domingo , 24 novembro , 2024

Crítica | Todo o Dinheiro do Mundo – Dois filmes pelo preço de um resulta em obra irregular

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Cara de um, focinho do outro

No meu texto recente sobre The Post – A Guerra Secreta, outro indicado ao Oscar deste ano, comentei sobre a insatisfação, em especial dos jovens cinéfilos, em relação ao renomado diretor da obra, o mestre Steven Spielberg. Para muitos, Spielberg é aquele diretor de filmes burocráticos e irregulares – seus filmes mais novos. Para uma geração na qual cada vez mais o que conta é o agora, grandes nomes como Spielberg e toda a geração revolucionária da década de 1970, talvez tenham ficado defasada – tal pensamento na realidade é um pecado.

Bem, o que dizer de Ridley Scott então. Ao contrário do diretor de Tubarão e Jurassic Park, que tem entregue sua cota de filmes mornos, muitos dos últimos de Scott podem ser considerados ruins mesmo. Afinal, não existe muita defesa para Robin Hood (2010), O Conselheiro do Crime (2013), Êxodo: Deuses e Reis (2014) e Alien – Covenant (2017) – Prometheus (2012) é meu prazer culposo xodó, deixem ele em paz. É claro também, que apesar de Scott ser conhecido como “o tiozinho dos filmes ruins” pela geração dos vinte anos de idade, isso nunca irá excluir trabalhos icônicos como Alien – O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner – O Caçador de Androides (1982) de sua assinatura na história do cinema.



Como diz aquele ditado: “quem vive de passado é museu”; aqui o Sr. Museu entrega seu novo trabalho, o drama baseado em uma história real – mas altamente adulterada, como o próprio Scott faz questão de enfatizar em textos que abrem e fecham o filme. Brincadeiras a parte quanto à qualidade dos últimos filmes de Scott – já que Perdido em Marte emplacou no Oscar há pouquíssimo tempo – este é o segundo longa assinado pelo veterano em 2017 (sim, o filme foi lançado no fim do ano citado nos EUA, chegando agora para os brasileiros). Como de costume com muitos cineastas, Scott após ter entregue seu filme de entretenimento com o novo Alien, aqui lança seu filme “sério”, que não por menos emplacou nesta época de premiação, surpreendentemente chegando até o Oscar.

A trama, baseada no livro de John Pearson, com roteiro de David Scarpa (A Última Fortaleza e o remake de O Dia em que a Terra Parou), narra, não a vida, mas um momento específico da família Getty, em especial o patriarca J. Paul Getty, considerado um dos homens mais ricos deste planeta. O sujeito foi capaz de construir um império, mas não um herdeiro, já que seu filho, John Paul Getty II (papel de Andrew Buchan), nada quis com os negócios do pai e preferiu viver uma vida simples. Casado com Gail Harris, e pais do pequeno John Paul Getty III, esta família decide finalmente procurar o magnata depois de anos sem contato. Aproximados novamente, o Getty Sênior tenta passar seus ensinamentos para as crias, sob seus domínios.

Outro pulo no tempo, e encontramos Getty II viciado em drogas, vivendo num país exótico, e separado da mulher, que luta pela custódia dos filhos – já que o pai não é o melhor exemplo. No entanto, o líder dos Getty interpreta esta tentativa da desesperada mulher como uma afronta pessoal – e decide se fechar novamente de qualquer contato com Gail e seus filhos. Bom, este drama novelesco ganha aqui sua guinada e cerne da obra, quando o neto Getty III é sequestrado na Itália, e os criminosos exigem uma quantia exorbitante, por saberem exatamente de quem o jovem é parente. Daí vem o dilema do longa – o velho Getty está disposto a não entregar um centavo pelo resgate de seu querido familar, fato que o torna o tio Patinhas da vida real, e faz sua nora entrar em “parafuso”.

A verdade é que temos um filme interessante em Todo o Dinheiro do Mundo, escondido em algum lugar. Antes de continuarmos é necessário contextualizar para quem pegou este bonde andando. Caso você tenha assistido ao trailer deste filme no cinema, pode ficar confuso ao perceber que em algumas cópias temos como Getty o ator Kevin Spacey, muito maquiado para parecer mais velho (sim, estas cópias ainda estão soltas por aí, como me foi relatado recentemente por um amigo). Se você esteve escondido debaixo de uma rocha nos últimos meses, talvez não saiba que a onda de assédios sexuais expostos por muitas mulheres e alguns homens em Hollywood entregou o comportamento abusivo de diversos figurões da maior indústria do cinema, entre eles o ator duas vezes ganhador do Oscar, Kevin Spacey. O astro foi demitido do programa sensação da Netflix, House of Cards, e na rebarba substituído neste longa, o qual já havia finalizado sua participação. Aos 45 dos segundo tempo, no lugar de Spacey, o “professor” Scott escalou o veterano Christopher Plummer.

É admirável sem dúvidas o que Scott, no auge de seus 80 anos, realizou aqui, com o filme quase pronto. Para não precisar cancelar a estreia da produção, indefinidamente, o diretor resolveu substituir um de seus protagonistas, e refilmar não apenas as suas cenas, como as de Michelle Williams, que interpreta a nora Gail, e Mark Wahlberg, que vive o faz tudo Fletcher Chase, já que ambos possuem muitas cenas com Spacey/Plummer. Ou seja, sem mudar ou adiar a data de estreia prometida para a FOX, Scott, seu menino de ouro, correu contra o relógio e entregou um segundo filme, pelo preço do primeiro (ou quase). Isso é louvável – ainda mais se pensarmos que aos 80 anos muitos de nós sequer iremos querer sair da cama. E se pensarmos por este lado, o filme ganha mais pontos.

Mas a verdade é que Todo Dinheiro do Mundo é um filme irregular, que se não nos frustra tanto, ou nos deixa enfurecidos pelo desdém (isso não ocorre), soa muito como uma colcha de retalhos, um filme Frankenstein no qual a emoção necessária é perdida nas entrelinhas das refilmagens. De fato sentimos o desgaste dos atores, em especial Williams e Wahlberg, que devem ter retornado muito a contragosto para fazer tudo de novo – bem, nem tanto, já que tem ainda a história do novo salário para as refilmagens (o de Wahlberg em especial foi uma pequena fortuna, já doada pelo ator após muita reclamação devido a diferença absurda do que Williams recebeu). Há muito eu não presenciava atores sem qualquer prazer na interpretação.

Wahlberg não pode ser considerado um grande ator, mas é carismático por natureza. Aqui, encontra-se mais robótico do que de costume. E o que dizer de Williams, pobre coitada. Uma das melhores atrizes de sua geração, e uma das grandes injustiçadas pelo Oscar (são quatro indicações sem vitória), Williams está péssima, fazendo caras e bocas – numa atuação super afetada e esquisita – e sem qualquer apelo dramático (esta é a primeira mãe do cinema que não derrama uma lágrima pelo filho que pode morrer – e não, não se trata de uma personagem fria). Em defesa da atriz, foi reportado que ela precisou ser retirada às pressas do set de Venom, e terminou numa jornada dupla para estas refilmagens, o que afetou terrivelmente seu trabalho aqui, e esperamos que não tenha feito o mesmo no filme da Marvel/Sony.

Entre atuações canhestras e uma edição que tenta colar seus retalhos de uma forma bem capenga, parecendo mesmo filmes diferentes montados juntos, salvam-se dois elementos. Primeiro, os trechos envolvendo o sequestro do rapaz, no qual destaca-se o ator francês Romain Duris, no papel do criminoso “de bom coração” Cinquanta. E, obviamente, a cereja no topo deste bolo, a atuação classuda de um ator do porte de Chirstopher Plummer, que não faz menos do que esperaríamos dele. É digna de Oscar? Creio que não. De indicação? Não sei, soa mais como o tapa de luvas de pelica na cara de Spacey, que apesar de seus pecados, é igualmente um grande ator. E enquanto os fanboys pedem por edições estendidas de porcarias como Batman Vs. Superman e Liga da Justiça, eu quero ver mesmo é a edição Kevin Spacey de Todo o Dinheiro do Mundo

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Bem, o que dizer de Ridley Scott então. Ao contrário do diretor de Tubarão e Jurassic Park, que tem entregue sua cota de filmes mornos, muitos dos últimos de Scott podem ser considerados ruins mesmo. Afinal, não existe muita defesa para Robin Hood (2010), O Conselheiro do Crime (2013), Êxodo: Deuses e Reis (2014) e Alien – Covenant (2017) – Prometheus (2012) é meu prazer culposo xodó, deixem ele em paz. É claro também, que apesar de Scott ser conhecido como “o tiozinho dos filmes ruins” pela geração dos vinte anos de idade, isso nunca irá excluir trabalhos icônicos como Alien – O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner – O Caçador de Androides (1982) de sua assinatura na história do cinema.

Como diz aquele ditado: “quem vive de passado é museu”; aqui o Sr. Museu entrega seu novo trabalho, o drama baseado em uma história real – mas altamente adulterada, como o próprio Scott faz questão de enfatizar em textos que abrem e fecham o filme. Brincadeiras a parte quanto à qualidade dos últimos filmes de Scott – já que Perdido em Marte emplacou no Oscar há pouquíssimo tempo – este é o segundo longa assinado pelo veterano em 2017 (sim, o filme foi lançado no fim do ano citado nos EUA, chegando agora para os brasileiros). Como de costume com muitos cineastas, Scott após ter entregue seu filme de entretenimento com o novo Alien, aqui lança seu filme “sério”, que não por menos emplacou nesta época de premiação, surpreendentemente chegando até o Oscar.

A trama, baseada no livro de John Pearson, com roteiro de David Scarpa (A Última Fortaleza e o remake de O Dia em que a Terra Parou), narra, não a vida, mas um momento específico da família Getty, em especial o patriarca J. Paul Getty, considerado um dos homens mais ricos deste planeta. O sujeito foi capaz de construir um império, mas não um herdeiro, já que seu filho, John Paul Getty II (papel de Andrew Buchan), nada quis com os negócios do pai e preferiu viver uma vida simples. Casado com Gail Harris, e pais do pequeno John Paul Getty III, esta família decide finalmente procurar o magnata depois de anos sem contato. Aproximados novamente, o Getty Sênior tenta passar seus ensinamentos para as crias, sob seus domínios.

Outro pulo no tempo, e encontramos Getty II viciado em drogas, vivendo num país exótico, e separado da mulher, que luta pela custódia dos filhos – já que o pai não é o melhor exemplo. No entanto, o líder dos Getty interpreta esta tentativa da desesperada mulher como uma afronta pessoal – e decide se fechar novamente de qualquer contato com Gail e seus filhos. Bom, este drama novelesco ganha aqui sua guinada e cerne da obra, quando o neto Getty III é sequestrado na Itália, e os criminosos exigem uma quantia exorbitante, por saberem exatamente de quem o jovem é parente. Daí vem o dilema do longa – o velho Getty está disposto a não entregar um centavo pelo resgate de seu querido familar, fato que o torna o tio Patinhas da vida real, e faz sua nora entrar em “parafuso”.

A verdade é que temos um filme interessante em Todo o Dinheiro do Mundo, escondido em algum lugar. Antes de continuarmos é necessário contextualizar para quem pegou este bonde andando. Caso você tenha assistido ao trailer deste filme no cinema, pode ficar confuso ao perceber que em algumas cópias temos como Getty o ator Kevin Spacey, muito maquiado para parecer mais velho (sim, estas cópias ainda estão soltas por aí, como me foi relatado recentemente por um amigo). Se você esteve escondido debaixo de uma rocha nos últimos meses, talvez não saiba que a onda de assédios sexuais expostos por muitas mulheres e alguns homens em Hollywood entregou o comportamento abusivo de diversos figurões da maior indústria do cinema, entre eles o ator duas vezes ganhador do Oscar, Kevin Spacey. O astro foi demitido do programa sensação da Netflix, House of Cards, e na rebarba substituído neste longa, o qual já havia finalizado sua participação. Aos 45 dos segundo tempo, no lugar de Spacey, o “professor” Scott escalou o veterano Christopher Plummer.

É admirável sem dúvidas o que Scott, no auge de seus 80 anos, realizou aqui, com o filme quase pronto. Para não precisar cancelar a estreia da produção, indefinidamente, o diretor resolveu substituir um de seus protagonistas, e refilmar não apenas as suas cenas, como as de Michelle Williams, que interpreta a nora Gail, e Mark Wahlberg, que vive o faz tudo Fletcher Chase, já que ambos possuem muitas cenas com Spacey/Plummer. Ou seja, sem mudar ou adiar a data de estreia prometida para a FOX, Scott, seu menino de ouro, correu contra o relógio e entregou um segundo filme, pelo preço do primeiro (ou quase). Isso é louvável – ainda mais se pensarmos que aos 80 anos muitos de nós sequer iremos querer sair da cama. E se pensarmos por este lado, o filme ganha mais pontos.

Mas a verdade é que Todo Dinheiro do Mundo é um filme irregular, que se não nos frustra tanto, ou nos deixa enfurecidos pelo desdém (isso não ocorre), soa muito como uma colcha de retalhos, um filme Frankenstein no qual a emoção necessária é perdida nas entrelinhas das refilmagens. De fato sentimos o desgaste dos atores, em especial Williams e Wahlberg, que devem ter retornado muito a contragosto para fazer tudo de novo – bem, nem tanto, já que tem ainda a história do novo salário para as refilmagens (o de Wahlberg em especial foi uma pequena fortuna, já doada pelo ator após muita reclamação devido a diferença absurda do que Williams recebeu). Há muito eu não presenciava atores sem qualquer prazer na interpretação.

Wahlberg não pode ser considerado um grande ator, mas é carismático por natureza. Aqui, encontra-se mais robótico do que de costume. E o que dizer de Williams, pobre coitada. Uma das melhores atrizes de sua geração, e uma das grandes injustiçadas pelo Oscar (são quatro indicações sem vitória), Williams está péssima, fazendo caras e bocas – numa atuação super afetada e esquisita – e sem qualquer apelo dramático (esta é a primeira mãe do cinema que não derrama uma lágrima pelo filho que pode morrer – e não, não se trata de uma personagem fria). Em defesa da atriz, foi reportado que ela precisou ser retirada às pressas do set de Venom, e terminou numa jornada dupla para estas refilmagens, o que afetou terrivelmente seu trabalho aqui, e esperamos que não tenha feito o mesmo no filme da Marvel/Sony.

Entre atuações canhestras e uma edição que tenta colar seus retalhos de uma forma bem capenga, parecendo mesmo filmes diferentes montados juntos, salvam-se dois elementos. Primeiro, os trechos envolvendo o sequestro do rapaz, no qual destaca-se o ator francês Romain Duris, no papel do criminoso “de bom coração” Cinquanta. E, obviamente, a cereja no topo deste bolo, a atuação classuda de um ator do porte de Chirstopher Plummer, que não faz menos do que esperaríamos dele. É digna de Oscar? Creio que não. De indicação? Não sei, soa mais como o tapa de luvas de pelica na cara de Spacey, que apesar de seus pecados, é igualmente um grande ator. E enquanto os fanboys pedem por edições estendidas de porcarias como Batman Vs. Superman e Liga da Justiça, eu quero ver mesmo é a edição Kevin Spacey de Todo o Dinheiro do Mundo

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