Estamos em meados de dezembro – e isso significa que as plataformas de streaming estão em polvorosa lançando seus filmes e séries de fim de ano. E é claro que o Prime Video não ficaria de fora disso com a recente estreia da comédia ‘Um. Natal. Surreal.’. O longa-metragem, que chegou ao serviço no começo do mês, é encabeçada por Michelle Pfeiffer como uma mãe que simplesmente chega ao limite com o descaso de sua família e decide agir por conta própria para participar de um programa natalino que sempre quis participar, mas nunca conseguiu em virtude da falta de atenção de seus filhos e de seu marido.
Na trama, Pfeiffer dá vida a Claire Clauster, uma mulher que passa o ano inteiro se preparando para as festividades de fim de ano com a máxima cautela, garantindo que tudo esteja perfeito para quando a família se reunir para mais uma tradicional festa. Com a chegada dos filhos, netos e agregados, as expectativas aumentam – e Claire tem certeza de que suas incontáveis mensagens e dicas do que gostaria de ganhar de Natal foram ouvidas: participar do popular concurso de Melhor Mãe do Feriado, apresentado por Zazzy Tims (Eva Longoria). Mas as coisas não saem como o planejado e, complacente com a situação, ela se frustra por não ter o pedido atendido e por se sentir cada vez mais distante dos filhos.
A gota d’água emerge quando, em uma determinada noite, a família a esquece em casa na correria para assistir a um show de música eletrônica que todos tanto queriam ir. Recusando-se a ser desmoralizada novamente, ela organiza uma mala rápida e pega o carro em direção a Burbank, acreditando que poderá participar do concurso mesmo sem ter sido inscrita pelos filhos – e dando um jeito de realizar seu sonho por conta própria, redescobrindo o Natal de uma maneira diferente e que, pela primeira vez, a permite se colocar em primeiro lugar em vez dos outros.
O projeto é dirigido por Michael Showalter, conhecido por seu aclamado trabalho na franquia ‘Wet Hot American Summer’ e nos longas-metragens ‘Doentes de Amor’ e ‘Os Olhos de Tammy Faye’ – e, de certa maneira, há uma certa incorporação das incursões mais verborrágicas do realizador nesta empreitada. Responsável pelo roteiro ao lado de Chandler Baker, autor do romance original, o realizador promove algumas incursões interessantes que mesclam a vibrante época natalina à melancolia que se apodera pouco a pouco de Claire e que culmina em uma explosão tour-de-force que a faz atravessar o Texas e a Califórnia em um redescobrimento de si mesma e um amadurecimento tardio que a faz refletir sobre as próprias escolhas.
Enquanto os diálogos são sagazes e rápidos, é difícil desviar a atenção dos múltiplos erros que despontam no filme: o arco centrado na personagem de Pfeiffer é, sem sombra de dúvida, o mais bem trabalhado – sendo guiado pela presença da atriz como uma exausta dona de casa que precisa de mais que cookies e decorações para se sentir valorizada. As múltiplas subtramas, que incluem os filhos de Claire, Channing (Felicity Jones), Taylor (Chloë Grace Moretz) e Sammy (Dominic Sessa), bem como seu esposo, Nick (Denis Leary), não são tratadas como deveriam, principalmente pelo fato de se abrirem em incontáveis núcleos que, em dado momento, convergem para um emotivo e melodramático finale em que tudo é resolvido e o final feliz é encontrado.
Embora procure trazer certos sopros de originalidade, Showalter soa menos inspirado do que de costume para construir a atmosfera do projeto, valendo-se de fórmulas que se espalham até mesmo na construção dos personagens para atingir um objetivo claro e simplório – criar um filme escapista e destinado para os fãs inveterados de títulos de fim de ano que garimpam as plataformas em busca de mais comédias e romances açucarados para temperar as celebrações natalinas com mensagens de bonança. E, caso você se enquadre nesse público-alvo, o filme tem grandes chances de te agradar e te satisfazer.
Se você não está procurando nada muito além do óbvio e tem tempo para perder, ‘Um. Natal. Surreal.’ vale a pena por entregar exatamente aquilo que prometeu com seus trailers promocionais – com destaque à performance de Pfeiffer e à natureza despretensiosa do projeto. Todavia, caso você queira assistir a um filme um pouco mais sofisticado, sugiro não apertar o play para essa festiva mixórdia de clichês com mensagens que já conhecemos como a palma da mão.