem deixar Kincaid vivo para depor, e assim começa uma caçada humana. No meio de uma emboscada, Amelia Roussel (Yung) é a única sobrevivente e precisa da ajuda do ex-companheiro Bryce (Reynolds) para que o matador fique inteiro até cumprir seu dever.
Por esta sinopse já dá para perceber que a história não é novidade e podemos pensar em quinhentos outros filmes que a utilizaram. A graça está mesmo nas trocas entre os personagens, que quicam um no outro inúmeras respostas espertinhas, fazendo valer suas personalidades bem diferentes em colisão. Dupla Explosiva já entra para o panteão de produções que trazem protagonistas avessos, precisando trabalhar juntos, até fazerem desenvolver uma amizade, ou ao menos respeito mútuo. A fórmula consolidada na década de 1980, tem como forte expoente a série Máquina Mortífera (1987 a 1998).
A direção de Patrick Hughes (Os Mercenários 3), cineasta de aluguel, faz o feijão com arroz bem temperado, que não compromete a digestão. Entre tiros e explosões, salva-se a química dos protagonistas, o verdadeiro prato saboroso. Dupla Explosiva também serve para salientar uma tendência dentro do gênero no mercado Hollywoodiano atual: os filmes de ação estilosos, com muita cobertura e pouco recheio. No passado, o roteiro era o principal, seguido por todo o resto. Hoje, confecciona-se o design extravagante e a história muitas vezes é reciclada.
Tal tendência apenas reflete a preguiça do público por novidade, por comprar uma trama totalmente original, dando sempre preferência a algo que já está bem enraizado em nosso subconsciente. Só este ano tivemos como exemplo John Wick: Um Novo Dia para Matar e Atômica. Dupla Explosiva, no entanto, depende menos de seu visual e mais da comicidade de seus protagonistas, que não por acaso já viveram os mesmos personagens de forma mais interessante em filmes melhores. Como dito, esta junção entre o matador e seu guarda-costas serve de puro entretenimento escapista. Leve como uma brisa, quem conseguir mantê-lo na mente no mês seguinte é que deve ser considerado o verdadeiro herói.