quinta-feira, abril 25, 2024

Crítica | ‘Versace: American Crime Story’: Solidão e abandono marcam a dolorosa season finale

Em uma espécie de epifania, descemos a espiral de uma cadeia de fatos em cronologia inversa, acompanhando os passos sistemáticos do jovem Andrew Cunanan. The Assassination of Gianni Versace subiu às passarelas pela última vez, em um episódio doloroso e solitário, que em sua essência gera um vazio enorme no peito, uma dor quase incurável. Após uma longa caminhada que revirou o passado de algumas figuras importantes na narrativa do serial killer, voltamos ao ponto de partida. Na ensolarada Miami, entre coqueiros que fazem sombra ao seu molde, o sol brilhou novamente em meio ao som explosivo de uma morte à queima roupa. A caçada por Cunanan recomeça, desta vez mais pela perspectiva da imprensa e do próprio rapaz.

O último capítulo da segunda temporada da antologia de American Crime Story reimagina os oito dias que sucederam a morte de Versace, em que Andrew tenta digerir a profundidade do seu crime e qual impacto ele possui sobre sua vida. Como em um tipo de “seis estágios do luto”, o assassino passeia pelos sentimentos adversos, iniciado pela adrenalina da euforia de se tornar mundialmente conhecido, percorrendo pelo medo de ser encontrado, estacionando finalmente na mais profunda e dolorosa solidão.

Como o próprio título do episódio expressa, toda sua busca para se tornar especial o canalizou a um abandono absoluto. Cercado pelas águas de uma casa ancorada à beira mar, Andrew se viu completamente sozinho. Driblou a atenção do FBI como pôde, mas jamais conseguiria fugir de si mesmo. E na última parte desta narrativa, Darren Criss revela a última amada ainda mais dolorosa da fragilidade do jovem, que na busca por tanta atenção, terminou seus últimos minutos de vida isolado em um ambiente que nunca lhe pertenceu, encarando seu rosto vazio no espelho, com uma arma na boca. Em contraste com a jornada final do personagem, Donatella Versace padece com a morte do irmão, em uma casa italiana bem arejada, que vagamente nos remete à casa de pedras onde ela e seus irmãos cresceram.

Recuperando o fôlego inicial do primeiro e hipnotizante capítulo, o final da narrativa segue em um ritmo mais acelerado, mostrando o desenrolar dos fatos pela perspectiva dos familiares e, até mesmo, amigos de Andrew. À medida que a polícia traça – tardiamente – uma trajetória de busca, acompanhamos a saga pela televisão. Em meio ao caos instaurado em uma das cidades mais badaladas dos Estados Unidos, nossos olhos também testemunham o último adeus de Gianni Versace. Naquele universo italiano tão particular, percebemos o tradicionalismo semelhante ao de O Poderoso Chefão, conforme acompanhamos a despedida do estilista em um templo católico, cercado por celebridades e autoridades. Com imagens que mesclam o velório real do artista a closes em Ricky Martin e Penélope Cruz, o verídico e o ficcional se encontram em um edição precisa, que une bem ambos os materiais.

Com uma fotografia melancólica, ‘Alone’ é o episódio mais penoso de assistir. Ao constratar o fim das vidas de Cunanan e Versace, ele se destrincha de duas formas distintas, em uma narrativa que novamente compara as trajetórias de vida dos protagonistas. E aquela solidão já citada, ganha forma ao ponto de ser palpável. Nesse emaranhado de sentimentos, Ryan Murphy se destaca em dois momentos. Trazendo fragmentos do seu viés denunciante de The Normal Heart, ele alfineta o tratamento da classe LGBTQ nos anos 90, em um quase monólogo ácido e bem escrito. De volta ao templo arejado dos Versace, um ritual final se inicia, anunciando o fim de uma era, em meio ao repentino começo de outra.

E como a Medusa que confunde nossos olhos e rouba nossas atenções, The Assassination of Gianni Versace faz uma das alusões mais poderosas e simbólicas de toda a temporada. Devolvendo os holofotes à Penélope Cruz, seu semblante cabisbaixo e cansado se projeta em seu futuro, finalizando a narrativa com um dos olhares mais profundos de todos os episódios. Honroso à própria Donatella Versace, Murphy a consagra como a personagem mais forte de todos, aquela que em meio a um dos momentos mais sombrios de sua vida, foi capaz de tirar novas cores, estampas e padronagens para consolidar o nome de sua casa em gerações que ainda hão de vir.

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