domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Zendaya trilha caminho para o Oscar na IMPECÁVEL dramédia esportiva ‘Rivais’

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Luca Guadagnino não se consagrou como um dos diretores mais respeitados do cinema por qualquer motivo, e sim por uma perspectiva idiossincrática que arrebatou os espectadores ao redor do mundo – ainda que não tenha sempre agradado a todos. Dentre seus títulos mais famosos, podemos citar o vencedor do Oscar Me Chame Pelo Seu Nome, que trouxe Timothée Chalamet e Armie Hammer ao elenco protagonista, ou o suspense romântico Até os Ossos, que chocou o público por sua crua narrativa. Agora, o cineasta está de volta com o antecipadíssimo Rivais, uma dramédia esportiva romântica que conta com um elenco estelar e posta-se como um dos melhores longas-metragens do ano (quiçá, a produção mais sólida da filmografia de Guadagnino).

Através de uma narrativa que vai e volta no tempo e borra as linha entre o passado e o presente com revelações crescentes e contínuas, o cineasta nos convida a conhecer um triângulo amoroso formado por Tashi (Zendaya), Patrick (Josh O’Connor) e Art (Mike Faist). Tashi é um prodígio do tênis que rouba a atenção de todos e que fica conhecida por uma performance extremamente forte em campo – ganhando prestígio a cada partida vencida e atiçando a curiosidade dos amigos Patrick e Art, que ficam mesmerizados com a potência da jovem. Com ambos se apaixonando pela tenista, cabe a Tashi navegar através de sua personalidade marcante até culminar em várias tensões que afastam Patrick e Art e alimentam uma rixa que se estende por muitos anos até uma última partida que pode definir o futuro de cada um dos personagens.



A princípio, devemos falar sobre as impecáveis atuações que explodem nas telonas e de que forma cada um dos atores consegue canalizar as características principais de seus respectivos personagens. Zendaya, que vem se mostrando como uma das performers mais versáteis da atualidade ao ter estrelado produções como ‘Duna’, ‘Euphoria’ e ‘Malcolm & Marie’, oferece mais uma camada de sua composição artística como Tashi. Não se enganem: a tenista não é a “mocinha” da história, e sim uma anti-heroína cuja vida é pautada no esporte que foi destinada a dominar. Ela é movida por elogios que afofam uma egolatria perigosa, em que seu principal objetivo é ser exaltada por habilidades que aperfeiçoou com o passar dos anos – nem que isso a faça usar os outros para benefício próprio. É assustador ver como Zendaya se transforma em cena navegando por sutilezas do olhar e do crispar dos lábios, explodindo em raiva e frustração quando não consegue a perfeição pela qual tanto preza.

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Enquanto a atriz se mostra ávida por uma indicação Oscar – e deve conquistá-la com um trabalho tão primoroso quanto este -, ela é acompanhada pela presença inebriante de O’Connor, de ‘The Crown’, apostando fichas em uma persona também cheia de si, mas sem qualquer ambição aparente além das banalidades de uma jovialidade efêmera (não é surpresa que ele é taxado como infantil por nem sequer ter se preocupado em amadurecer); e de Faist, recém-saído de seu trabalho no remake de ‘Amor, Sublime Amor’, e encarnado o derrotista Patrick, eventual marido de Tashi, que não tem o mesmo apetite pelo esporte que seu ex-melhor amigo e que sua esposa e se vê submisso às vontades dos outros, como se não tivesse encontrado sua voz.

Para além de um elenco espetacular, Guadagnino não deixaria os elementos artísticos e técnicos do longa-metragem em segundo plano. Aliando-se à fotografia certeira de Sayombhu Mukdeeprom, o cineasta arquiteta um épico esportivo que não apenas nos coloca como membro do público, mas nos convida a sentir cada um dos saques, backhands e aces, transformando a experiência em uma sinestésica e competitiva jornada por um dos universos mais complexos da humanidade. Temos uma predileção pela simetria, pelo uso de tonalidades fortes como o azul-celeste e o verde, e uma mistura entre a passividade “de elite” do branco e o conflito urgente do amarelado – uma mixórdia completa de atingir, mas que é delineada com muita cautela.

A imersão promovida por Guadagnino não se restringe apenas à condução magistral do projeto, e sim a ramificações que incluem uma montagem frenética e pautada em um ritmo aplaudível (cortesia das habilidosas mãos de Marco Costa), e de uma trilha sonora que oscila entre orquestrações dissonantes e um apreço significativo pela nostálgica originalidade do techno-house (assinada por Atticus Ross e Trent Reznor, frequentes colaboradores do diretor). É notável como o mínimo deslize poderia transformar todo esse escopo em um festival camp cansativo, mas o time criativo sabe como caminhar por ensejos tortuosos – guiados pelo didático e provocante roteiro de Justin Kuritzkes, que nos oferece uma nova visão de um cosmos explorado ad nauseam pela sétima arte.

Assim mencionado no primeiro parágrafo, Rivais não é apenas um dos melhores filmes do ano, como uma bem-vinda adição à filmografia de Guadagnino. Aqui, o realizador constrói um tour-de-force indesculpável que se desvencilha de eufemismos e diz as coisas como elas, de fato são – e, como a cereja de um suculento bolo, nada disso seria alcançado sem a química apaixonante do elenco protagonista.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Luca Guadagnino não se consagrou como um dos diretores mais respeitados do cinema por qualquer motivo, e sim por uma perspectiva idiossincrática que arrebatou os espectadores ao redor do mundo – ainda que não tenha sempre agradado a todos. Dentre seus títulos mais famosos, podemos citar o vencedor do Oscar Me Chame Pelo Seu Nome, que trouxe Timothée Chalamet e Armie Hammer ao elenco protagonista, ou o suspense romântico Até os Ossos, que chocou o público por sua crua narrativa. Agora, o cineasta está de volta com o antecipadíssimo Rivais, uma dramédia esportiva romântica que conta com um elenco estelar e posta-se como um dos melhores longas-metragens do ano (quiçá, a produção mais sólida da filmografia de Guadagnino).

Através de uma narrativa que vai e volta no tempo e borra as linha entre o passado e o presente com revelações crescentes e contínuas, o cineasta nos convida a conhecer um triângulo amoroso formado por Tashi (Zendaya), Patrick (Josh O’Connor) e Art (Mike Faist). Tashi é um prodígio do tênis que rouba a atenção de todos e que fica conhecida por uma performance extremamente forte em campo – ganhando prestígio a cada partida vencida e atiçando a curiosidade dos amigos Patrick e Art, que ficam mesmerizados com a potência da jovem. Com ambos se apaixonando pela tenista, cabe a Tashi navegar através de sua personalidade marcante até culminar em várias tensões que afastam Patrick e Art e alimentam uma rixa que se estende por muitos anos até uma última partida que pode definir o futuro de cada um dos personagens.

A princípio, devemos falar sobre as impecáveis atuações que explodem nas telonas e de que forma cada um dos atores consegue canalizar as características principais de seus respectivos personagens. Zendaya, que vem se mostrando como uma das performers mais versáteis da atualidade ao ter estrelado produções como ‘Duna’, ‘Euphoria’ e ‘Malcolm & Marie’, oferece mais uma camada de sua composição artística como Tashi. Não se enganem: a tenista não é a “mocinha” da história, e sim uma anti-heroína cuja vida é pautada no esporte que foi destinada a dominar. Ela é movida por elogios que afofam uma egolatria perigosa, em que seu principal objetivo é ser exaltada por habilidades que aperfeiçoou com o passar dos anos – nem que isso a faça usar os outros para benefício próprio. É assustador ver como Zendaya se transforma em cena navegando por sutilezas do olhar e do crispar dos lábios, explodindo em raiva e frustração quando não consegue a perfeição pela qual tanto preza.

Enquanto a atriz se mostra ávida por uma indicação Oscar – e deve conquistá-la com um trabalho tão primoroso quanto este -, ela é acompanhada pela presença inebriante de O’Connor, de ‘The Crown’, apostando fichas em uma persona também cheia de si, mas sem qualquer ambição aparente além das banalidades de uma jovialidade efêmera (não é surpresa que ele é taxado como infantil por nem sequer ter se preocupado em amadurecer); e de Faist, recém-saído de seu trabalho no remake de ‘Amor, Sublime Amor’, e encarnado o derrotista Patrick, eventual marido de Tashi, que não tem o mesmo apetite pelo esporte que seu ex-melhor amigo e que sua esposa e se vê submisso às vontades dos outros, como se não tivesse encontrado sua voz.

Para além de um elenco espetacular, Guadagnino não deixaria os elementos artísticos e técnicos do longa-metragem em segundo plano. Aliando-se à fotografia certeira de Sayombhu Mukdeeprom, o cineasta arquiteta um épico esportivo que não apenas nos coloca como membro do público, mas nos convida a sentir cada um dos saques, backhands e aces, transformando a experiência em uma sinestésica e competitiva jornada por um dos universos mais complexos da humanidade. Temos uma predileção pela simetria, pelo uso de tonalidades fortes como o azul-celeste e o verde, e uma mistura entre a passividade “de elite” do branco e o conflito urgente do amarelado – uma mixórdia completa de atingir, mas que é delineada com muita cautela.

A imersão promovida por Guadagnino não se restringe apenas à condução magistral do projeto, e sim a ramificações que incluem uma montagem frenética e pautada em um ritmo aplaudível (cortesia das habilidosas mãos de Marco Costa), e de uma trilha sonora que oscila entre orquestrações dissonantes e um apreço significativo pela nostálgica originalidade do techno-house (assinada por Atticus Ross e Trent Reznor, frequentes colaboradores do diretor). É notável como o mínimo deslize poderia transformar todo esse escopo em um festival camp cansativo, mas o time criativo sabe como caminhar por ensejos tortuosos – guiados pelo didático e provocante roteiro de Justin Kuritzkes, que nos oferece uma nova visão de um cosmos explorado ad nauseam pela sétima arte.

Assim mencionado no primeiro parágrafo, Rivais não é apenas um dos melhores filmes do ano, como uma bem-vinda adição à filmografia de Guadagnino. Aqui, o realizador constrói um tour-de-force indesculpável que se desvencilha de eufemismos e diz as coisas como elas, de fato são – e, como a cereja de um suculento bolo, nada disso seria alcançado sem a química apaixonante do elenco protagonista.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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