É difícil, na criação artística, determinar com precisão qual foi o primeiro a lançar uma determinada tendência estética. O que acaba-se decidindo como unanimidade é usar como referência aquele produto artístico que, dentre todos que se assemelham, fez maior sucesso de público. Isso ocorreu com a série fílmica ‘Crepúsculo’, que se tornou um fenômeno tão grande, mas tão grande, que se tornou referência no estilo de filme teen de romance proibido com adolescentes que têm todo tipo de liberdade. De lá para cá, dezenas de histórias semelhantes, com variações na motivação, surgiram nas últimas décadas, cativando o público fã desse tipo de história. O mais novo representante desse gênero é ‘O Fabricante de Lágrimas’, filme italiano que chegou recentemente ao catálogo da Netflix e vem se mantendo em primeiro lugar desde então.
Quando era criança, Nica (Elle Van Dorpe) viajava de carro com os pais quando sofreu um acidente e os perdeu para sempre. Órfã, fora levada para um orfanato cabuloso onde conhece o pior pesadelo, numa instituição onde ninguém tem privacidade e todas as crianças sofrem maus tratos terríveis. Apesar disso, é lá que ela faz uma boa amizade e que conhece um misterioso rapaz, Rigel (Simone Baldasseroni), a única criança a não sofres maus tratos físicos no local. Quando o casal Anna (Roberta Rovelli) e Norman Millingan (Orlando Cinque) vão ao orfanato e decidem adotar Nica (Caterina Ferioli), no meio do caminho veem Rigel tocando piano e decidem adotá-lo também. Uma vez na nova casa, os dois jovens irão resistir contra a avassaladora força do amor e do desejo que surge entre eles.
Baseado na obra homônima escrita por Erin Doom, ‘O Fabricante de Lágrimas’ tenta construir um romance juvenil que flerta com o proibido (afinal, na teoria, os dois jovens seriam irmãos, embora na prática fossem de famílias diferentes, adotados pelo mesmo casal apenas), mas, no final das contas, traz uma história que deixa a sensação ao espectador de que estamos perdendo alguma coisa – e o que nos falta no filme talvez esteja dentro do livro no qual fora baseado, mas que evidentemente o roteiro não adaptou bem. Escrito por Eleonora Fiorini e Alessandro Genovesi, o roteiro mantém as explicações no nível superficial, o que torna as motivações pessoais dos personagens todas muito rasas. Exemplo disso é a motivação de Rigel: por que ele era tão antipático com todos no orfanato? Por que tanta raiva gratuita? As explicações surgem ao final, de maneira pincelada, não contemplando o tanto de impedimento e contradição que o próprio personagem cria para si ao longo do filme, mas que provavelmente é melhor adensado no livro. Assim, enquanto adaptação, o roteiro se restringe ao mínimo.
Apesar disso, o intérprete Simone Baldasseroni conquista com sua pinta de galã estilo Manëskin, com seu mistério e sensualidade meio mequetrefe, mas que agrada especialmente nas cenas de pegação. No filme, salva-se mesmo a atuação da protagonista Caterina Ferioli, mesmo que a personagem ou o diretor Alessandro Genovesi não a ajudem.
Irregular e confuso, ‘O Fabricante de Lágrimas’ segue na vibe de sucessos recentes da Netflix como o espanhol ‘Através da Minha Janela’, mas cujos ares de ‘Crepúsculo’ com ‘O Lar das Crianças Peculiares‘ não são suficientes para manter a atenção do espectador no drama infinito de dois jovens traumatizados por um passado pouco explicado. Vale como passatempo, mas só.