quarta-feira , 25 dezembro , 2024

Crítica | O Farol – Robert Pattinson se transforma em espetáculo noir visceral

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Entre as sombras e os pequenos feixes de luz natural que penetram um casebre, duas mentes esgotadas compartilham o mesmo espaço. Exaustas pela paisagem chuvosa e úmida de uma ilha totalmente deserta, elas se desafiam em ambientes apertados e pouco arejados, sob o peso do isolamento social em meio a um trabalho braçal desgastante. O Farol, segundo longa de Robert Eggers, explora essa imensidão da mente humana, tratando a psique de dois homens de gerações e práticas distintas, que são forçados a partilhar de uma convivência onde contos de pescador, fenômenos sobrenaturais e um mistério por trás da cegante luz de um farol entram em uma inesperada rota de colisão.



Como um espetáculo noir, o thriller dramático do jovem cineasta é peculiar à sua maneira, trazendo uma narrativa embasada no século XX e que faz referência ao cinema de seu próprio tempo. A partir de uma narrativa – teoricamente – simples, que visa abordar a dinâmica relacional de duas pessoas expostas à condições adversas sob o efeito do isolamento, Eggers faz de O Farol uma peça experimental, que reverencia produções como O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, homenageando a era de ouro do cinema, à medida que trabalha o gênero com sua própria e contemporânea identidade. Com Robert Pattinson e Willem Dafoe sendo submetidos um ao outro, em um tipo de união às avessas, a produção faz de sua escolha estética monocromática a força motriz para evidenciar – em tons vibrantes e coloridos – as diversas camadas na atuação de ambos os atores.

E aqui, Pattinson inaugura um novo momento de sua carreira, que já era permeada pela produção independente. Se despindo emocionalmente diante da audiência, ele personifica a figura de um jovem esguio de olhos fundos e dilacerados, que parecem estar constantemente em estado de perplexidade. Ao seu lado, Dafoe é a figura de um capitão sem embarcação, que faz do farol que cuida a experiência de toda a sua vida. Seu nível de intimidade com a estrutura é ainda o gatilho que atrai a atenção de seu novo parceiro profissional, que instigado pelo misterioso fascínio, está disposto a descobrir o que o local possui de tão surpreendente. Essa curiosa busca ainda é cercada pelas mazelas particulares de ambos os personagens, que tentam lidar com seus demônios ao som do silêncio, mas que acabam sendo interrompidos pela ensurdecedora convivência a dois.

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Neste entremeio, pensamentos caóticos e controversos começam a pulverizar a narrativa, acrescentando um nível de densidade e intensidade que acabam tragando a audiência para dentro de uma experiência cinematográfica imersiva e palpável. E sob a escuridão de uma fotografia noir, O Farol cresce ao decorrer de sua trama, entregando uma narrativa progressiva que caminha no ritmo das atuações de seus personagens. Assim como a loucura é variável de acordo com a personalidade de cada indivíduo, aqui, a linha que separa a sanidade e a insanidade se torna ainda mais turva, promovendo um cenário de caos onde a exaustão mental e física se mesclam em uma gigante implosão.

Criando uma atmosfera de tensão logo em seus primeiros minutos, O Farol é também de um nível técnico riquíssimo, com uma direção que sabe usar os poucos espaços do set a seu favor, desenvolvendo uma sensação de grandiosidade para a audiência. Explorando os ângulos a partir da captura da luz natural, Eggers ainda faz um belo contraste com as sombras, fazendo do estilo noir a escolha ideal para garantir a substancialidade e imersão da trama. Com uma trilha sonora que se mescla aos ruídos presentes na história, mixagem de som e trilha se confundem em uma caótica ópera sonora, que promove no público sensações tão adversas como as de seus personagens.

Absolutamente sinestésico, O Farol é uma expressividade pura do cinema clássico, sob uma roupagem contemporânea e autêntica. Impecável em todos os sentidos, o longa é uma combinação agradável entre o saudoso e o vindouro e já se consagra como uma das principais apostas para o Oscar 2020. Com Pattinson e Dafoe entregando as melhores personificações da história de suas respectivas carreiras, o filme é uma obra-prima completa à frente de seu tempo, à medida em que também honra a jornada cinematográfica de outrora que nos permitiu chegar em 2019, tendo o privilégio de poder experimentar algo tão surreal em qualidade altíssima.

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Entre as sombras e os pequenos feixes de luz natural que penetram um casebre, duas mentes esgotadas compartilham o mesmo espaço. Exaustas pela paisagem chuvosa e úmida de uma ilha totalmente deserta, elas se desafiam em ambientes apertados e pouco arejados, sob o peso do isolamento social em meio a um trabalho braçal desgastante. O Farol, segundo longa de Robert Eggers, explora essa imensidão da mente humana, tratando a psique de dois homens de gerações e práticas distintas, que são forçados a partilhar de uma convivência onde contos de pescador, fenômenos sobrenaturais e um mistério por trás da cegante luz de um farol entram em uma inesperada rota de colisão.

Como um espetáculo noir, o thriller dramático do jovem cineasta é peculiar à sua maneira, trazendo uma narrativa embasada no século XX e que faz referência ao cinema de seu próprio tempo. A partir de uma narrativa – teoricamente – simples, que visa abordar a dinâmica relacional de duas pessoas expostas à condições adversas sob o efeito do isolamento, Eggers faz de O Farol uma peça experimental, que reverencia produções como O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, homenageando a era de ouro do cinema, à medida que trabalha o gênero com sua própria e contemporânea identidade. Com Robert Pattinson e Willem Dafoe sendo submetidos um ao outro, em um tipo de união às avessas, a produção faz de sua escolha estética monocromática a força motriz para evidenciar – em tons vibrantes e coloridos – as diversas camadas na atuação de ambos os atores.

E aqui, Pattinson inaugura um novo momento de sua carreira, que já era permeada pela produção independente. Se despindo emocionalmente diante da audiência, ele personifica a figura de um jovem esguio de olhos fundos e dilacerados, que parecem estar constantemente em estado de perplexidade. Ao seu lado, Dafoe é a figura de um capitão sem embarcação, que faz do farol que cuida a experiência de toda a sua vida. Seu nível de intimidade com a estrutura é ainda o gatilho que atrai a atenção de seu novo parceiro profissional, que instigado pelo misterioso fascínio, está disposto a descobrir o que o local possui de tão surpreendente. Essa curiosa busca ainda é cercada pelas mazelas particulares de ambos os personagens, que tentam lidar com seus demônios ao som do silêncio, mas que acabam sendo interrompidos pela ensurdecedora convivência a dois.

Neste entremeio, pensamentos caóticos e controversos começam a pulverizar a narrativa, acrescentando um nível de densidade e intensidade que acabam tragando a audiência para dentro de uma experiência cinematográfica imersiva e palpável. E sob a escuridão de uma fotografia noir, O Farol cresce ao decorrer de sua trama, entregando uma narrativa progressiva que caminha no ritmo das atuações de seus personagens. Assim como a loucura é variável de acordo com a personalidade de cada indivíduo, aqui, a linha que separa a sanidade e a insanidade se torna ainda mais turva, promovendo um cenário de caos onde a exaustão mental e física se mesclam em uma gigante implosão.

Criando uma atmosfera de tensão logo em seus primeiros minutos, O Farol é também de um nível técnico riquíssimo, com uma direção que sabe usar os poucos espaços do set a seu favor, desenvolvendo uma sensação de grandiosidade para a audiência. Explorando os ângulos a partir da captura da luz natural, Eggers ainda faz um belo contraste com as sombras, fazendo do estilo noir a escolha ideal para garantir a substancialidade e imersão da trama. Com uma trilha sonora que se mescla aos ruídos presentes na história, mixagem de som e trilha se confundem em uma caótica ópera sonora, que promove no público sensações tão adversas como as de seus personagens.

Absolutamente sinestésico, O Farol é uma expressividade pura do cinema clássico, sob uma roupagem contemporânea e autêntica. Impecável em todos os sentidos, o longa é uma combinação agradável entre o saudoso e o vindouro e já se consagra como uma das principais apostas para o Oscar 2020. Com Pattinson e Dafoe entregando as melhores personificações da história de suas respectivas carreiras, o filme é uma obra-prima completa à frente de seu tempo, à medida em que também honra a jornada cinematográfica de outrora que nos permitiu chegar em 2019, tendo o privilégio de poder experimentar algo tão surreal em qualidade altíssima.

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