quinta-feira , 21 novembro , 2024

Dica do Fim de Semana | ‘Abracadabra’, um clássico cult de Dia das Bruxas para assistir em qualquer época do ano

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Anos antes de ganhar fama com a franquia musical High School Musical, Kenny Ortega conseguiu certa expressão ao trabalhar para os estúdios Disney em 1993, levando às telonas um dos longas-metragens mais relembrados pelos jovens e adolescentes da época e até mesmo pelas gerações que agora redescobrem os clássicos de outrora. Retornando às fábulas e às histórias envolvendo temidas e horrendas bruxas de séculos passados, o diretor foi responsável por Abracadabra, uma deliciosa e inocente história de aventura que inclusive deu origem a inúmeras outras narrativas infanto-juvenis do cinema contemporânea. É claro que o desapego com questões mais dramáticas, a irreverência excessiva e a falta de “ponderação comercial”, por assim dizer, não trouxeram bons resultados críticos ao filme, mas definitivamente não tiraram o apreço que mantemos por ele até hoje.

A princípio, a premissa não foge muito do padrão: ambientada em Salem dos dias atuais, a obra gira em torno de um grupo de crianças que traz de volta à vida três feiticeiras mortas há alguns séculos, retornando no Dia de Todos os Mortos para continuar um reino de terror e caos. As irmãs Sanderson, Winifred (Bette Midler), Sarah (Sarah Jessica Parker) e Mary (Kathy Najimy), em uma Nova Inglaterra colonial, foram responsáveis pela morte de inúmeras crianças, e suas caracterizações propositalmente exageradas dialogam com a visão que as pessoas tinham das mulheres que praticavam feitiços, viviam isoladas nas florestas e estavam associadas aos eventos mais bizarros possíveis. Entretanto, a ideia aqui não é trazer uma perspectiva crítica, e sim brincar com elementos convencionais sem cair em injúrias ou perpetuações de estereótipos.



Tudo ocorre na noite do dia 31 de outubro quando, durante as comemorações usuais de “gostosuras e travessuras”, um adolescente chamado Max (Omri Katz) resolve invadir a propriedade das irmãs e acender a Vela da Chama Negra, cuja lenda diz ter o poder de trazê-las de volta. Tentando se mostrar corajoso tanto para a irmã Dani (Thora Birch) quanto pela paixão secreta de nome Allison (Vinessa Shaw), ele ignora os avisos e depois lida com as consequências, lutando para matá-las novamente antes que consigam sugar a alma de uma criança e permanecer jovens para sempre. As coisas poderiam até serem fáceis para as Sanderson, se Max, auxiliado pelo gato enfeitiçado Thackery (Sean Murray), emprisionado como felino desde o século XVII, não houvesse roubado o Livro de Feitiços e fugido para longe.

Muito diferente do que podemos esperar, a obra de Ortega pode até não revelar habilidades técnicas precisas de direção ou condução da narrativa, valendo-se de clichês cênicos e um constante jogo de campo-contracampo que por vezes chega a saturar; aqui, o cineasta busca apenas pela diversão, unindo elementos do novo e do velho ao mesmo tempo que brinca com piadas compulsórias e práticas, na maior parte do tempo. Em outras palavras, à medida que a trama de perseguição se desenrola, as bruxas ganham uma personalidade menos intimista e mais cômica conforme enfrentam os obstáculos da época moderna, se assustado com as fantasias de Halloween, sendo enganadas por uma televisão e acreditando que seu Mestre, Satã, saiu do Inferno apenas para encontrá-las. Não podemos tirar credibilidade do diretor em criar uma atmosfera rica em aventura e divertimento – mas não espere muito mais que isso.

De fato, Midler rouba a atenção e serve como introdução para as outras personagens. Encarnando com precisão Winifred, ela se vale dos diálogos mais ácidos para compor a personalidade. E, como se não bastasse, ela consegue arquitetar uma base muito sólida entre presente e passado, utilizando jargões rebuscados à medida que se adapta aos novos tempos. Najimy e Parker por vezes são ofuscadas pelo brilhantismo teatral de sua colega, mas ainda têm seus momentos de glória. Sem sombra de dúvida, Sarah ganha mais força ao mostrar seus dotes vocais e sua sedução desmedida para alcançar os objetivos, mas é Winnie quem nos enfeitiça a cada frame, com ênfase na sequência em que faz uma rendição macabra de I Put a Spell On You”, amaldiçoando a cidade inteira.

Ademais, não há muito o que se falar sobre o longa. À parte da falta de inovações técnicas ou uma busca catártica over-the-top, que realmente não fazem parte da proposta narrativa, a mini saga ganha força com uma direção de arte que remonta a uma preocupação dramatúrgica digna de nota. Ortega, em colaboração com o time criativo, tem plena noção das escolhas que faz quando resolve aproximar sua obra de uma peça qualquer, abusando dos cenários expressionistas e distorcidos, o uso excessivo da névoa e de figurinos estonteantes e bufantes. Doug Jones insurge no papel do ex-amante de Winifred, Billy, e também faz jus a uma investida vanguardista, seja pela maquiagem, seja pela atuação.

Abracadabra não mereceu o insucesso que fez à época de seu lançamento. Sua redescoberta clássica não apaga seus deslizes claros, mas pelo menos o coloca num patamar desejável de diversão pura e inocente, com alguma sacada dialógica aqui e ali. De qualquer forma, ele é válido pelo revestimento irreverente e pelo saudosismo nostálgico de uma história deliciosa de ser acompanhada.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A princípio, a premissa não foge muito do padrão: ambientada em Salem dos dias atuais, a obra gira em torno de um grupo de crianças que traz de volta à vida três feiticeiras mortas há alguns séculos, retornando no Dia de Todos os Mortos para continuar um reino de terror e caos. As irmãs Sanderson, Winifred (Bette Midler), Sarah (Sarah Jessica Parker) e Mary (Kathy Najimy), em uma Nova Inglaterra colonial, foram responsáveis pela morte de inúmeras crianças, e suas caracterizações propositalmente exageradas dialogam com a visão que as pessoas tinham das mulheres que praticavam feitiços, viviam isoladas nas florestas e estavam associadas aos eventos mais bizarros possíveis. Entretanto, a ideia aqui não é trazer uma perspectiva crítica, e sim brincar com elementos convencionais sem cair em injúrias ou perpetuações de estereótipos.

Tudo ocorre na noite do dia 31 de outubro quando, durante as comemorações usuais de “gostosuras e travessuras”, um adolescente chamado Max (Omri Katz) resolve invadir a propriedade das irmãs e acender a Vela da Chama Negra, cuja lenda diz ter o poder de trazê-las de volta. Tentando se mostrar corajoso tanto para a irmã Dani (Thora Birch) quanto pela paixão secreta de nome Allison (Vinessa Shaw), ele ignora os avisos e depois lida com as consequências, lutando para matá-las novamente antes que consigam sugar a alma de uma criança e permanecer jovens para sempre. As coisas poderiam até serem fáceis para as Sanderson, se Max, auxiliado pelo gato enfeitiçado Thackery (Sean Murray), emprisionado como felino desde o século XVII, não houvesse roubado o Livro de Feitiços e fugido para longe.

Muito diferente do que podemos esperar, a obra de Ortega pode até não revelar habilidades técnicas precisas de direção ou condução da narrativa, valendo-se de clichês cênicos e um constante jogo de campo-contracampo que por vezes chega a saturar; aqui, o cineasta busca apenas pela diversão, unindo elementos do novo e do velho ao mesmo tempo que brinca com piadas compulsórias e práticas, na maior parte do tempo. Em outras palavras, à medida que a trama de perseguição se desenrola, as bruxas ganham uma personalidade menos intimista e mais cômica conforme enfrentam os obstáculos da época moderna, se assustado com as fantasias de Halloween, sendo enganadas por uma televisão e acreditando que seu Mestre, Satã, saiu do Inferno apenas para encontrá-las. Não podemos tirar credibilidade do diretor em criar uma atmosfera rica em aventura e divertimento – mas não espere muito mais que isso.

De fato, Midler rouba a atenção e serve como introdução para as outras personagens. Encarnando com precisão Winifred, ela se vale dos diálogos mais ácidos para compor a personalidade. E, como se não bastasse, ela consegue arquitetar uma base muito sólida entre presente e passado, utilizando jargões rebuscados à medida que se adapta aos novos tempos. Najimy e Parker por vezes são ofuscadas pelo brilhantismo teatral de sua colega, mas ainda têm seus momentos de glória. Sem sombra de dúvida, Sarah ganha mais força ao mostrar seus dotes vocais e sua sedução desmedida para alcançar os objetivos, mas é Winnie quem nos enfeitiça a cada frame, com ênfase na sequência em que faz uma rendição macabra de I Put a Spell On You”, amaldiçoando a cidade inteira.

Ademais, não há muito o que se falar sobre o longa. À parte da falta de inovações técnicas ou uma busca catártica over-the-top, que realmente não fazem parte da proposta narrativa, a mini saga ganha força com uma direção de arte que remonta a uma preocupação dramatúrgica digna de nota. Ortega, em colaboração com o time criativo, tem plena noção das escolhas que faz quando resolve aproximar sua obra de uma peça qualquer, abusando dos cenários expressionistas e distorcidos, o uso excessivo da névoa e de figurinos estonteantes e bufantes. Doug Jones insurge no papel do ex-amante de Winifred, Billy, e também faz jus a uma investida vanguardista, seja pela maquiagem, seja pela atuação.

Abracadabra não mereceu o insucesso que fez à época de seu lançamento. Sua redescoberta clássica não apaga seus deslizes claros, mas pelo menos o coloca num patamar desejável de diversão pura e inocente, com alguma sacada dialógica aqui e ali. De qualquer forma, ele é válido pelo revestimento irreverente e pelo saudosismo nostálgico de uma história deliciosa de ser acompanhada.

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