Aquele em que a vida parece um filme.
Se Rehoboam é Deus, seria Dolores o Diabo?
Passando da metade da temporada e faltando apenas 3 episódios para o final, a 3ª temporada de Westworld traça um caminho linear por referências cinematográficas para costurar uma série de dicas sobre a pergunta certa que deveria estar sendo feita aqui: quem é Caleb?
Os gêneros pelos quais passa o personagem de Aaron Paul, em cinco estágios (ou atos) da ação da droga são, na ordem, filme noir, ação e guerra (com a mais clara referência, feita ao filme ‘Apocalypse Now’, com a trilha de ‘Cavalgada das Valquírias’), romance, psicodelia (a cena do trem é pontuada com ‘Nightclubbing’, trilha de ‘Trainspotting’) e, por fim, terror — a inconfundível trilha de ‘O Iluminado’ compõe o cenário da praia. O que tudo isso tem em comum é, basicamente, tragédia.
Todos os filmes referenciados, de ‘Um Corpo que Cai’ a ‘Love Story – História de Amor’ e ‘O Iluminado’ têm, em suas várias formas, finais trágicos para os protagonistas e tramas que envolvem reviravoltas e destinos sombrios. A mensagem aqui é que devemos prestar atenção em Dolores e Caleb, sobretudo porque a execução da primeira parte do plano pode ter consequências questionáveis. Serac confessa ao seu ex-sócio, antes de matá-lo, que todos os futuros em que as pessoas têm acesso aos próprios arquivos terminam na extinção da humanidade, ao mesmo tempo em que vemos o caos assumir o controle sob a trilha de ‘Space Odissey’, uma música que Bowie compôs inspirado por ‘2001 – Uma Odisséia no Espaço’.
Cada vez mais, os temas trabalhados pela temporada caminham para uma discussão sobre sociedade de controle e sociedade disciplinar, dado que ambos os modelos são questionados e seus problemas colocados sob grandes holofotes. Neste ponto, talvez Caleb seja importante justamente por se desviar das projeções. O que Liam (John Gallagher Jr.) diz a ele na praia antes de morrer e os flashbacks que ele sente são quase uma confirmação de que Dolores não disse a ele toda a verdade quando mostrou o arquivo que aponta seu suicídio. O quanto Caleb tem participação na morte de seu amigo, Francis? O quanto, aliás, ele realmente sabe sobre si?
Não é um mistério que esta é a dupla na qual devemos prestar mais atenção e o fato de Dolores estar omitindo fatos de Caleb também não deveria ser uma surpresa — quando foi que ela confiou realmente em alguém além de si mesma? A informação preciosa aqui é a existência dos “centros de reeducação” de Serac, em que ele pode “editar pessoas”. Seria isso o que ele fez com Caleb? Liam diz que ele é “o pior de todos”, o que sugere um possível histórico bastante violento para o rapaz. Talvez a mensagem mais preciosa do episódio seja aquela na qual não estamos prestando muita atenção: cuidado com o ato final.
Considerações finais:
- Atores portugueses interpretando personagens brasileiros: até quando? Cassel, que é francês, passa temporadas no Brasil e fala o idioma fluentemente, convence muito mais na cena.
- Aliás, a cena tem uma reflexão interessante sobre o ciclo repetitivo da influência dos Estados Unidos em eleições presidenciais na América Latina. Mesmo em 2058, a história segue caminhando em círculos.
- Um dos homens de Serac diz a ele sobre anomalias detectadas em Jakarta, Los Angeles, São Francisco e Berlim. Supondo que as anomalias sejam os clones de Dolores, e que em Jakarta seria o clone Musashi, isso nos deixa Berlim, que pode ser onde está o clone da 5ª pérola que Dolores contrabandeou para fora do parque. E dificilmente isso é uma coincidência com a existência de um parque que imita um território ocupado pela Alemanha nazista durante a 2ª Guerra…
- Reparou que o local para onde Charlotte-Dolores enviou William no episódio 4 é na verdade um dos Centros de Reeducação de Serac? O que será que ela quer enviando Bernarnold numa rota de colisão com ele?
Veja o trailer do próximo episódio: