domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | The Perfection – Mais um Filme Bizarro da Netflix

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Reviravoltas Mil

É preciso louvar o que a Netflix faz pelo audiovisual. A empresa abre espaço criativo para artistas deixarem fluir sua imaginação. Assim, grandes nomes do cinema começaram a migrar para esta nova casa a fim de um controle maior sobre suas obras. Foi o caso recente com diretores como Alfonso Cuarón (e sua obra-prima Roma) e os irmãos Coen (A Balada de Buster Scruggs), e em breve Martin Scorsese aportará com seu O Irlandês.

Mas nem tudo que a Netflix toca (ou cria) é ouro. De fato, a abundância de produções exclusivas anuais muitas vezes se mete na frente da qualidade. Ao ponto de até mesmo os fãs perceberem e começarem a chiar. E se há mais liberdade para criar obras boas, essa via de mão dupla ocorre com as ruins também. O fato de estarmos assistindo na telinha e não na telona pode até diminuir a “dor”, mas não a exime.



The Perfection, filme escrito e dirigido pelo eficiente Richard Shepard (do ótimo A Recompensa, 2013), é o típico caso de filme com síndrome Netflix. Um longa recheado de tantas questões e pautas, que termina desfocado, sem saber direito sobre o que deseja falar, ou qual seu objetivo. O curioso é que a cada novo capítulo (o filme, assim como os de Tarantino, é dividido por etapas), a trama dá uma guinada, em uma reviravolta que muda não apenas o que estávamos assistindo, como também o gênero do filme. Assim temos: um romance, um drama, uma ficção sobre vírus e epidemia, um filme apocalíptico, um filme sobre vingança, um suspense, um cult surreal e discurso contra abuso.

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Não existe imposição contra o que um filme deve ser. Ele pode ser quantas coisas quiser, caso saiba administrar bem sua narrativa e traçar uma linha coesa do início ao fim. The Perfection é episódico, como se cada trecho solto dentro de sua narrativa fosse um novo capítulo de um programa televisivo. E mais do que isso, a cada guinada, os mesmos personagens soam como pessoas completamente diferentes, como se outra narrativa estivesse sendo criada dentro de uma existente, que transformasse por completo tudo o que havia sido apresentado até então. Falando assim até parece uma coisa boa, um atrativo. E seria, caso fosse consciente. Mas a ideia não é esta. O plano é por uma coesão do início ao fim, coisa que não ocorre.

Na história, Allison Williams (a racista de Corra!, 2017) vive uma menina prodígio. Uma violoncelista promissora, que precisa abrir mão de sua carreira para cuidar da mãe doente durante, pelo menos, uma década. Quando a mulher morre, ela tenta se inserir novamente no mundo da música. Voltando a ter contato com seus mentores, vividos por Steven Weber e Alaina Huffman – donos de uma escola de grande prestígio -, ela conhece a nova protegida deles, a sensação do violoncelo Lizzie (a estonteante Logan Browning, da série da casa Cara Gente Branca). As duas se entrosam e acaba pintando um clima consumado – a produção ousa ao colocar cenas íntimas e picantes entre as duas beldades, tudo realizado com muito bom gosto e de forma muito sensual.

E daí teríamos por si só um filme. Um arco recheado de tremendas possibilidades narrativas. A antiga prodígio e a nova sensação, evocando uma disputa mesmo que latente entre as duas amantes – algo como Cisne Negro (2010). Mas talvez a Netflix exija complexidade de seus artistas. Nada de histórias simples (mesmo que psicologicamente desafiadoras) para o público jovem de hoje, com déficit de atenção, que possivelmente perderia o interesse caso a trama não fosse recheada de surpresas e reviravoltas a cada nova esquina.

Essa premissa narrada é só a ponta do iceberg, infelizmente também é o momento de mais brilho na obra. Sobriedade e sofisticação logo dão lugar a um show de horrores violento, sem sentido e que não leva de fato a lugar nenhum. As ramificações pseudocomplexas causam risadas involuntárias ao percebermos o quão ridículas são as soluções dadas a situações que seriam resolvidas de forma mais simples, pelos personagens. É o típico “usar uma espingarda para matar uma formiga”. O roteiro dá a volta ao mundo para chegar onde finalmente deseja e tudo o que nos resta é olharmos descrentes a tudo.

O mais desavergonhado, no entanto, é o discurso que The Perfection deseja implantar ao final. Depois de toda a patacoada, o filme, com muita cara de pau, tenta passar uma mensagem positiva, contra o abuso físico e psicológico de mulheres. Bem, o assunto é extremamente necessário e digno, mas The Perfection não faz nada para merecê-lo. É como se ao final de Mulher-Gato (2004), com Halle Berry, surgisse uma mensagem feminista para que o longa fosse “protegido” por uma boa causa.

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Mas nem tudo que a Netflix toca (ou cria) é ouro. De fato, a abundância de produções exclusivas anuais muitas vezes se mete na frente da qualidade. Ao ponto de até mesmo os fãs perceberem e começarem a chiar. E se há mais liberdade para criar obras boas, essa via de mão dupla ocorre com as ruins também. O fato de estarmos assistindo na telinha e não na telona pode até diminuir a “dor”, mas não a exime.

The Perfection, filme escrito e dirigido pelo eficiente Richard Shepard (do ótimo A Recompensa, 2013), é o típico caso de filme com síndrome Netflix. Um longa recheado de tantas questões e pautas, que termina desfocado, sem saber direito sobre o que deseja falar, ou qual seu objetivo. O curioso é que a cada novo capítulo (o filme, assim como os de Tarantino, é dividido por etapas), a trama dá uma guinada, em uma reviravolta que muda não apenas o que estávamos assistindo, como também o gênero do filme. Assim temos: um romance, um drama, uma ficção sobre vírus e epidemia, um filme apocalíptico, um filme sobre vingança, um suspense, um cult surreal e discurso contra abuso.

Não existe imposição contra o que um filme deve ser. Ele pode ser quantas coisas quiser, caso saiba administrar bem sua narrativa e traçar uma linha coesa do início ao fim. The Perfection é episódico, como se cada trecho solto dentro de sua narrativa fosse um novo capítulo de um programa televisivo. E mais do que isso, a cada guinada, os mesmos personagens soam como pessoas completamente diferentes, como se outra narrativa estivesse sendo criada dentro de uma existente, que transformasse por completo tudo o que havia sido apresentado até então. Falando assim até parece uma coisa boa, um atrativo. E seria, caso fosse consciente. Mas a ideia não é esta. O plano é por uma coesão do início ao fim, coisa que não ocorre.

Na história, Allison Williams (a racista de Corra!, 2017) vive uma menina prodígio. Uma violoncelista promissora, que precisa abrir mão de sua carreira para cuidar da mãe doente durante, pelo menos, uma década. Quando a mulher morre, ela tenta se inserir novamente no mundo da música. Voltando a ter contato com seus mentores, vividos por Steven Weber e Alaina Huffman – donos de uma escola de grande prestígio -, ela conhece a nova protegida deles, a sensação do violoncelo Lizzie (a estonteante Logan Browning, da série da casa Cara Gente Branca). As duas se entrosam e acaba pintando um clima consumado – a produção ousa ao colocar cenas íntimas e picantes entre as duas beldades, tudo realizado com muito bom gosto e de forma muito sensual.

E daí teríamos por si só um filme. Um arco recheado de tremendas possibilidades narrativas. A antiga prodígio e a nova sensação, evocando uma disputa mesmo que latente entre as duas amantes – algo como Cisne Negro (2010). Mas talvez a Netflix exija complexidade de seus artistas. Nada de histórias simples (mesmo que psicologicamente desafiadoras) para o público jovem de hoje, com déficit de atenção, que possivelmente perderia o interesse caso a trama não fosse recheada de surpresas e reviravoltas a cada nova esquina.

Essa premissa narrada é só a ponta do iceberg, infelizmente também é o momento de mais brilho na obra. Sobriedade e sofisticação logo dão lugar a um show de horrores violento, sem sentido e que não leva de fato a lugar nenhum. As ramificações pseudocomplexas causam risadas involuntárias ao percebermos o quão ridículas são as soluções dadas a situações que seriam resolvidas de forma mais simples, pelos personagens. É o típico “usar uma espingarda para matar uma formiga”. O roteiro dá a volta ao mundo para chegar onde finalmente deseja e tudo o que nos resta é olharmos descrentes a tudo.

O mais desavergonhado, no entanto, é o discurso que The Perfection deseja implantar ao final. Depois de toda a patacoada, o filme, com muita cara de pau, tenta passar uma mensagem positiva, contra o abuso físico e psicológico de mulheres. Bem, o assunto é extremamente necessário e digno, mas The Perfection não faz nada para merecê-lo. É como se ao final de Mulher-Gato (2004), com Halle Berry, surgisse uma mensagem feminista para que o longa fosse “protegido” por uma boa causa.

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