sexta-feira, abril 19, 2024

Crítica | Entre Facas e Segredos – Comédia e mistério em filme HILÁRIO na pegada Agatha Christie

Filme Assistido durante o Festival de Toronto 2019

Como no jogo Detetive, as peças se espalham pelo tabuleiro em um cenário que tem aroma de thriller. Em meio a um contexto de festividade, uma inesperada morte. Ironicamente, um popular escritor de livros à la Agatha Christie, com pitadas de Sidney Sheldon, morre em um cenário bucólico, marcado por uma casa de madeira majestosa e de estrutura antiga. De tons escuros e à meia luz, a residência de estrutura vitoriana é o palco de uma morte trágica, onde todos os familiares se apresentam como uma real ameaça e – porque não – genuínos suspeitos da morte de seu patriarca, vivido por Christopher Plummer. Em Entre Facas e Segredos, Rian Johnson presenteia os fãs do mistério com uma narrativa original à sua maneira, que desperta o riso das formas menos convencionais possíveis, proporcionando uma inesperada e divertidíssima experiência cinematográfica.

O amado gênero de mistério investigativo tem seus favoritos na literatura, aqueles ídolos imutáveis. Agatha Christie é quem encabeça o nicho, sendo acompanhada por grandes escritoras como Charlotte Armstrong, Christianna Brand e Mary Roberts Rinehart. Reinventar o modelo brilhantemente desenvolvido por estas e por tantos outros escritores é uma tarefa árdua. Entre Facas e Segredos não preza por essa premissa e faz bem por não querer reinventar a roda. Com materiais fontes da mais altíssima qualidade, o novo longa de Johnson é uma surpresa original por se permitir brincar com um estilo narrativo que já possui sua essência mais pura e autêntica. Sem querer forçar uma originalidade maquiada, ele assume o gênero para si com uma grande liberdade criativa e transforma o que poderia ser apenas mais um suspense inspired em um blockbuster que rende risadas inadvertidas, muito bom humor e um Daniel Craig diferente daquilo que já vimos no passado.

Fazendo suas próprias referências estilísticas à atmosfera misteriosa criada nas histórias de Agatha Christie, o longa entrega uma trama que vai além da descoberta sobre quem matou quem e com qual arma. Entregando o que seria o principal desfecho logo em sua primeira metade, esconde um mistério dentro de outro e faz dessa argumentação uma forma de desbravar ainda mais as veredas das personalidades de seus protagonistas. Ao construir um enredo com camadas que respondem as perguntas fundamentais da audiência, descobrimos mais a respeito do caráter de cada membro da família de forma inerente e natural. Sem muito esforço, o roteiro vai se desvendando, à medida que entrega as motivações da tumultuada e ambiciosa família Thrombey.

E aqui, em meio à perguntas que quase parecem fáceis demais para serem respondidas (só que não), Daniel Craig se despe de suas caracterizações mais dramáticas e dá vida a um investigador perspicaz e que conta com o auxílio de dois membros da Polícia, vividos por Noah Segan e Lakeith Stanfield. Caricato, de voz arrastada e com um sotaque bem manjado, ele se transforma em um respiro cômico dentro da narrativa, com uma cativante irreverência que beira o humor que vez outra vemos em Logan Lucky – Roubo em Família. À vontade no papel do detetive Benoit Blanc, ele ajuda a pautar os risos da produção, ao lado de Anna De Armas, que – surpreendentemente – se torna o elemento X de todo o suspense, a partir de um característica exagerada e brilhantemente peculiar.

Explorando ainda uma discussão madura e pontual sobre a forma como a classe de imigrantes trabalhadores latinos tem sido tratada na gestão Donald Trump, Entre Facas e Segredos extrapola a linha da narrativa ficcional, usando sua plataforma de tamanha dimensão para projetar os holofotes para o preconceito e para o racismo social enraizado em diálogos pejorativos e comportamentos inadvertidos de pessoas – que, geralmente, adoram estufar o peito e dizer o quão não são racistas, mas ignoram suas próprias posturas rotineiras. Trazendo cenas de ação que encorpam ainda mais a dimensão da trama, o novo filme de Rian Johnson proporciona uma excelente diversão, sem fugir também de seu papel denunciante, ainda que seu viés seja um pouco mais suave e sutil. Envolvente, o longa nos pega de surpresa, nos presenteando com pouco mais de duas horas de puro entretenimento, atuações cativantes (vide Toni Collette, um primor como uma blogueira fútil!) e um desfecho digno de Agatha Christie: repleto de reviravoltas que vão te fazer sair dos cinemas com um belo sorriso no rosto.

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