Inadvertidamente anunciando uma profunda imersão na mente humana, Violet se desabrocha diante dos nossos olhos a partir de uma frenética, caótica e rápida sequência de abertura. E em poucos minutos, logo sabemos que estamos ouvindo os pensamentos da protagonista homônima, uma bela e talentosa produtora de cinema independente, que vive à sombra de sua própria existência. Cercada por uma constante síndrome do impostor, ela oscila entre crises de identidade e ansiedade crônica – que acarretam em uma insana e ensurdecedora espiral de auto sabotagem.
Violet é uma experiência sinestésica inesperada. Com os pensamentos da protagonista sendo narrados pelo ator Justin Theroux, acompanhamos a trama sempre de forma intimista e invasiva. Aqui, a mente de Violet fala mais alto que sua própria voz, que é constantemente abafada pelas interrupções agressivas de seu eu interior – cujo timbre grave é sempre denso, desdenhoso e voraz. E ao longo de 1h30 de filme somos tomados pelos anseios, medos e angústias da personagem, que vive constantemente receosa, pisando em ovos dentro de suas próprias escolhas e vontades.
E vivendo à margem do que ela poderia ser, Olivia Munn entrega uma performance sublime, cativante e delicada, mostrando a fragilidade de uma mulher cuja mente incansável suga todas as suas energias. Sempre à mercê da aprovação dos outros, Violet é uma mulher decidida incapaz de verbalizar seus desejos e Munn é capaz de expressá-la com uma impressionante riqueza de detalhes, nos mostrando uma personagem que aparenta ser uma panela de pressão prestes a ebulir. Construindo-se em tela de forma tão fascinante, a atriz e a diretora/roteirista Justine Bateman se unem para mostrar como funciona a mente ansiosa, com síndrome do pânico e com complexo de inferioridade, nos levando para as entranhas mais profundas de uma pessoa – naquele lugar tão secreto e impossível de se alcançar por qualquer um de fora.
Praticamente didático, o drama de Bateman exemplifica como muitos de nós se enxergam diante do espelho e perante a sociedade. Cru e simples em sua construção, a diretora faz com que os pensamentos sabotadores da protagonista estampem a tela, marcando a memória da personagem e lembrando a audiência do quão poderosa e perigosa a nossa mente é capaz de ser. Nos transportando para dentro de suas emoções, Violet nos angustia em toda sua extensão, à medida em que somos imergidos no seu íntimo e, consequentemente, tomados pela inquietude que torna nossa heroína do dia-a-dia tão emocionalmente exausta.
Trazendo um roteiro bem elaborado e objetivo, Bateman transforma seu drama em uma espécie de sessão de terapia para a audiência, que muitas vezes é capaz de se enxergar facilmente em Olivia Munn e em sua personagem. Uma catarse poderosa sobre como enfrentar os demônios internos que dia após dia nos atormentam e nos roubam o vigor, Violet tem seus defeitos e nada explora seus coadjuvantes. Mas ainda assim, tudo isso é pequeno demais diante da grandeza que a experiência cinematográfica nos oferece.