sábado, dezembro 27, 2025

Crítica | Tudo e Todas as Coisas – champagne para criança, ou seja, água com açúcar

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Mais um lacrimoso conto teen sobre doença (ou não)

Atualmente, dois tipos de gêneros literários fazem a alegria do público infanto-juvenil – em especial as meninas: ficção científica sobre futuros distópicos e romances sobre doença e morte. O primeiro, sempre regido por uma jovem protagonista feminina e forte, cuja jornada do herói (ou heroína) consiste na “escolhida” desafiando um governo totalitário vigente, com o início de uma revolução. Foi assim com Jogos Vorazes (2012, 2013, 2014, 2015) e Divergente (2014, 2015, 2016 -), os mais conhecidos exemplares do subgênero.

O segundo, que é onde se encaixa este Tudo e Todas as Coisas, diz respeito a um romance, quase impossível, nascido entre jovens “quebrados”, com a promessa de uma linda relação, freada pela crueldade da vida. No quesito encaixam-se A Culpa é das Estrelas (2014), Se Eu Ficar (2014) e até obras independentes voltadas para uma parcela menor do público, como Eu, Você e a Garota que Vai Morrer (2015). Este ano, tivemos o eficiente Antes que Eu Vá, que tenta dar uma remodelada na estrutura, colocando o romance em segundo plano, criando um mecanismo interessante em sua narrativa e falando de assuntos sérios como bullying (e subvertendo o esperado do tema).

Tudo e Todas as Coisas é baseado no livro de Nicola Yoon, e apresenta Maddy Whititier (Amandla Stenberg), uma jovem de 18 anos, confinada em casa, que nunca conheceu o mundo. O motivo, você provavelmente já deve ter acertado, sendo este mais um romance adolescente sobre doenças. Ela possui uma grave e rara condição: seu sistema imunológico não possui defesas, assim podendo morrer caso adquira uma gripe ou febre. Para evitar, sua mãe, a médica Pauline (Anika Noni Rose), elaborou uma verdadeira fortaleza em casa, com direito a uma câmara de desinfecção assim que se passa da porta. A casa é indefectível, e a menina possui no repertório do armário apenas vestimentas brancas, dando o ar de esterilidade almejada – percebemos isso na mudança das cores de suas roupas, quando a personagem evolui.



Desta forma, a existência da menina está fadada à espera da morte, conhecendo o mundo através da internet e livros, e se relacionando apenas com a mãe, a enfermeira Carla (Ana de la Reguera) e sua filha Rosa (Danube Hermosillo). Para termos uma história, chegam à casa ao lado o jovem Olly Bright (Nick Robinson) e sua família. Obviamente, a química, mesmo que à distância, é combustiva, e logo a menina se depara com sentimentos novos, que julgava impossíveis. O mistério cercando a vizinha cativa, por outro lado, é o estopim necessário para despertar o interesse imediato do jovem skatista, com traços de rebeldia, como todo bom adolescente precisa – algumas coisas nunca mudam.

Obviamente também, os dois estarão decididos a entortar as regras para, primeiro, o contato, e depois, saírem em busca da felicidade. Tudo e todas as Coisas é doce e cativante o suficiente. Não por menos, possui o roteiro adaptado de um especialista no assunto, J. Mills Goodloe, cujo currículo fazem parte obras como O Melhor de Mim (2014), baseado no romance do açucarado Nicholas Sparks, e A Incrível História de Adaline (2015), um dos filmes mais adoráveis de anos recentes. Aqui, somado à direção da jovem Stella Meghie, o filme segue por uma linearidade de eventos, bem explorados e estabelecidos, mesmo que caminhem para certa previsibilidade.

O que chama atenção mesmo é o carisma dos jovens protagonistas. Nick Robinson (Jurassic World) dá seu recado e não deixa a intenção falhar. Mas quem se destaca mesmo no quesito é Amandla Stenberg – a Rue de Jogos Vorazes (2012). Crescidinha, agora com 18 anos, a atriz desabrocha em uma bela mulher, e seu nível de intensidade performática a segue. Compramos seu drama, suas ansiedades e aspirações. Além disso, para os que gostam de se sentir representados e dão ênfase a tal representatividade, temos um jovem casal inter-racial à frente de uma produção mainstream de um grande estúdio (a Warner). Muito bem. O fato, no entanto, não é questão e não chega a ser mencionado uma vez sequer. Assim que deve ser. Natural e sem tabus.

Como nota de desfecho, acima eu havia apontado certa previsibilidade na história. Me refiro a sua estrutura, já que o filme guarda uma curiosa, dramática e trágica reviravolta, que me remeteu instantaneamente a um caso verídico ocorrido nos EUA há algum tempo. Me pergunto se Yoon teve tal ocorrido como base de ideia.

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Pablo R. Bazarello
Crítico, cinéfilo dos anos 80, membro da ACCRJ, natural do Rio de Janeiro. Apaixonado por cinema e tudo relacionado aos anos 80 e 90. Cinema é a maior diversão. A arte é o que faz a vida valer a pena. 15 anos na estrada do CinePOP e contando...
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