quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Um Monstro no Caminho – Terror/drama familiar elogiado estreia na HBO

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Quem é o verdadeiro monstro?

No cinema independente norte-americano é onde se encontra a verdadeira fonte de ideias originais. Não é por menos que a maioria dos diretores consagrados começam assim, vindo de baixo, em produções sem muitos recursos, mas lotadas de ideias. É a fome de querer deixar sua marca. Outros diretores seguem por este caminho ao longo da carreira, sem se corromperem pelo cinema mainstream, cenário onde muitas vezes suas vozes são caladas – ou diminuídas.

É exatamente o caso com este Um Monstro no Caminho (The Monster no título original), filme independente que mistura de forma satisfatória um drama familiar estarrecedor, daqueles dignos de prêmios, com o cinema fantástico de monstros – o que garante o ânimo dos aficionados. O filme infelizmente não passou por nossas salas de cinema no Brasil e agora aporta diretamente nos canais da rede HBO.



Não por menos temos um especialista no gênero atrás das câmeras, o diretor Bryan Bertino. O sujeito estreou na direção com Os Estranhos (2008), suspense com Liv Tyler, que virou cult e gerou uma continuação tardia – programada para este ano, e que contará com o roteiro de Bertino, mas não a direção.

Em Um Monstro no Caminho, temos um dos melhores desempenhos da carreira da jovem Zoe Kazan, neta do icônico e controverso cineasta Elia Kazan, e que ganhou os holofotes novamente nesta época de premiação com o elogiado Doentes de Amor. Bem, ainda não conferi a citada comédia dramática, mas posso garantir que Kazan defende uma performance e personagem únicos neste terror. Aqui ela vive Kathy, uma jovem mãe nada exemplar para a pequena Lizzy. Drogada, alcoólatra e uma antena para relacionamentos abusivos, esta protagonista muito disfuncional está a um passo de uma tragédia, ou que sua filha lhe seja tirada por algum órgão responsável.

Para esta dinâmica desequilibrada funcionar era necessário uma atriz mirim que fizesse um bom jogo com Kazan, e é seguro afirmar que a produção a encontrou com Ella Ballentine – e que ótimo ano para atrizes mirins, entre este filme, Logan e Projeto Flórida. Aqui, a filha constantemente precisa ser a mãe e fazer papel do adulto responsável, já que sua progenitora na maioria das vezes está caída no banheiro, perto da privada, ou desacordada em qualquer lugar da casa. A relação abusiva é de dar nos nervos, e a veracidade das cenas, totalmente levadas de forma crível como num drama que busca prêmios, impressiona. Kazan é a protagonista, mas é também uma das personagens mais desagradáveis e odiosas do ano no cinema.

Bem, mas obviamente teremos uma guinada nesta trama, afinal este ainda é um filme de terror. Numa noite, na qual a mãe leva a filha para ficar com o pai, correndo o risco de não voltar mais para viver com ela, seu carro sai da estrada ao atropelar um lobo. Ferida, com o braço quebrado, a mãe consegue chamar ajuda pelo celular e as duas esperam socorro mecânico e de uma ambulância. Aos poucos mãe e filha começam a perceber que algo as espreita nesta estrada, cercada de mata dos dois lados. E sua revelação – que não irei estragar aqui – é algo, bem… monstruoso.

Com um roteiro digno de Tarantino em Um Drink no Inferno, Um Monstro no Caminho acerta ao mesclar de forma talentosa dois gêneros difíceis. E quem merece elogios aqui é justamente o roteirista e diretor Bertino. O jovem cineasta sabe que qualquer filme de terror funciona melhor quando cercando tudo são criados bons personagens, com desenvolvimento detalhado. Justamente por isso, o cineasta dedica a primeira metade do seu filme para explorar quem são essas duas pessoas, mãe e filha, e seu relacionamento pra lá de problemático. Sentimos pena da garota e raiva da mãe. A intensidade dramática é a pista que nos transforma em joguete nas mãos do talentoso artista, que antes de atear fogo, certifica-se de que a gasolina foi bem jogada.

Já na segunda metade, Bertino subverte tudo, jogando as personagens num cenário ainda pior do que seu cotidiano no dia a dia. Se as duas achavam que suas vidas eram ruins, espere para ver o que o diretor armou para elas. O novo desafio a ser superado traz a união das protagonistas, que agora precisam juntar forças, tendo apenas uma a outra para confiar. No segundo trecho, o diretor e o longa entregam exatamente o que você quer, adrenalina e tensão até não poder mais, e momentos viscerais – onde Bertino explora ao máximo o que seu orçamento pode oferecer, escondendo detalhes e mostrando o que pode. O resultado acerta nos dois âmbitos, cria um bom drama familiar impactante, e entrega um filme de monstro corajoso e criativo.

É claro também que aqui podem ser encontradas diversas analogias, o que torna o sabor ainda mais especial. O monstro é apenas um reflexo do real monstro, a personagem de Kazan. E toda esta história pode ser vista como o desafio de superação da pequena Lizzy. O desfecho dúbio narrado pela própria abre possibilidades para tais interpretações. Com atuações de primeira, bons efeitos práticos, uma narrativa ágil e uma mescla entre gêneros que poucos conseguem equilibrar, Um Monstro no Caminho é um dos melhores exemplares de terror do ano.

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É exatamente o caso com este Um Monstro no Caminho (The Monster no título original), filme independente que mistura de forma satisfatória um drama familiar estarrecedor, daqueles dignos de prêmios, com o cinema fantástico de monstros – o que garante o ânimo dos aficionados. O filme infelizmente não passou por nossas salas de cinema no Brasil e agora aporta diretamente nos canais da rede HBO.

Não por menos temos um especialista no gênero atrás das câmeras, o diretor Bryan Bertino. O sujeito estreou na direção com Os Estranhos (2008), suspense com Liv Tyler, que virou cult e gerou uma continuação tardia – programada para este ano, e que contará com o roteiro de Bertino, mas não a direção.

Em Um Monstro no Caminho, temos um dos melhores desempenhos da carreira da jovem Zoe Kazan, neta do icônico e controverso cineasta Elia Kazan, e que ganhou os holofotes novamente nesta época de premiação com o elogiado Doentes de Amor. Bem, ainda não conferi a citada comédia dramática, mas posso garantir que Kazan defende uma performance e personagem únicos neste terror. Aqui ela vive Kathy, uma jovem mãe nada exemplar para a pequena Lizzy. Drogada, alcoólatra e uma antena para relacionamentos abusivos, esta protagonista muito disfuncional está a um passo de uma tragédia, ou que sua filha lhe seja tirada por algum órgão responsável.

Para esta dinâmica desequilibrada funcionar era necessário uma atriz mirim que fizesse um bom jogo com Kazan, e é seguro afirmar que a produção a encontrou com Ella Ballentine – e que ótimo ano para atrizes mirins, entre este filme, Logan e Projeto Flórida. Aqui, a filha constantemente precisa ser a mãe e fazer papel do adulto responsável, já que sua progenitora na maioria das vezes está caída no banheiro, perto da privada, ou desacordada em qualquer lugar da casa. A relação abusiva é de dar nos nervos, e a veracidade das cenas, totalmente levadas de forma crível como num drama que busca prêmios, impressiona. Kazan é a protagonista, mas é também uma das personagens mais desagradáveis e odiosas do ano no cinema.

Bem, mas obviamente teremos uma guinada nesta trama, afinal este ainda é um filme de terror. Numa noite, na qual a mãe leva a filha para ficar com o pai, correndo o risco de não voltar mais para viver com ela, seu carro sai da estrada ao atropelar um lobo. Ferida, com o braço quebrado, a mãe consegue chamar ajuda pelo celular e as duas esperam socorro mecânico e de uma ambulância. Aos poucos mãe e filha começam a perceber que algo as espreita nesta estrada, cercada de mata dos dois lados. E sua revelação – que não irei estragar aqui – é algo, bem… monstruoso.

Com um roteiro digno de Tarantino em Um Drink no Inferno, Um Monstro no Caminho acerta ao mesclar de forma talentosa dois gêneros difíceis. E quem merece elogios aqui é justamente o roteirista e diretor Bertino. O jovem cineasta sabe que qualquer filme de terror funciona melhor quando cercando tudo são criados bons personagens, com desenvolvimento detalhado. Justamente por isso, o cineasta dedica a primeira metade do seu filme para explorar quem são essas duas pessoas, mãe e filha, e seu relacionamento pra lá de problemático. Sentimos pena da garota e raiva da mãe. A intensidade dramática é a pista que nos transforma em joguete nas mãos do talentoso artista, que antes de atear fogo, certifica-se de que a gasolina foi bem jogada.

Já na segunda metade, Bertino subverte tudo, jogando as personagens num cenário ainda pior do que seu cotidiano no dia a dia. Se as duas achavam que suas vidas eram ruins, espere para ver o que o diretor armou para elas. O novo desafio a ser superado traz a união das protagonistas, que agora precisam juntar forças, tendo apenas uma a outra para confiar. No segundo trecho, o diretor e o longa entregam exatamente o que você quer, adrenalina e tensão até não poder mais, e momentos viscerais – onde Bertino explora ao máximo o que seu orçamento pode oferecer, escondendo detalhes e mostrando o que pode. O resultado acerta nos dois âmbitos, cria um bom drama familiar impactante, e entrega um filme de monstro corajoso e criativo.

É claro também que aqui podem ser encontradas diversas analogias, o que torna o sabor ainda mais especial. O monstro é apenas um reflexo do real monstro, a personagem de Kazan. E toda esta história pode ser vista como o desafio de superação da pequena Lizzy. O desfecho dúbio narrado pela própria abre possibilidades para tais interpretações. Com atuações de primeira, bons efeitos práticos, uma narrativa ágil e uma mescla entre gêneros que poucos conseguem equilibrar, Um Monstro no Caminho é um dos melhores exemplares de terror do ano.

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