domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Vis a Vis – O Universo Compartilhado de La Casa de Papel

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Vis a Vis’ é praticamente a junção de duas séries de muito sucesso no mundo: ‘La Casa de Papel’ e ‘Orange Is The New Black’. Com 11 episódios do tamanho de um filme (média de 1h17 cada), a trama começa com uma mentirinha: Macarena (sim! Esse é o nome da protagonista, o que nos impede de conseguir levá-la a sério) liga para a mãe dizendo que vai se afastar por um tempo pois vai sair num cruzeiro de férias, mas na verdade está sendo presa naquele momento e levada ao presídio Cruz del Sur, um projeto de penitenciária privada (locais terceirizados, construídos pela iniciativa privada). A acusação: ela teria desviado e roubado o dinheiro da empresa em que trabalhava, cometendo fraude fiscal, e foi condenada a 7 anos de cárcere ou uma fiança de 1 milhão de euros.



No primeiro dia na prisão, Macarena (a mosca morta Maggie Civantos) faz uma coisa que TODO MUNDO sabe que não se deve fazer na prisão (todo mundo, menos Macarena): ela pede um favor. E, pior: não pergunta o preço. Aos poucos, a protagonista vai se metendo em uma sequência de favores não pagos, aumentando a bola de neve e as dívidas com Anabel (Imma Cuevas). Como se não bastasse, ela atrai a atenção da carismática Cachinhos (Berta Vázquez), que passa a se interessar por ela. Cachinhos insiste na amizade, o que desperta o ciúme de Saray Vargas (a sempre rouba-holofote Alba Flores, nossa queridíssima Nairóbi), sua ex-namorada. Por fim, Macarena arruma confusão com Zulema (a ótima Najwa Nimri), a detenta mais perigosa do local, e ainda consegue causar tensão na vida de sua família, do lado de fora.

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Todas as furadas em que Macarena se mete são fruto da genuína inocência dela. É o tipo de pessoa que faz as coisas sem perguntar o motivo, acredita em todo mundo e está sempre no lugar errado, na hora errada. Isso estimula um sentimento de raiva no espectador, pois fica complicado aceitar que alguém consiga ser tão burro assim, e esse sentimento é compartilhado pelas outras personagens que a cercam. Mas é através dessa excessiva ingenuidade que os quatro criadores da série – Iván Escobar, Esther Martínez Lobato, Álex Pina e Daniel Écija – buscam trabalhar os temas que percorrem o universo feminino: o assédio sexual e moral, o lesbianismo de ocasião (em detentas que não se dizem lésbicas, mas que aceitam relações com outras mulheres dentro do cárcere), as doenças sexuais, a carência afetiva, gravidez, abandono familiar, machismo, hormônios, menstruação, a importância do exame ginecológico, transplante etc.

A prisão Cruz del Sur é administrada, também, por uma mulher, Miranda (Cristina Plazas), que, por comandar uma equipe de homens, se vê constantemente obrigada a reforçar quem está no comando, a se fazer de durona para não ter sua autoridade questionada. Através de Miranda e Macarena, o roteirista e produtor Álex Pina (responsável pelo sucesso ‘La Casa de Papel’) busca jogar luz sobre as múltiplas questões do universo feminino, no ambiente de trabalho e no prisional, e constrói personagens carismáticos e complexos, sem, com isso, serem agressivos ou enfadonhos. A sutileza com que os dramas vão se inserindo na história faz com que a cada episódio o espectador se pergunte como diabos Macarena conseguiu piorar uma situação que já era ruim antes. Assim, por mais que os episódios sejam longuíssimos, a série dá vontade de continuar em frente, pois o enredo vai nos envolvendo sem que a gente se dê conta. Os principais destaques vão para os episódios 7, 8, 9 e 10, que são nos quais acontecem os pontos ápice e de virada da trama dessa primeira temporada.

Criada e exibida inicialmente em 2015 para o canal Antena 3, da Espanha, a série é hoje exibida pela Dona Netflix. “Ah, mas pra ver mulheres presas eu fico assistindo ‘Orange Is The New Black, vocês dirão. Sim, de fato. Mas OITNB está na temporada final, e, para os órfãos, ‘Vis a Vis’ é uma boa opção. Sem contar que tem a magnífica Nairóbi tocando o terror e rebolando como se fosse um spin-off em um mundo paralelo onde ela vai pra prisão em ‘La Casa de Papel’. Por fim, a série é toda falada em espanhol (ou seja, você termina a temporada já PhD na língua) e tem um dos finais mais chocantes já vistos. Fica a dica!

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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No primeiro dia na prisão, Macarena (a mosca morta Maggie Civantos) faz uma coisa que TODO MUNDO sabe que não se deve fazer na prisão (todo mundo, menos Macarena): ela pede um favor. E, pior: não pergunta o preço. Aos poucos, a protagonista vai se metendo em uma sequência de favores não pagos, aumentando a bola de neve e as dívidas com Anabel (Imma Cuevas). Como se não bastasse, ela atrai a atenção da carismática Cachinhos (Berta Vázquez), que passa a se interessar por ela. Cachinhos insiste na amizade, o que desperta o ciúme de Saray Vargas (a sempre rouba-holofote Alba Flores, nossa queridíssima Nairóbi), sua ex-namorada. Por fim, Macarena arruma confusão com Zulema (a ótima Najwa Nimri), a detenta mais perigosa do local, e ainda consegue causar tensão na vida de sua família, do lado de fora.

Todas as furadas em que Macarena se mete são fruto da genuína inocência dela. É o tipo de pessoa que faz as coisas sem perguntar o motivo, acredita em todo mundo e está sempre no lugar errado, na hora errada. Isso estimula um sentimento de raiva no espectador, pois fica complicado aceitar que alguém consiga ser tão burro assim, e esse sentimento é compartilhado pelas outras personagens que a cercam. Mas é através dessa excessiva ingenuidade que os quatro criadores da série – Iván Escobar, Esther Martínez Lobato, Álex Pina e Daniel Écija – buscam trabalhar os temas que percorrem o universo feminino: o assédio sexual e moral, o lesbianismo de ocasião (em detentas que não se dizem lésbicas, mas que aceitam relações com outras mulheres dentro do cárcere), as doenças sexuais, a carência afetiva, gravidez, abandono familiar, machismo, hormônios, menstruação, a importância do exame ginecológico, transplante etc.

A prisão Cruz del Sur é administrada, também, por uma mulher, Miranda (Cristina Plazas), que, por comandar uma equipe de homens, se vê constantemente obrigada a reforçar quem está no comando, a se fazer de durona para não ter sua autoridade questionada. Através de Miranda e Macarena, o roteirista e produtor Álex Pina (responsável pelo sucesso ‘La Casa de Papel’) busca jogar luz sobre as múltiplas questões do universo feminino, no ambiente de trabalho e no prisional, e constrói personagens carismáticos e complexos, sem, com isso, serem agressivos ou enfadonhos. A sutileza com que os dramas vão se inserindo na história faz com que a cada episódio o espectador se pergunte como diabos Macarena conseguiu piorar uma situação que já era ruim antes. Assim, por mais que os episódios sejam longuíssimos, a série dá vontade de continuar em frente, pois o enredo vai nos envolvendo sem que a gente se dê conta. Os principais destaques vão para os episódios 7, 8, 9 e 10, que são nos quais acontecem os pontos ápice e de virada da trama dessa primeira temporada.

Criada e exibida inicialmente em 2015 para o canal Antena 3, da Espanha, a série é hoje exibida pela Dona Netflix. “Ah, mas pra ver mulheres presas eu fico assistindo ‘Orange Is The New Black, vocês dirão. Sim, de fato. Mas OITNB está na temporada final, e, para os órfãos, ‘Vis a Vis’ é uma boa opção. Sem contar que tem a magnífica Nairóbi tocando o terror e rebolando como se fosse um spin-off em um mundo paralelo onde ela vai pra prisão em ‘La Casa de Papel’. Por fim, a série é toda falada em espanhol (ou seja, você termina a temporada já PhD na língua) e tem um dos finais mais chocantes já vistos. Fica a dica!

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