Florian Zeller viu sua estreante carreira no cinema independente migrar rapidamente para os holofotes de Hollywood ao apresentar para o público, nos pequenos palcos do Festival de Sundance 2020, o aclamado drama Meu Pai. Até o fim daquele ano, ele veria sua peça francesa se transformar em uma catártica experiência cinematográfica que nos daria a melhor atuação de Anthony Hopkins, no auge de seus 83 anos. Uma estatueta do Oscar depois e ele retorna com Um Filho, segundo capítulo de sua trilogia de obras teatrais – que se encerra com ‘The Mother’, e que acompanha a luta de pais divorciados cujo filho único sofre de depressão.
Seguindo a mesma premissa que tanto nos encantou em Meu Pai, Um Filho era a grande promessa de Zeller para a temporada de premiações de 2023. Dessa vez mundialmente lançado sob a luzes brilhantes do Festival de Toronto de 2022, o cineasta se apoiou nos complexos dramas familiares de um lar desfeito para convidar a audiência a uma profunda reflexão sobre perda, dor e o vazio que apenas aqueles que venceram e ainda vencem diariamente a depressão saberiam explicar. Mas ainda que o drama coescriro pelo francês e por Christopher Hampton tenha boas intenções, a má execução torna o longa esquecível, apagado e ofuscado pelo brilhantismo de seu antecessor.
E é inegável a comparação entre ambos os filmes, exatamente por sua ligação congênita. Enquanto Meu Pai une seu roteiro a um delicado processo criativo de design de produção – que se incorpora à trama como um personagem adicional, Um Filho é um filme sem identidade visual. Com uma direção bela, mas um tanto comum, e uma produção técnica tão básica que nada de substancial entrega para a audiência, o longa passa diante dos nossos olhos como a sombra do que de fato poderia ter sido. Pouco profundo na abordagem da depressão e simplista demais em seus questionamentos, ele apela para o sentimentalismo, a fim de extrair algumas lágrimas a partir dos constantes confrontos de personalidade entre os personagens de Hugh Jackman, Laura Dern, Vanessa Kirby e Zen McGrath.
Diante de tudo isso, a falta de carisma e sensibilidade dos papéis principais os tornam bidimensionais e pouco identificáveis. E ao final de suas pouco mais de duas horas de duração do filme, ainda que as lágrimas percorram nossos olhos, saímos da sessão com a sensação de um enorme vazio. E o elenco tenta. Jackman e Dern são duas forças talentosíssimas que tentam extrair o melhor de seus personagens que, sempre em lados opostos, às vezes parecem caricaturas forçadas de divórcios rancorosos. Com pouca profundidade na construção dos protagonistas e uma dose exagerada de melodrama familiar, Um Filho é reduzido a um protótipo de filme do canal Lifetime, cheio de excessos e pouca substância.
Se esquivando da possibilidade de realmente aprofundar o debate sobre depressão, o drama perde a oportunidade de sair da zona de clichês hollywoodianos batidos e acaba não agregando tanto à discussão – ao contrário do impecável Meu Pai, que leva a audiência por uma catártica epifania sobre velhice, demência e o inevitável fim da vida. Mas com uma certa delicadeza que consegue nos impactar em alguns momentos, o filme não beira o total desperdício e pode facilmente se conectar com os corações naturalmente ultra sensíveis e sentimentais. Mas sempre ficando no meio do caminho, Um Filho é infelizmente apenas uma apagada lembrança de um belíssimo trabalho que já sabemos que Florian Zeller é capaz de nos entregar.
Filme assistido no Festival de Toronto