sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | ‘Wonka’, estrelado por Timothée Chalamet, é a pedida PERFEITA para o fim do ano

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Em 1971, o clássico romance A Fantástica Fábrica de Chocolate ganhava sua primeira versão para os cinemas – trazendo ninguém menos que o lendário Gene Wilder no papel do famoso chocolatier Willy Wonka. A partir daí, o personagem ficou marcado na cultura pop, sendo relembrado como um ícone atemporal que recebeu inúmeras readaptações, incluindo um remake comandado por Tim Burton em 2005. Agora, o aclamado diretor Paul King nos convida a revisitar esse incrível e delicioso cosmos arquitetado originalmente por Roald Dahl com a antecipada pré-sequência Wonka, trazendo ninguém menos que o indicado ao Oscar Timothée Chalamet no papel titular.

Ainda que as andanças para promover o longa-metragem não tenham sido uma das melhores, sabíamos que King tinha todos os elementos necessários para transformar a produção em um clássico instantâneo de final de ano. Afinal, ele já havia nos presenteado com a mini-franquia As Aventuras de Paddington, que lhe renderam indicações ao BAFTA pelo trabalho impecável e por sua paixão em criar mundos fantasiosos e encantadores. E o resultado não poderia ter sido diferente: mesmo acompanhado de alguns deslizes óbvios e fórmulas conhecidas de outras produções do gênero, o filme se mantém fiel àquilo que propõe e nos convida a uma jornada de esperança que presta homenagens a inúmeros títulos bastante conhecidos pelos cinéfilos e inclusive pelos amantes de teatro musical.



Logo de cara abrindo espaço para referências a ‘Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet’, King inicia sua história nos levando a alto-mar, em que um jovem Willy retorna à Europa depois de uma viagem exaustiva e perigosa para ir atrás do sonho de se tornar um chocolateiro bem-sucedido (aliás, não apenas bem-sucedido, como diferente de qualquer outro que já tenha existido). É aqui que somos apresentados ao primeiro vislumbre de Chalamet como o protagonista, soltando uma sólida voz e dando o tom de uma obra musical que, dentro do universo que já conhecemos, faz todo o sentido. Entretanto, o que seria dessa jornada do herói sem obstáculos? Não demora muito até que Wonka descubra que está no centro de uma disputa entre magnatas do chocolate e que suas ideias mirabolantes podem colocar um fim no monopólio que exercem. É aí que ele é forçado a ficar em uma estalagem duvidosa, onde é enganado pela maldosa Sra. Scrubbit (Olivia Colman) e seu comparsa Bleacher (Tom Davis) e passa a trabalhar como lavador de roupas.

Lá, ele conhece um grupo inesperado de pessoas que passaram pela mesma situação, como a jovem Noodle (Calah Lane). A menina logo constrói uma forte amizade com Willy e promete ajudá-lo a sair de sua prisão para que ele possa vender chocolates e eternizar seu nome – além de auxiliar seus novos amigos a voltarem às suas vidas. E é a partir daí que a trama mergulha em um desenrolar bastante intrincado que é auxiliado por números musicais muito divertidos e uma nostalgia cênica apaixonante, seja na vibrante paleta de cores guiada pela intensa personalidade de Willy. E nada disso seria possível sem a exuberante química de um elenco de ponta e a condução sincera de King, que nunca tenta dar um passo maior que a perna e mantém-se fiel à essência de Dahl e à do filme original.

Chalamet entrega-se a uma astuta performance que o afasta de papéis predecessores – ora, como se esquecer de seu trabalho em incursões como ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ e ‘Adoráveis Mulheres’? Aqui, é notável como o jovem astro pega elementos imortalizados por Wilder e, ao mesmo tempo, renega a exagerada interpretação de Johnny Depp na releitura de Burton, preferindo manter o misticismo acerca do personagem tão somente para nos revelar uma backstory que dialoga com seu arquétipo (que envolve uma relação apaixonante entre ele e sua mãe, interpretada por Sally Hawkins). Colman, por sua vez, rouba a cena e continua a reiterar sua presença marcante no cenário audiovisual com uma versatilidade invejável através da qual a idolatramos como uma lenda contemporânea. Dentro desse escopo, é preciso comentar a presença memorável de Keegan Michael-Key como o Chefe de Polícia e Paterson Joseph como Arthur Slugworth (um dos magnatas do chocolate), ambos funcionando como escapes cômicos e vilões à sua própria maneira; e Hugh Grant fornecendo camadas inesperadas ao Oompa-Loompa, que vem a se tornar um dos ajudantes de Wonka na fábrica.

King demonstra sua predileção em homenagear clássicos do gênero, como já mencionado nos parágrafos acima – e faz isso com uma cautela genial, demonstrando uma bagagem cultural notável. Há elementos que rememoram ‘Alô, Dolly’ e ‘Cantando na Chuva’, como coreografias e detalhes pontuais na progressão cênica, ou que fazem menção a ‘Chicago’ e ‘O Rei do Show’, elevando uma trilha sonora original a uma amálgama saudosista e muito saborosa. O embate de cores, que varia do verde-neon ao rosa-choque, mistura-se à despretensiosa sobriedade do chocolate e permite que a magia promovida pela presença de Wonka se espalhe por sequências caprichosas.

Todavia, é preciso lembrar que o longa não é livre de equívocos: temos problemas estruturais que mancham o ritmo da narrativa em certos momentos e que poderiam ter sido mais bem calculados. Além disso, Lane não parece confortável com o papel que lhe foi dado, mantendo uma nota unidimensional por quase duas horas e impedindo que Noodle tenha o desenvolvimento que merece ao lado dos outros personagens.

Falhas à parte, Wonka é surpreendente – da melhor maneira possível. É claro que o anúncio do filme deixou todos com um pé atrás, principalmente pelo vórtice criativo que vem acometendo Hollywood nos últimos anos; mas King renova as próprias habilidades ao respeitar a obra do autor e, ao mesmo tempo, destacar um inebriante enredo original que nos comove do começo ao fim.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Ainda que as andanças para promover o longa-metragem não tenham sido uma das melhores, sabíamos que King tinha todos os elementos necessários para transformar a produção em um clássico instantâneo de final de ano. Afinal, ele já havia nos presenteado com a mini-franquia As Aventuras de Paddington, que lhe renderam indicações ao BAFTA pelo trabalho impecável e por sua paixão em criar mundos fantasiosos e encantadores. E o resultado não poderia ter sido diferente: mesmo acompanhado de alguns deslizes óbvios e fórmulas conhecidas de outras produções do gênero, o filme se mantém fiel àquilo que propõe e nos convida a uma jornada de esperança que presta homenagens a inúmeros títulos bastante conhecidos pelos cinéfilos e inclusive pelos amantes de teatro musical.

Logo de cara abrindo espaço para referências a ‘Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet’, King inicia sua história nos levando a alto-mar, em que um jovem Willy retorna à Europa depois de uma viagem exaustiva e perigosa para ir atrás do sonho de se tornar um chocolateiro bem-sucedido (aliás, não apenas bem-sucedido, como diferente de qualquer outro que já tenha existido). É aqui que somos apresentados ao primeiro vislumbre de Chalamet como o protagonista, soltando uma sólida voz e dando o tom de uma obra musical que, dentro do universo que já conhecemos, faz todo o sentido. Entretanto, o que seria dessa jornada do herói sem obstáculos? Não demora muito até que Wonka descubra que está no centro de uma disputa entre magnatas do chocolate e que suas ideias mirabolantes podem colocar um fim no monopólio que exercem. É aí que ele é forçado a ficar em uma estalagem duvidosa, onde é enganado pela maldosa Sra. Scrubbit (Olivia Colman) e seu comparsa Bleacher (Tom Davis) e passa a trabalhar como lavador de roupas.

Lá, ele conhece um grupo inesperado de pessoas que passaram pela mesma situação, como a jovem Noodle (Calah Lane). A menina logo constrói uma forte amizade com Willy e promete ajudá-lo a sair de sua prisão para que ele possa vender chocolates e eternizar seu nome – além de auxiliar seus novos amigos a voltarem às suas vidas. E é a partir daí que a trama mergulha em um desenrolar bastante intrincado que é auxiliado por números musicais muito divertidos e uma nostalgia cênica apaixonante, seja na vibrante paleta de cores guiada pela intensa personalidade de Willy. E nada disso seria possível sem a exuberante química de um elenco de ponta e a condução sincera de King, que nunca tenta dar um passo maior que a perna e mantém-se fiel à essência de Dahl e à do filme original.

Chalamet entrega-se a uma astuta performance que o afasta de papéis predecessores – ora, como se esquecer de seu trabalho em incursões como ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ e ‘Adoráveis Mulheres’? Aqui, é notável como o jovem astro pega elementos imortalizados por Wilder e, ao mesmo tempo, renega a exagerada interpretação de Johnny Depp na releitura de Burton, preferindo manter o misticismo acerca do personagem tão somente para nos revelar uma backstory que dialoga com seu arquétipo (que envolve uma relação apaixonante entre ele e sua mãe, interpretada por Sally Hawkins). Colman, por sua vez, rouba a cena e continua a reiterar sua presença marcante no cenário audiovisual com uma versatilidade invejável através da qual a idolatramos como uma lenda contemporânea. Dentro desse escopo, é preciso comentar a presença memorável de Keegan Michael-Key como o Chefe de Polícia e Paterson Joseph como Arthur Slugworth (um dos magnatas do chocolate), ambos funcionando como escapes cômicos e vilões à sua própria maneira; e Hugh Grant fornecendo camadas inesperadas ao Oompa-Loompa, que vem a se tornar um dos ajudantes de Wonka na fábrica.

King demonstra sua predileção em homenagear clássicos do gênero, como já mencionado nos parágrafos acima – e faz isso com uma cautela genial, demonstrando uma bagagem cultural notável. Há elementos que rememoram ‘Alô, Dolly’ e ‘Cantando na Chuva’, como coreografias e detalhes pontuais na progressão cênica, ou que fazem menção a ‘Chicago’ e ‘O Rei do Show’, elevando uma trilha sonora original a uma amálgama saudosista e muito saborosa. O embate de cores, que varia do verde-neon ao rosa-choque, mistura-se à despretensiosa sobriedade do chocolate e permite que a magia promovida pela presença de Wonka se espalhe por sequências caprichosas.

Todavia, é preciso lembrar que o longa não é livre de equívocos: temos problemas estruturais que mancham o ritmo da narrativa em certos momentos e que poderiam ter sido mais bem calculados. Além disso, Lane não parece confortável com o papel que lhe foi dado, mantendo uma nota unidimensional por quase duas horas e impedindo que Noodle tenha o desenvolvimento que merece ao lado dos outros personagens.

Falhas à parte, Wonka é surpreendente – da melhor maneira possível. É claro que o anúncio do filme deixou todos com um pé atrás, principalmente pelo vórtice criativo que vem acometendo Hollywood nos últimos anos; mas King renova as próprias habilidades ao respeitar a obra do autor e, ao mesmo tempo, destacar um inebriante enredo original que nos comove do começo ao fim.

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