sexta-feira , 3 janeiro , 2025

Crítica | The Silence – Netflix combina elementos de filmes de terror recentes e monta um Frankenstein

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Com o talentoso e versátil Stanley Tucci (O Diabo Veste Prada) e a jovem Kiernan Shipka (das séries O Mundo Sombrio de Sabrina e Mad Men), The Silence chama atenção pelo elenco e sua atmosfera lúgubre. Nos primeiros minutos, o roteiro dos irmãos Carey e Shane Van Dyke mostra uma ocorrência desastrosa em um local remoto, sendo este o ponto de partida para o drama da família da jovem Ally (Shipka), que tenta lidar com a surdez adquirida a partir de um acidente de automóvel.

Com essa premissa, The Silence já remete instantaneamente ao bem sucedido Um Lugar Silencioso (2018), de John Krasinski, já que a ameaça é atraída apenas pelo som e a linguagem de sinais é uma aliada. A comparação é irremediável entre ambos os filmes, assim como com Bird Box (2018), por causa de um perigo iminente e desconhecido que extermina pouco a pouco a humanidade.



Como todo filme apocalíptico, o roteiro segue a cartilha de apresentar os personagens, suas forças e fraquezas a fim de utilizá-las em momentos chave. Narrada pela jovem surda, a história acompanha a sua perspectiva dos primeiros dias do ataque. Dirigido por John R. Leonetti, responsável por Annabelle (2014), o filme mantém o clima de suspense e tons fúnebres, mas o roteiro ao longo do percurso se enrola para desenvolver conflitos e resoluções inteligentes.

Ainda com Mirando Otto (da série O Mundo Sombrio de Sabrina ) e John Corbett (Casamento Grego) no elenco, os seus personagens carecem de empatia e motivações. Buscando alcançar o patamar das produções de suspense e terror mencionadas anteriormente, a direção erra a mão ao dar mais visão às criaturas canibais do que à relação familiar e os conflitos pessoais surgidos em situações limite.

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Poucos momentos geram realmente tensão, tal como a decisão Hugh (Stanley Tucci) em silenciar o cachorro para salvar os filhos, a esposa e a sogra. Outros dilemas soam confusos como o acidente de carro do corajoso Glenn (John Corbett) e aparição de uma cobra em um cano de passagem. A mensagem do filme, entretanto, é simples – evolução e adaptação das espécies –  e poderia ser mais edificante se os roteiristas não adicionassem ingredientes além da conta e passassem do ponto da receita.

Embora haja a tentativa de acrescentar vida ao enredo, os personagens secundários causam estranhamento e destoam do restante projetado. No meio da história, por exemplo, surge uma seita em busca da protagonista, por conta da idade fértil. Como as motivações não são bem desenvolvida e as cenas de embate são pouco engenhosas, a adição do padre mensageiro (Billy MacLellan) não se encaixa na prerrogativa do rapto de Ally e muito menos na de mutilação de pessoas.

Nos segundos finais, apresenta-se numa narração da protagonista a explicação do filme, já que a projeção de uma hora e meia não é objetiva. Por conta do desencontro de ideias, The Silence já levanta voo de forma pouco original, perde altura logo depois dos 20 primeiros minutos e despenca ao não transportar o espectador para dentro da abstração fílmica.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Com essa premissa, The Silence já remete instantaneamente ao bem sucedido Um Lugar Silencioso (2018), de John Krasinski, já que a ameaça é atraída apenas pelo som e a linguagem de sinais é uma aliada. A comparação é irremediável entre ambos os filmes, assim como com Bird Box (2018), por causa de um perigo iminente e desconhecido que extermina pouco a pouco a humanidade.

Como todo filme apocalíptico, o roteiro segue a cartilha de apresentar os personagens, suas forças e fraquezas a fim de utilizá-las em momentos chave. Narrada pela jovem surda, a história acompanha a sua perspectiva dos primeiros dias do ataque. Dirigido por John R. Leonetti, responsável por Annabelle (2014), o filme mantém o clima de suspense e tons fúnebres, mas o roteiro ao longo do percurso se enrola para desenvolver conflitos e resoluções inteligentes.

Ainda com Mirando Otto (da série O Mundo Sombrio de Sabrina ) e John Corbett (Casamento Grego) no elenco, os seus personagens carecem de empatia e motivações. Buscando alcançar o patamar das produções de suspense e terror mencionadas anteriormente, a direção erra a mão ao dar mais visão às criaturas canibais do que à relação familiar e os conflitos pessoais surgidos em situações limite.

Poucos momentos geram realmente tensão, tal como a decisão Hugh (Stanley Tucci) em silenciar o cachorro para salvar os filhos, a esposa e a sogra. Outros dilemas soam confusos como o acidente de carro do corajoso Glenn (John Corbett) e aparição de uma cobra em um cano de passagem. A mensagem do filme, entretanto, é simples – evolução e adaptação das espécies –  e poderia ser mais edificante se os roteiristas não adicionassem ingredientes além da conta e passassem do ponto da receita.

Embora haja a tentativa de acrescentar vida ao enredo, os personagens secundários causam estranhamento e destoam do restante projetado. No meio da história, por exemplo, surge uma seita em busca da protagonista, por conta da idade fértil. Como as motivações não são bem desenvolvida e as cenas de embate são pouco engenhosas, a adição do padre mensageiro (Billy MacLellan) não se encaixa na prerrogativa do rapto de Ally e muito menos na de mutilação de pessoas.

Nos segundos finais, apresenta-se numa narração da protagonista a explicação do filme, já que a projeção de uma hora e meia não é objetiva. Por conta do desencontro de ideias, The Silence já levanta voo de forma pouco original, perde altura logo depois dos 20 primeiros minutos e despenca ao não transportar o espectador para dentro da abstração fílmica.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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