Aquele com a verdade sobre Caleb.
No Xadrez, Peão Passado é um termo que indica um peão sem oponentes, colocado em uma estrutura que facilita sua subida no ranking. Ele pode ser uma vantagem porque não há nada no caminho para impedi-lo de ascender, justamente por não ter recebido atenção antes no jogo.
Aplicada ao penúltimo episódio da temporada de ‘Westworld’, o termo deixa pouco para a imaginação do espectador em sua referência a Caleb (Aaron Paul) como um Peão Passado. Sua jornada de transformação de “Peão” a “Rainha” (ainda em termos do Xadrez) vem a partir da revelação de que foi Caleb quem matou seu grande amigo Francis. Isso é algo de que, aliás, muitos espectadores já suspeitavam desde quando ele surgiu pela primeira vez e ficou claro que havia algo de errado com suas memórias. A obviedade deixa a revelação anticlimática, mas isso se ligar a uma realização mais ampla sobre o papel de Caleb nesta história acaba justificando a narrativa.
Apesar de este ser um grande episódio sobre Caleb, ‘Passed Pawn’ passa por todos os lugares antes de focar nele, e faz isso de uma forma bastante desequilibrada. Começamos com a cópia Charlotte (Tessa Thompson) revelando para os aliados de Maeve (Thandie Newton) a localização de Musashi em Jakarta, o que deixa claro que ela não está interessada em fazer parte dos planos da Dolores ‘Matriz’ (Evan Rachel Wood) após a explosão que matou seu marido e seu filho. O episódio acaba não se estendendo sobre a mudança de lado de Charlotte, mas isso é algo que deve interferir mais diretamente nos eventos do final da temporada.
Enquanto demora mais do que o necessário para chegar ao ponto, em diálogos bastante expositivos e cansativos, ‘Passed Pawn’ continua fazendo pouco mais do que usar Bernarnold (Jeffrey Wright) como uma peça conveniente do jogo, sem que toda a determinação e o livre arbítrio do personagem outrora tão complexo sejam levados em consideração. Sua jornada com William e Stubbs (Luke Hemsworth) acaba refletindo o que Dolores tenta fazer com Caleb quando leva o rapaz até Sonora, México, para que ele se lembrasse dos experimentos no Centro de Recuperação.
Essencial para este processo é Solomon (ou, se fôssemos traduzir, Salomão), a inteligência artificial precursora do Rehoboam, desenvolvido pelo irmão de Serac e que, por isso, reflete um pouco a personalidade e a esquizofrenia de seu criador. A forma como ele enxerga o destino da humanidade, a propósito, talvez tenha pitadas de um certo ar de compaixão, ainda que seja essencial para a criação de um plano para que a revolução aconteça.
Um dos momentos mais emblemáticos do episódio, ainda assim, é o aguardado enfrentamento entre Dolores e Maeve, que acontece ao mesmo tempo em que Caleb começa a entender o papel que precisará desempenhar nesta luta. É como se fosse o despertar de consciência dos robôs, mas ao contrário. Agora, resta um episódio para o desenrolar do plano. Ansiosos?
A sensação que o episódio deixa na boca, apesar de tantos acontecimentos, tem um certo retrogosto amargo. A 3ª temporada de ‘Westworld’ está longe de ser a mais rica em temas e reflexões, apesar do potencial que a reestruturação ofereceu. A um episódio do desfecho, isso fica claro em uma hora bastante expositiva, que traz pouca coesão entre os seus muitos arcos somente para que tudo esteja burocraticamente encaminhado para a season finale. Parece até desperdício.