Aquele em que todo mundo é Dolores.
À pergunta deixada no ar durante o episódio 3, a aguardada resposta: quem está no corpo de Charlotte é a própria Dolores (Evan Rachel Wood). Ah, e ela também está em todos os outros corpos que criou desde que saiu do parque. “Se você quer uma coisa bem feita, faça você mesmo” parece ser o maior lema da personagem.
Chegamos à metade da temporada, e ‘The Mother of Exiles’ continua adicionando novos elementos à história, embora a este ponto já seja possível entender melhor alguns pontos de vista — e sobretudo o misterioso Engerraud Serac (Vincent Cassel). Aqui, aprofunda-se o tema de controle através da tecnologia sobre os humanos, e a grande adição que se faz a esta equação é a presença de William (Ed Harris), preso em uma névoa de confusão a respeito da própria identidade, sem conseguir diferenciar o que seria livre-arbítrio ou programação em suas próprias ações. Ora, e não é essa justamente toda a questão?
A partir da confusão mental de William — que serve como a cena de abertura — o episódio se dedica a desvendar qual é história de Serac, ao mesmo tempo em que segue acompanhando os planos de Dolores a respeito da Incite. Por isso, a trama se desenvolve em três frentes, há muito conhecidas pelos espectadores desta série: uma, com Dolores; outra, com Maeve (Thandie Newton), executando os planos de Serac; e outra com Bernard (Jeffrey Wright), que conta com a ajuda de Stubbs (Luke Hemsworth) para tentar impedir os planos de sua principal antagonista.
Em cada uma destas frentes, algumas informações preciosas são reveladas; Charlotte (Tessa Thompson) vai atrás de William, dizendo a ele que precisa de sua assinatura no conselho da Delos para privatizar a empresa e impedir que Serac tome posse das informações do projeto no Setor 16 de Westworld, que é justamente o armazenamento de dados no Forge. Mais tarde, descobrimos que ela estava apenas enganando o homem para colocá-lo num instituto psiquiátrico, mas a informação segue válida: ela precisa da maioria dos votos do conselho para executar o plano; Enquanto isso, Serac explica para Maeve o que enxerga deste mundo, e dá a entender que seu objetivo é implementar a previsão de comportamento para evitar violência e conflitos — como o que teria, supostamente, destruído a França, conforme mostra um flashback.
O que Serac revela é exatamente o que traz a necessária complexidade do personagem que estava ausente desde então; segundo ele, a maior ameaça dos humanos são eles mesmos, e para impedir alguma eventual tragédia, ele precisa da chave para os dados do Forge, que está com Dolores — a original, supostamente. A ideia de que os objetivos de Serac são benéficos pode ser lido como um ponto de conforto, mas se transforma em um paradoxo sem uma solução aparente com o controle de informações: neste sentido, o que seria livre-arbítrio e o que seria programação? Caímos na mesma questão que assombra Caleb (Aaron Paul). O fato de a máquina ter previsto um provável suicídio fez com que a mesma o impedisse de conseguir um emprego e estabilidade financeira e emocional, o que pode ser o próprio catalisador da sua morte. Em síntese: não estamos cedendo toda a nossa liberdade para máquinas que, prevendo nosso comportamento, transformam o livre-arbítrio em programação?
Sabemos, portanto, que apesar de buscar a liberdade dos anfitriões, Dolores retirou apenas ela mesma e Bernard do parque, mas precisa que o mesmo permaneça aberto, provavelmente para continuar obtendo as pérolas. Também entendemos que estas novas criaturas que ela fez a partir de si mesma não são exatamente cópias: Charlotte tem se transformado num híbrido com algumas características da “original”, e o mesmo provavelmente acontece com as demais cópias. Entendemos também que os objetivos de Serac são, a princípio, benéficos, mas reforçam a ideia indesejada de controle. Tudo culmina em uma disputa de narrativa entre estes dois, na qual Maeve até agora foi apenas um peão.
No fim das contas, faz sentido Dolores não confiar em mais ninguém para executar seu plano, e a forma como a personalidade vai se modificando em cada um dos corpos dá os indícios para o surgimento de, talvez, uma nova espécie. É importante entender que, nesta temporada, ela está menos sanguinária, e conseguiu enxergar que nem todos os humanos são irremediavelmente cruéis, por sua aproximação com Caleb.
Paralelamente, há muitos indícios de que as coisas não vão terminar bem para Dolores nesta temporada — e elas estão explicadas aqui. Portanto, aguardemos.
Considerações finais:
- O episódio traz ótimas cenas de luta, com destaque para a bela coreografia entre Stubbs e Dolores.
- Dolores tirou cinco pérolas de dentro do parque, além da sua própria que permanece em seu corpo. Isto significa que ainda falta uma pessoa que pode estar espionando para ela. Quem será que pode ser?
- O título do episódio, ‘The Mother of Exiles’, é um termo usado para referenciar a Estátua da Liberdade, no sentido que ela representa “uma nova terra, um lugar onde todos são bem-vindos para o surgimento de um novo povo com uma nova história”. Bem, ou pelo menos deveria ser. Aqui, o episódio sugere que Dolores representa este mesmo tipo de receptividade, e ela (como Musashi) mesma diz a Maeve sobre a construção de um novo lugar.
Veja a prévia do próximo episódio: