Quinze anos depois, o elogiado filme musical ‘Encantada’ vai ganhar uma merecida sequência que trará boa parte do elenco original de volta – incluindo Amy Adams, Patrick Dempsey, Idina Menzel e James Marsden. Entretanto, depois do lançamento do primeiro trailer oficial pela Walt Disney Studios, fica claro que a história não será a mesma, prometendo uma inversão narrativa que deve ser bastante satisfatória.
Adams volta no papel de Giselle, a ingênua princesa de Andalasia que veio parar no nosso mundo. No longa-metragem original, Giselle mergulhava em um arco de amadurecimento gigantesco, que a arrancou da promessa certeira de um final feliz, a separou de seu “príncipe encantado” e a fez enxergar a vida com outros olhos – sem nunca deixar de ter esperança e sem desistir de seus sonhos. Depois de ter enfrentado a maligna Rainha Narissa (Susan Sarandon), nossa heroína finalmente encontrou a felicidade ao lado de Robert (Dempsey) e, agora, está na hora de partir para outra aventura.
Como pudemos perceber pelo trailer, Giselle deixa Manhattan para encontrar um novo lar ao lado do marido e da enteada, Morgan (agora interpretada por Gabriella Baldacchino). Ao chegar lá, eles são visitados por Edward (Marsen) e Nancy (Menzel), ambos reis de Andalasia. Mas tudo o que é bom dura pouco – e não leva muito tempo até que eles sejam visitados pela presença amedrontadora de Malvina Monroe (Maya Rudolph), proprietária da região em que vão morar. Quando as coisas começam a desandar, Giselle faz um pedido para que ela e a família tenham uma vida de contos de fadas – e o desejo sai pela culatra, transformando-a, no que parece, na vilã de sua própria história.
É claro que é cedo para tirar conclusões, mas é sempre interessante pensar em teorias, ainda mais quando tratamos de um filme tão adorado quanto este. Dizer que Giselle não está contente com o que conquistou parece exagerado demais: o que vemos é uma sensação de incompletude, como se sentisse falta do mundo que outrora conhecia em Andalasia, recheado de promessas certeiras e um futuro glorioso. E é embebida em uma fé inabalável e na mais pura das intenções que ela se aproxima do poço e dá início a uma aventura que deverá ser resolvida apenas por si mesma – afinal, é ela que dá o pontapé inicial para a trama (ao que tudo indica).
No momento em que o desejo de Giselle se concretiza, a realidade que conhece muda – e traz todos os elementos clássicos de um conto de fada. E, bom, para aqueles que conhecem este tipo de história, sabe-se que é necessário um herói ou uma heroína, um antagonista principal e obstáculos a serem enfrentados, bem como um cenário fabulesco e uma série de personagens coadjuvantes que terão papel imprescindível no arco do personagem protagonista. Mas, diferente do que esperávamos, é Giselle quem passa a se comportar como a vilã, destinada a permanecer em sua nova configuração caso não leve tudo de volta ao normal.
Apenas pelo trailer, é notável como o diretor Adam Shankman e a roteirista Brigitte Hales unem forças para uma sagaz empreitada que tem os elementos certos para se tornar um sucesso crítico e comercial. Aproveitando a crescente tendência de inverter os conceitos de bem e mal, como visto em ‘Once Upon a Time’, por exemplo, a dupla utiliza a configuração familiar de Giselle, Robert, Morgan e o filho recém-nascido para uma investida ambiciosa e que nos leva de volta à imagética da “madrasta má”. Giselle é a madrasta de Morgan – então porque não se respaldar nisso e transformar a otimista princesa em uma sarcástica mulher vilanesca? Pois é justamente aí que Morgan veste uma roupagem à la Cinderela, enquanto o bairro se transmuta em uma pintura perdida no tempo, onde cada pessoa interpreta seu respectivo papel para ajudá-la ou não.
E é aí que entra Malvina Monroe.
Segundo a descrição oficial, Malvina é responsável por tomar conta de Monroeville, a comunidade para a qual Giselle e os outros se mudam, e desde sua primeira aparição, é notável como seu caráter é duvidoso e suas intenções não visam à felicidade de ninguém além da própria. Acompanhada de dois funcionários, Malvina parece esperar o momento certo para atacar – o que acontece quando Giselle faz seu desejo e a personagem de Rudolph é transformada em uma Rainha Má, ou algo assim. E, considerando seus próprios planos, é bem improvável que ela queira desfazer o feitiço, servindo como o “diabinho no ombro” de Giselle para que ela assuma quem realmente é e mantenha as coisas como estão – uma segunda antagonista para apimentar um pouco o enredo.
Além das óbvias referências a ‘Cinderela’ e ‘Branca de Neve’ (incluindo um Espelho Mágico que aparece brevemente), Shankman joga várias homenagens aos clássicos literários do gênero – como ‘João e o Pé de Feijão’, ‘Pinóquio’ e ‘A Bela Adormecida’, seja em falas pontuais, seja no design das cenas. Infundido em uma metalinguagem apaixonante, não é surpresa que ‘Desencantada’ seja um dos filmes mais aguardados do ano – e, agora, é só esperar para conferir o resultado.