quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica TIFF | Waves – Um drama familiar de partir o coração ao meio

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Filme assistido durante o Festival de Toronto 2019

Pressões, medos e anseios formam bagagens que muitas vezes não ficam pelo caminho, mas são carregadas ao longo de uma jornada inteira. E o ambiente familiar costuma ser o centro gravitacional onde toda essa profunda carga traumática eclode, promovendo colisões entre gerações e percepções sobre a criação familiar, que podem – a longo prazo – acarretar em profundas feridas que custam a fechar. Essa tumultuada natureza é o que faz de Waves uma experiência cinematográfica cortante, real e sensível. Nos tomando pela mão de maneira delicada e doce, a produção prefere não se anunciar, construindo uma atmosfera sufocante e delirante que, gradativamente, se desabrocha nas telas nas belíssimas e complexas atuações de seu elenco. Como um relato autêntico da difícil tarefa de ser pais e filhos, o drama de Trey Edward Shults explora as mazelas por trás de um lindo retrato familiar.



Nossos pais foram criados de maneira distinta, tal como os seus próprios pais. E de geração em geração, a criação no seio familiar muitas vezes se transforma em um caminho tortuoso, esburacado, permeado por traumas jamais tratados, que acabam sendo perpetuados nas vidas de seus filhos. Em Waves, Shults aborda essa temática com honestidade, pontuando como ser pai e mãe se tornou uma tarefa cada vez mais delicada. E com a responsabilidade de ajudar seus pequenos a traçarem o resto de suas vidas, é comum que hajam as projeções e expectativas que se espera das suas crias. Só que o preço dessa imposição é custoso e uma hora ou outra essa fatura vem. O drama familiar explora esse ônus, acertando ao expor o grau de fragilidade que boa parte das famílias ao redor do mundo tenta esconder por trás de belas cortinas e persianas.

Em um mundo onde os adolescentes são cobrados de maneira sufocante, ser um jovem estudante já não é mais uma tarefa simples. Em meio às mudanças hormonais e pressões quanto ao futuro, amor, drogas, estudos e o incerto se chocam, arrastando todos ao redor. Foi assim com o jovem Tyler Williams, que viu sua breve jornada de atleta promissor ruir quando contusões e uma gravidez inesperada se transformam no pavor de ser incapaz de suprir as expectativas de seu exigente pai. Aqui, Kelvin Harrison Jr. mais uma vez se prova como o futuro do cinema, entregando uma angústia aterrorizante em sua atuação. De Luce a Waves, o jovem ator já transita no cinema independente com domínio maestral e contracena ao lado de Sterling K. Brown, seu pai fictício, com intimidade e autoridade.

Como a dinâmica mais explorada nas telonas, essa é aquela que faz o coração sangrar. Como um passo-a-passo do que não fazer às suas crianças, a relação entre pai e filho é a rachadura profunda que faz uma família inteira ser destruída. O medo de não acertar, rodeado pela dura criação de um pai que apenas passou adiante o pouco que recebeu, cria um clímax caótico e doloroso, nessa trama que aborda como a insensatez, um amor exigente, a insensibilidade e uma efêmera alienação parental podem transformar um MVP em um prisioneiro de sua própria mente. E como uma espécie de alerta, Waves é uma lição de vida didática, mostra como as pressões exageradas em um adolescente podem lhe custar a vida e nos ensina que o amor paterno precisa ser sacrificial e não um sacrifício.

Trazendo um roteiro emocional que leva a audiência para cantos profundos da alma e da mente, Waves é simbólico em toda a sua essência. Com uma direção criativa, a câmera passeia pelos sets com rapidez, garantindo uma dramaticidade muito mais profunda na captura das emoções de seus personagens. Com planos sequências que formam espirais alucinantes, o filme faz breves analogias sobre como a vida é dinâmica e como os ciclos se repetem. Trazendo uma fotografia que se destaca no noturno, luzes artificiais, cores intensas e neons se mesclam às cenas, garantindo uma imersão visual que torna a experiência cinematográfica ainda mais sinestésica. Conferindo uma profundidade na narrativa, esses artifícios se transformam em uma extensão da trama, nos absorvendo e nos tragando para complicada história da família Williams.

Delicado e sensível, Waves é uma imperiosa poesia visual, que nos parte ao meio por sua tamanha e tão genuína intensidade. Mais uma obra-prima da produtora A24, ela se consolida como um primoroso relato sobre o quão doente a nova geração de adolescentes está ficando, em virtude de seus próprios pais. Sucumbindo em complexos de inferioridade escalonados pelas redes sociais, eles desenvolvem síndrome do pânico e são submetidos às pressões que nem os adultos estão acostumados a enfrentar. E aqui nesta trama, lutando para sobreviver aos seus próprios pensamentos e falsos conceitos atribuídos, eles são mesmo como ondas: Trazem seus medos enraizados com intensidade e, inadvertidamente, se rompem com voracidade ao perder suas forças, alastrando tudo e todos consigo. Inclusive o coração da audiência, neste caso.

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Nossos pais foram criados de maneira distinta, tal como os seus próprios pais. E de geração em geração, a criação no seio familiar muitas vezes se transforma em um caminho tortuoso, esburacado, permeado por traumas jamais tratados, que acabam sendo perpetuados nas vidas de seus filhos. Em Waves, Shults aborda essa temática com honestidade, pontuando como ser pai e mãe se tornou uma tarefa cada vez mais delicada. E com a responsabilidade de ajudar seus pequenos a traçarem o resto de suas vidas, é comum que hajam as projeções e expectativas que se espera das suas crias. Só que o preço dessa imposição é custoso e uma hora ou outra essa fatura vem. O drama familiar explora esse ônus, acertando ao expor o grau de fragilidade que boa parte das famílias ao redor do mundo tenta esconder por trás de belas cortinas e persianas.

Em um mundo onde os adolescentes são cobrados de maneira sufocante, ser um jovem estudante já não é mais uma tarefa simples. Em meio às mudanças hormonais e pressões quanto ao futuro, amor, drogas, estudos e o incerto se chocam, arrastando todos ao redor. Foi assim com o jovem Tyler Williams, que viu sua breve jornada de atleta promissor ruir quando contusões e uma gravidez inesperada se transformam no pavor de ser incapaz de suprir as expectativas de seu exigente pai. Aqui, Kelvin Harrison Jr. mais uma vez se prova como o futuro do cinema, entregando uma angústia aterrorizante em sua atuação. De Luce a Waves, o jovem ator já transita no cinema independente com domínio maestral e contracena ao lado de Sterling K. Brown, seu pai fictício, com intimidade e autoridade.

Como a dinâmica mais explorada nas telonas, essa é aquela que faz o coração sangrar. Como um passo-a-passo do que não fazer às suas crianças, a relação entre pai e filho é a rachadura profunda que faz uma família inteira ser destruída. O medo de não acertar, rodeado pela dura criação de um pai que apenas passou adiante o pouco que recebeu, cria um clímax caótico e doloroso, nessa trama que aborda como a insensatez, um amor exigente, a insensibilidade e uma efêmera alienação parental podem transformar um MVP em um prisioneiro de sua própria mente. E como uma espécie de alerta, Waves é uma lição de vida didática, mostra como as pressões exageradas em um adolescente podem lhe custar a vida e nos ensina que o amor paterno precisa ser sacrificial e não um sacrifício.

Trazendo um roteiro emocional que leva a audiência para cantos profundos da alma e da mente, Waves é simbólico em toda a sua essência. Com uma direção criativa, a câmera passeia pelos sets com rapidez, garantindo uma dramaticidade muito mais profunda na captura das emoções de seus personagens. Com planos sequências que formam espirais alucinantes, o filme faz breves analogias sobre como a vida é dinâmica e como os ciclos se repetem. Trazendo uma fotografia que se destaca no noturno, luzes artificiais, cores intensas e neons se mesclam às cenas, garantindo uma imersão visual que torna a experiência cinematográfica ainda mais sinestésica. Conferindo uma profundidade na narrativa, esses artifícios se transformam em uma extensão da trama, nos absorvendo e nos tragando para complicada história da família Williams.

Delicado e sensível, Waves é uma imperiosa poesia visual, que nos parte ao meio por sua tamanha e tão genuína intensidade. Mais uma obra-prima da produtora A24, ela se consolida como um primoroso relato sobre o quão doente a nova geração de adolescentes está ficando, em virtude de seus próprios pais. Sucumbindo em complexos de inferioridade escalonados pelas redes sociais, eles desenvolvem síndrome do pânico e são submetidos às pressões que nem os adultos estão acostumados a enfrentar. E aqui nesta trama, lutando para sobreviver aos seus próprios pensamentos e falsos conceitos atribuídos, eles são mesmo como ondas: Trazem seus medos enraizados com intensidade e, inadvertidamente, se rompem com voracidade ao perder suas forças, alastrando tudo e todos consigo. Inclusive o coração da audiência, neste caso.

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