No clássico de ficção científica da década de 1960, “O Planeta dos Macacos”, descobríamos junto ao protagonista, no auge do clímax, que a ação se passara o tempo todo na Terra. Já em “Depois da Terra”, novo blockbuster da Sony, tal revelação impactante é entregue logo de início. Confeccionado pelo astro Will Smith, para servir de trampolim para sua cria, Jaden Smith, o filme acompanha pai e filho lutando por sobrevivência e precisando desenvolver uma relação de confiança.
Como diz a narração inicial de Jaden, a Terra foi completamente devastada pelos humanos, fazendo com que procurassem no futuro outros planetas para viverem. Em seu novo lar, os terráqueos encontraram hostis alienígenas que soltaram neles a fúria dos Ursas, criaturas monstruosas que dizimam humanos guiados pelo cheiro de seu medo.
O general Cyrpher Raige (Will Smith) desenvolveu a técnica de combate às criaturas, conhecida como “fantasma”, onde o medo não é uma opção. Por anos, o militar vem treinando cadetes espaciais para se tornarem Rangers, e exterminarem a ameaça. Seu filho, Kitai (Jaden Smith), tenta de toda as formas se provar digno do pai. E a matriarca Faia (Sophie Okonedo) espera que os dois se tornem próximos.
Ao saírem numa missão, envolvendo o treinamento com um Ursa de verdade, pai e filho sofrem um terrível acidente a bordo de uma aeronave no espaço, no qual se tornam os únicos sobreviventes exilados justo no antigo lar dos humanos, a Terra. Agora, numa trama verdadeiramente simplista, o jovem precisa aprender a controlar seu medo e atravessar quilômetros a fim de salvar a si mesmo e seu pai (que quebrou a perna e foi colocado fora de ação).
Não tem como esconder o nepotismo impregnado em “Depois da Terra”, onde o astro Will Smith prepara o terreno e passa a tocha para seu primogênito. Criada por Will, a trama de “Depois da Terra” é também bancada por sua produtora, a Overbrook Entertainment. Um dos grandes problemas, é que embora não seja péssimo, Jaden Smith também não é um jovem ator talentoso para carregar basicamente sozinho uma produção desse porte.
Will aceita um papel coadjuvante em prol de alavancar a carreira do herdeiro. Entra na jogada o diretor indiano M. Night Shyamalan, que embora tenha começado a carreira como uma das vozes mais inovadoras do cinema americano atual, se encontra em baixa devido a consecutivos trabalhos execrados pelos especialistas, que igualmente ficaram longe de render boas bilheterias.
Shyamalan também aceita um trabalho genérico aqui, como um operário padrão de qualquer empacotado hollywoodiano. Para não dizer que nada em “Depois da Terra” remete ao cinema de Shyamalan, os mais meticulosos podem notar algum traço de assinatura em momentos de diálogos entre pai e filho, na trilha sonora, e no desenvolvimento da cena do clímax. A curiosidade fica por conta da direção de arte, que cria numa obra futurística um design no mínimo estranho. A civilização humana parece viver em grandes cavernas tecnológicas no novo planeta. Panos e velas de tecido fazem parte das estruturas e casas.
Tudo parece ser extremamente frágil dentro dos utensílios usados pelos humanos nesse futuro, seja com fins militares ou domésticos. “Depois da Terra” não mostra nada verdadeiramente incrível ou novo. Ao final o sentimento é o de se ter mascado um bom chiclete, não delicioso, no qual não se deposita um pensamento após ter sido descartado no lixo. Uma missão onde um jovem precisa atravessar um percurso enfrentando macacos, aves, e espécies de tigres não é exatamente um material digno do melhor blockbuster.
Dizem as más línguas que a produção é uma espécie de propaganda da Cientologia sobre dominar o medo. Alguém aí falou em “A Reconquista”?