terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica 2 | The Post: A Guerra Secreta – A majestosa nova produção de Steven Spielberg

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Segredos Revelados

É curioso como a maioria dos jovens é o retrato de seu tempo. E com os jovens cinéfilos é a mesma coisa. A maioria acompanha o momento no qual possui idade o suficiente para ter discernimento opinativo. Por exemplo, esta geração jamais saberá a importância de astros da ação como Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone para a origem do cinema entretimento na década de 1980. Sua referência é Dwayne Johnson, Vin Diesel e Chris Pratt. Para eles, Robert De Niro e Al Pacino são tiozinhos que foram bons no passado (é o que ouvem dizer) e agora só fazem filmes ruins. Outra nova “verdade” para esta geração é não gostar muito do cinema de Steven Spielberg.

Faz parte do trabalho do crítico, do jornalista e de quem trabalha com cinema, analisar o público também. Olhar para a nova geração. E tenho feito exatamente isso, percebendo de forma entristecida que a turminha na faixa de seus vinte e poucos anos não dá muita trela para o pai de E.T. – O Extraterrestre (1982). Segundo os mesmos, o cinema de Spielberg é exacerbação do patriotismo norte-americano, e de sua pieguice. E longe destes jovens super descolados serem considerados ou gostarem de coisas bregas ou piegas. Mal sabem eles que o diretor enfrentou esta incredulidade sobre seu talento e sua qualidade ingênua desde o início – para maiores informações leia nossa crítica sobre Spielberg, documentário sobre esta verdadeira lenda do cinema.

Para quem gosta de cinema de verdade, e não apenas seguir a moda do momento, Spielberg é uma figura obrigatória. Mas também não deixarei o lado fã afetar o lado profissional isento, e sim, o diretor anda cambaleando nos últimos tempos. Quem nunca fez que atire a primeira pedra. Até mesmo ícones da sétima arte já entregaram suas fases malditas. Não é novidade para o diretor também.

Bom, com o novo The Post – A Guerra Secreta há de se pensar que a fase, digamos, morna deste grande diretor já ficou para trás. Não é exagero afirmar que seu filme mais recente abrilhanta tanto as telas que remete a seus melhores trabalhos no cinema. The Post é Spielberg com vontade, disparando em todos os cilindros.

De começo, temos o sensacional roteiro de Josh Singer e Liz Hannah. O primeiro é o escritor responsável pelo texto de Spotlight – Segredos Revelados (2015), que levou o Oscar de melhor filme e rendeu para o roteirista o mesmo prêmio. Ou seja, vê-lo aqui de novo assinando um trabalho deste porte, sobre o mesmo tema, não é surpresa. Já Hannah é uma iniciante, mas demonstra talento assombroso. Chego ao cúmulo de afirmar que a dupla se supera, em relação ao citado vencedor do Oscar – aqui com mais destaque para seus intérpretes, em diálogos que causam arrepios. Sim, momentos nos quais o visual conta a história são muito bons, mas Hollywood tem como cerne seus diálogos memoráveis. Isso é cinema na sua mais pura forma.

Baseado numa história real, The Post narra a trajetória do Washington Post, tido como um jornal de bairro e um negócio de família, até se tornar um dos veículos mais importantes e relevantes do mundo. O divisor de águas para esta empresa é exatamente o evento retratado aqui no longa de Spielberg: a publicação de documentos secretos do governo, na era Nixon, que afirmavam o engodo da Guerra do Vietnã – e tudo o que cercou esta epopeia jornalística (informantes, grande pressão do governo, alianças, traição).

Em seu núcleo, The Post é sobre a liberdade de expressão da imprensa, uma das leis sob as quais a América foi fundada. E a vontade de Spielberg em querer relatar esta história específica, hoje, aos 71 anos de idade, mostra que o cineasta continua antenado com questões extremamente urgentes e fervorosas. Tudo bem que The Post se passa na década de 1970, mas qualquer um pode enxergar o reflexo com os tempos atuais, onde ainda se briga pelo direito de expressão, em especial quando o dedo é colocado na ferida de poderosos, de governantes, que ainda cismam em se achar intocáveis. E isso não é uma questão norte-americana, mas mundial. Um país como o nosso sofre os mesmos dilemas, é claro que elevados a uma maior potência.

É justamente por isso que obras como The Post são tão importantes. Não se trata apenas de um filme, mas de um recado. Discute o papel, as responsabilidades, o compromisso, e as obrigações de uma das profissões mais antigas, honradas e, nos últimos tempos, malditas de todas, o jornalismo. A integridade e a imparcialidade almejadas nem sempre podem se manter longe da corrupção, mas é preciso. E estes tópicos são todos adereçados no longa, num diálogo entre a herdeira do Post, Kay Graham, e seu editor de confiança Ben Bradlee. Neste momento específico, os dois engajam numa discussão sobre comprometimento e vista grossa.

Ah sim, acho que a esta altura seria bom falar sobre alguns novatos, em início de carreira, que dão tudo de si em seus papeis. Meryl Streep é Graham, enquanto Tom Hanks vive Bradlee. E para não rasgar tanta seda, vale dizer apenas que ambos estão ligados numa voltagem que há muito tempo não víamos – mesmo vindo de figuras renomadas como eles. E isso já diz tudo. Não é à toa que Streep saiu com (mais uma, a sua 21ª) indicação ao Oscar, e Hanks merecia.

Devo adereçar também a mão firme de Spielberg, dominando a direção como no início de carreira. Ele “brinca” com planos sequência, com estética (em especial na cenas em que Streep adentra o “mundo dos homens”) e narrativa (mesclando a Guerra do Vietnã com redações jornalísticas), além de deixar, com bastante espaço, seus atores fazerem o que sabem de melhor. As performances (e não apenas da dupla principal, mas de gente como Bob Odenkirk, Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Alison Brie, Sarah Paulson, Carrie Coon e Jesse Plemons) são revigorantes.

Acima de tudo, The Post – A Guerra Secreta é Spielberg sério, adulto e classudo, deixando claro que até diretores de seu porte continuam evoluindo mesmo quando achamos que já deram tudo que tinham. Vida longa ao rei de Hollywood. E que venham mais entregas desta magnitude.

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É curioso como a maioria dos jovens é o retrato de seu tempo. E com os jovens cinéfilos é a mesma coisa. A maioria acompanha o momento no qual possui idade o suficiente para ter discernimento opinativo. Por exemplo, esta geração jamais saberá a importância de astros da ação como Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone para a origem do cinema entretimento na década de 1980. Sua referência é Dwayne Johnson, Vin Diesel e Chris Pratt. Para eles, Robert De Niro e Al Pacino são tiozinhos que foram bons no passado (é o que ouvem dizer) e agora só fazem filmes ruins. Outra nova “verdade” para esta geração é não gostar muito do cinema de Steven Spielberg.

Faz parte do trabalho do crítico, do jornalista e de quem trabalha com cinema, analisar o público também. Olhar para a nova geração. E tenho feito exatamente isso, percebendo de forma entristecida que a turminha na faixa de seus vinte e poucos anos não dá muita trela para o pai de E.T. – O Extraterrestre (1982). Segundo os mesmos, o cinema de Spielberg é exacerbação do patriotismo norte-americano, e de sua pieguice. E longe destes jovens super descolados serem considerados ou gostarem de coisas bregas ou piegas. Mal sabem eles que o diretor enfrentou esta incredulidade sobre seu talento e sua qualidade ingênua desde o início – para maiores informações leia nossa crítica sobre Spielberg, documentário sobre esta verdadeira lenda do cinema.

Para quem gosta de cinema de verdade, e não apenas seguir a moda do momento, Spielberg é uma figura obrigatória. Mas também não deixarei o lado fã afetar o lado profissional isento, e sim, o diretor anda cambaleando nos últimos tempos. Quem nunca fez que atire a primeira pedra. Até mesmo ícones da sétima arte já entregaram suas fases malditas. Não é novidade para o diretor também.

Bom, com o novo The Post – A Guerra Secreta há de se pensar que a fase, digamos, morna deste grande diretor já ficou para trás. Não é exagero afirmar que seu filme mais recente abrilhanta tanto as telas que remete a seus melhores trabalhos no cinema. The Post é Spielberg com vontade, disparando em todos os cilindros.

De começo, temos o sensacional roteiro de Josh Singer e Liz Hannah. O primeiro é o escritor responsável pelo texto de Spotlight – Segredos Revelados (2015), que levou o Oscar de melhor filme e rendeu para o roteirista o mesmo prêmio. Ou seja, vê-lo aqui de novo assinando um trabalho deste porte, sobre o mesmo tema, não é surpresa. Já Hannah é uma iniciante, mas demonstra talento assombroso. Chego ao cúmulo de afirmar que a dupla se supera, em relação ao citado vencedor do Oscar – aqui com mais destaque para seus intérpretes, em diálogos que causam arrepios. Sim, momentos nos quais o visual conta a história são muito bons, mas Hollywood tem como cerne seus diálogos memoráveis. Isso é cinema na sua mais pura forma.

Baseado numa história real, The Post narra a trajetória do Washington Post, tido como um jornal de bairro e um negócio de família, até se tornar um dos veículos mais importantes e relevantes do mundo. O divisor de águas para esta empresa é exatamente o evento retratado aqui no longa de Spielberg: a publicação de documentos secretos do governo, na era Nixon, que afirmavam o engodo da Guerra do Vietnã – e tudo o que cercou esta epopeia jornalística (informantes, grande pressão do governo, alianças, traição).

Em seu núcleo, The Post é sobre a liberdade de expressão da imprensa, uma das leis sob as quais a América foi fundada. E a vontade de Spielberg em querer relatar esta história específica, hoje, aos 71 anos de idade, mostra que o cineasta continua antenado com questões extremamente urgentes e fervorosas. Tudo bem que The Post se passa na década de 1970, mas qualquer um pode enxergar o reflexo com os tempos atuais, onde ainda se briga pelo direito de expressão, em especial quando o dedo é colocado na ferida de poderosos, de governantes, que ainda cismam em se achar intocáveis. E isso não é uma questão norte-americana, mas mundial. Um país como o nosso sofre os mesmos dilemas, é claro que elevados a uma maior potência.

É justamente por isso que obras como The Post são tão importantes. Não se trata apenas de um filme, mas de um recado. Discute o papel, as responsabilidades, o compromisso, e as obrigações de uma das profissões mais antigas, honradas e, nos últimos tempos, malditas de todas, o jornalismo. A integridade e a imparcialidade almejadas nem sempre podem se manter longe da corrupção, mas é preciso. E estes tópicos são todos adereçados no longa, num diálogo entre a herdeira do Post, Kay Graham, e seu editor de confiança Ben Bradlee. Neste momento específico, os dois engajam numa discussão sobre comprometimento e vista grossa.

Ah sim, acho que a esta altura seria bom falar sobre alguns novatos, em início de carreira, que dão tudo de si em seus papeis. Meryl Streep é Graham, enquanto Tom Hanks vive Bradlee. E para não rasgar tanta seda, vale dizer apenas que ambos estão ligados numa voltagem que há muito tempo não víamos – mesmo vindo de figuras renomadas como eles. E isso já diz tudo. Não é à toa que Streep saiu com (mais uma, a sua 21ª) indicação ao Oscar, e Hanks merecia.

Devo adereçar também a mão firme de Spielberg, dominando a direção como no início de carreira. Ele “brinca” com planos sequência, com estética (em especial na cenas em que Streep adentra o “mundo dos homens”) e narrativa (mesclando a Guerra do Vietnã com redações jornalísticas), além de deixar, com bastante espaço, seus atores fazerem o que sabem de melhor. As performances (e não apenas da dupla principal, mas de gente como Bob Odenkirk, Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Alison Brie, Sarah Paulson, Carrie Coon e Jesse Plemons) são revigorantes.

Acima de tudo, The Post – A Guerra Secreta é Spielberg sério, adulto e classudo, deixando claro que até diretores de seu porte continuam evoluindo mesmo quando achamos que já deram tudo que tinham. Vida longa ao rei de Hollywood. E que venham mais entregas desta magnitude.

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