Filme assistido durante o Festival de Sundance 2022
Sempre cercada pelos holofotes e constantemente monitorada pelas opiniões do mundo, a Princesa Diana viveu uma vida longe dos estereótipos fabulosos com os quais crescemos assistindo nos filmes da Disney. Na mira das lentes dos paparazzis e com seus movimentos analisados de perto por membros da corte e anônimos, a amada realeza desfrutou de uma dolorosa e curta vida, marcada pela dor e pelo escrutínio da Família Real e da imprensa sensacionalista. E The Princess chega aqui como um documentário intimista, que visa nos apresentar Diana exclusivamente pelas lentes do mundo.
Não trazendo nenhum fato novo, o longa de Ed Perkins merece um olhar especial por tentar nos mostrar Diana apenas pela perspectiva pública. Sem entrevistas padrões e sem fontes próximas relembrando a princesa com histórias do passado, o documentário é uma reconstrução da vida da realeza a partir de imagens de época, vídeos caseiros e coberturas jornalísticas. O que torna The Princess valioso é sua abordagem narrativa mais crua, que traz detalhes do fenômeno cultural que Diana se tornou e como tudo isso fora percebido e vivido pelo Reino Unido.
Unindo uma coleta de conteúdos já apresentados em algum determinado momento do passado, o filme é feito em terceira pessoa, com o diretor se distanciando do seu objeto documental, apresentando mais uma coletânea dos momentos mais marcantes da realeza. Entre flashes de paparazzi e reportagens jornalísticas, aqui nos lembramos de Diana em sua forma mais desconfortável: sempre inquieta pela perseguição midiática e obviamente frustrada pela realidade principesca que de glamourosa pouco (ou quase nada) verdadeiramente tinha. Mas um dos pontos mais marcantes da cobertura jornalística da família real foi deixada de fora, o que torna The Princess uma mistura entre encantamento e profunda indignação.
A entrevista mais polêmica de Diana, ao Martin Bashir para a emissora BBC, foi deixada de fora. Ainda que ela seja cercada por circunstâncias problemáticas, como as táticas abusivas e manipuladoras do entrevistador, ali também reside um dos instantes mais dolorosos da amada princesa. Com semblante caído e uma beleza singular que tenta abafar o seu sofrimento, ela relata brevemente o pesadelo da sua vida conjugal, destruída pelas traições de Charles com a nada carismática Camille. E com esse desfalque, The Princess fica no meio do caminho como uma produção que, embora seja simbólica, nos deixa à deriva em relação às injustiças vividas por Diana.
Dito isso, o documentário de Perkins mantém o seu valor por seu aparato histórico estampado em vídeos antigos que hoje possuem um valor imensurável não apenas para o Reino Unido, mas para a cultura mundial. Com uma montagem meticulosa e impecável, The Princess consegue – em meio aos seus erros – ser uma experiência imersiva, que nos transporta para uma viagem no tempo memorável e até mesmo assustadora. Relembrando Diana a partir dos olhos do mundo, algo que nenhum documentário anterior havia se dedicado a fazer, a produção nos ajuda a pelo menos compreender uma pequena dimensão da sufocante e vigiada vida de uma das mulheres mais espetaculares e maltratadas que já viveu entre nós.