quinta-feira, março 28, 2024

Crítica | Você: Paranoia e psicopatia em incrível série da Netflix

Em tempos de tecnologia, o termo stalking ganha novos significados. Afinal de contas, disso, todo mundo tem um pouco atualmente. Com vidas excessivamente expostas em uma infinidade de publicações em redes sociais das mais diversas, imagens, vídeos, boomerangs e marcações de localização eliminam uma parte generosa da privacidade. E saber discernir até que ponto o “stalkear” (abrasileirado, como tudo que chega nas mãos tupiniquins) é saudável não é fácil. A famosa linha tênue é tão imperceptível que se movimenta no ritmo acelerado dos nossos sentimentos. E a nova série da Lifetime, cujos direitos foram adquiridos pela Netflix, Você, traz esse emaranhado de cabos, conexões e sensações humanas, que eclodem em relacionamentos doentios o bastante para te chocar, mas surpreendentemente hipnotizantes tamanha sua astúcia. E você não vai conseguir parar de assistir.

O mais fascinante na trama de Você é justamente a forma como ela inebria a audiência. Como o canto da sereia, que traga homens desavisados para sua perdição e ruína, a produção traz o famoso Lonely Boy de Gossip Girl, Penn Badgley, como aquele que, à medida que é tragado pela linguagem corporal de certas mulheres, se torna o próprio cântico da morte. E a cada passo melindroso e psicótico, somos também encantados pela narrativa. Bem construída, ela é alinhavada pela construção de seus personagens. Complexos e bem aprofundados, todos são tratados com precisão, sem descartes e sem preguiça. Muito mais do que fazer de Joe Goldberg (Badgley) o psicopata do amor, cruzamos a linha tênue que separa o normal e doentio, ao descobrirmos que os índices de stalking podem e variam muito, de acordo com cada indivíduo.

E nessa dança amorosa, somos introduzidos a uma Shay Mitchell mais convincente do que quando a vimos em Pretty Little Liars. Com um visual mais glamouroso do que tomboy, o aspecto visual de Peach lembra seu próprio estilo de se vestir, só que aqui cercado por uma soberba e um grau de manipulação genial. Sútil e, antagonicamente, agressiva, ela passa pelo radar da normalidade pelo dinheiro que possui. Aspecto ideal para fazer de Beck (Elizabeth Lail), a donzela de coração frágil. Cheia de daddy isues e poética como uma boa escritora em desenvolvimento, ela também é o supra sumo da fragilidade maquiada em belas postagens no Instagram e em outras tantas mentiras contadas nas redes sociais, para tentar convencer a si própria e seus seguidores do quão feliz ela (não) é.

Com coadjuvantes que destacam aspectos reais que a cultura das mídias sociais trouxe para o nosso meio, Você vai além da nossa óbvia compreensão sobre sócio e psicopatias. Ao desmistificar este contexto global de relações humanas pautadas pelas aparências das mais distintas, ela também é um soco na boca do estômago, aos moldes do maravilhoso Ingrid Vai Para o Oeste. Aquelas verdades que todos pensamos, mas não verbalizamos, ganham vozes, cenas e personagens cuidadosamente ilustrativos, que evidenciam o quão complicado manter relações e contatos saudáveis se tornou. E por apresentar os vários tons de cinza que até mesmo os demais coadjuvantes possuem, a série da Netflix é capaz de produzir uma pequena empatia por Joe. Ao final das contas, ele é realmente louco, mas um louco consciente – e mais verdadeiro que os demais personagens considerados normais.

Com uma direção que sabe explorar a luz natural para distinguir os momentos de leveza com o tom sombrio que o thriller carrega em seus pontos mais altos, a produção criada por Greg Berlanti e Sera Gamble arrebata o espectador com facilidade. Embora pareça óbvia em alguns momentos (todo mundo é capaz de reconhecer um stalker – será mesmo?), ela destrincha a psique humana com vontade e mostra por A+B porque nem tudo é preto no branco. Com atuações convincentes, envolventes e com sua segunda temporada já confirmada, Você é um deleite para os amantes do suspense, que gostam de se surpreender com reviravoltas inesperadas, cliffganhers de tirar o fôlego e desfechos impactantes.

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