sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Um Ato de Esperança – Emma Thompson brilha em drama sobre religião versus ciência

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Deus Não Está Morto

Um Ato de Esperança (The Children Act, 2017) funciona em três âmbitos de sua narrativa. Em dois deles, exibe ótima forma. Chegando ao Brasil com quase dois anos de atraso em relação à sua estreia no Festival de Toronto, o longa britânico – com coprodução dos EUA – tem como chamariz a presença da estrela Emma Thompson, veterana de uma carreira de 37 anos, com 84 créditos como atriz e vencedora de dois Oscar.

O filme é baseado no romance de Ian McEwan (autor de Desejo e Reparação), que discute em seu âmago o polêmico tema atemporal da ciência versus religião. Dirigido por Richard Eyre (do fervoroso Notas Sobre um Escândalo), o longa segue o exaustivo trabalho da juíza britânica Fiona Maye (Thompson), cujos casos em sua maioria envolvem crianças, procedimentos médicos e seus pais ou familiares contrários a tais intervenções.



Quando o filme começa, a magistrada se depara com o caso de gêmeos siameses, que precisam ser separados para que ao menos um deles tenha chance de sobreviver. Os pais dos bebês, religiosos incisivos, são completamente contra a operação – afirmando que o ato consistiria em assassinato, já que estaria condenando imediatamente um deles. Estes são os tipos de problemas com os quais a protagonista precisa lidar no seu dia a dia.

Como contraponto desta rotina, Maye não possui filhos – o que torna seus julgamentos mais racionais, menos passionais, mas não completamente desprovidos de emoção. Em casa – na vida pessoal – outra questão pesa sobre a magistrada: o casamento com o personagem do sempre eficiente Stanley Tucci (indicado ao Oscar) caiu na rotina e esvaiu qualquer intimidade. O sujeito beira o desespero, buscando de toda forma reacender a chama. Mas para esta mulher de fibra, o trabalho vem sempre em primeiro lugar.

Com o lançamento recente de Suprema (On the Basis of Sex), protagonizado por Felicity Jones, uma curiosa dobradinha nasce entre os dois longas. Ruth Bader Ginsburg foi a responsável por abrir portas para que mulheres como a ficcional juíza Maye pudesse ocupar o cargo que desempenha. Anos mais tarde, os direitos podem não estar iguais, mas um longo caminho foi percorrido – e com ele as mazelas do workaholic, em geral associados a problemas na vida pessoal.

É bom ver uma veterana do nível de Emma Thompson receber de presente um papel como este, no qual pode explorar intensamente sua exímia abrangência performática, carregando uma produção de renome – que assim como Suprema, se segura muito no texto e atuações, como num espetáculo teatral. Seguindo de perto, Tucci exibe boa química com a colega, e o trio principal tem como complemento o empenhado jovem Fionn Whitehead – protagonista de Dunkirk (2017) e Bandersnatch, da série Black Mirror (2018).

Suprema e Um Ato de Esperança precisam ser reverenciados como exemplares do cinema adulto mainstream (mirado ao grande público), que empodera suas protagonistas, mesmo que nem todas as peças estejam no lugar. Ambos os filmes soam como produções para a TV, por exemplo, no que diz respeito à sua forma pouco ousada e tradicional de se contar uma história.

O núcleo desta trama se concentra no caso de um rapaz (Whitehead), vindo de família de Testemunhas de Jeová, que necessita de transfusão de sangue para sobreviver – o que sua fé é estritamente contra. Por ser menor de idade, seus pais decidem por ele, mas o Estado pode intervir – na forma da juíza. Um Ato de Esperança tem muitas ideias boas a serem dissecadas e discutidas, e faz questão de levantar tópicos polêmicos sem dar respostas fáceis.

No terceiro ato, porém, adentra um território escorregadio de sua história, ao focar num comportamento obsessivo do rapaz – o que de um ponto de vista psicológico pode fazer todo sentido. Talvez tenha faltado mais ousadia ao produto final, como elementos técnicos mais pulsantes para que o longa verdadeiramente se destacasse. Como resultado, temos uma obra dramática interessante e digna, mas pouco memorável.

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O filme é baseado no romance de Ian McEwan (autor de Desejo e Reparação), que discute em seu âmago o polêmico tema atemporal da ciência versus religião. Dirigido por Richard Eyre (do fervoroso Notas Sobre um Escândalo), o longa segue o exaustivo trabalho da juíza britânica Fiona Maye (Thompson), cujos casos em sua maioria envolvem crianças, procedimentos médicos e seus pais ou familiares contrários a tais intervenções.

Quando o filme começa, a magistrada se depara com o caso de gêmeos siameses, que precisam ser separados para que ao menos um deles tenha chance de sobreviver. Os pais dos bebês, religiosos incisivos, são completamente contra a operação – afirmando que o ato consistiria em assassinato, já que estaria condenando imediatamente um deles. Estes são os tipos de problemas com os quais a protagonista precisa lidar no seu dia a dia.

Como contraponto desta rotina, Maye não possui filhos – o que torna seus julgamentos mais racionais, menos passionais, mas não completamente desprovidos de emoção. Em casa – na vida pessoal – outra questão pesa sobre a magistrada: o casamento com o personagem do sempre eficiente Stanley Tucci (indicado ao Oscar) caiu na rotina e esvaiu qualquer intimidade. O sujeito beira o desespero, buscando de toda forma reacender a chama. Mas para esta mulher de fibra, o trabalho vem sempre em primeiro lugar.

Com o lançamento recente de Suprema (On the Basis of Sex), protagonizado por Felicity Jones, uma curiosa dobradinha nasce entre os dois longas. Ruth Bader Ginsburg foi a responsável por abrir portas para que mulheres como a ficcional juíza Maye pudesse ocupar o cargo que desempenha. Anos mais tarde, os direitos podem não estar iguais, mas um longo caminho foi percorrido – e com ele as mazelas do workaholic, em geral associados a problemas na vida pessoal.

É bom ver uma veterana do nível de Emma Thompson receber de presente um papel como este, no qual pode explorar intensamente sua exímia abrangência performática, carregando uma produção de renome – que assim como Suprema, se segura muito no texto e atuações, como num espetáculo teatral. Seguindo de perto, Tucci exibe boa química com a colega, e o trio principal tem como complemento o empenhado jovem Fionn Whitehead – protagonista de Dunkirk (2017) e Bandersnatch, da série Black Mirror (2018).

Suprema e Um Ato de Esperança precisam ser reverenciados como exemplares do cinema adulto mainstream (mirado ao grande público), que empodera suas protagonistas, mesmo que nem todas as peças estejam no lugar. Ambos os filmes soam como produções para a TV, por exemplo, no que diz respeito à sua forma pouco ousada e tradicional de se contar uma história.

O núcleo desta trama se concentra no caso de um rapaz (Whitehead), vindo de família de Testemunhas de Jeová, que necessita de transfusão de sangue para sobreviver – o que sua fé é estritamente contra. Por ser menor de idade, seus pais decidem por ele, mas o Estado pode intervir – na forma da juíza. Um Ato de Esperança tem muitas ideias boas a serem dissecadas e discutidas, e faz questão de levantar tópicos polêmicos sem dar respostas fáceis.

No terceiro ato, porém, adentra um território escorregadio de sua história, ao focar num comportamento obsessivo do rapaz – o que de um ponto de vista psicológico pode fazer todo sentido. Talvez tenha faltado mais ousadia ao produto final, como elementos técnicos mais pulsantes para que o longa verdadeiramente se destacasse. Como resultado, temos uma obra dramática interessante e digna, mas pouco memorável.

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