Fundada em 2012, a A24 é uma produtora americana que começou de forma bem modesta, mas começou a lançar filmes de repercussões expressivas pouco mais de dois anos após sua estreia no mercado. Com uma pegada mais autoral, a produtora vem financiando alguns dos projetos originais mais comentados dos últimos tempos, principalmente no drama e no horror. Neste e no próximo fim de semana, o CinePOP fará indicações de filmes da A24 que estão disponíveis nos principais streamings. Confira!
Ex Machina: Instinto Artificial (Netflix)
Indicado para o Oscar de Melhor Roteiro Original e vencedor do prêmio de Melhores Efeitos Visuais da edição de 2016, Ex-Machina é uma das melhores ficções científicas dos últimos anos. Estrelado por Alicia Vikander, Domhnall Gleeson e Oscar Isaac, o longa conta a história de um jovem e solitário programador que vence um concurso de seu trabalho para conhecer e trabalhar diretamente com o dono da empresa, um bilionário recluso que desenvolve projetos tecnológicos secretos em sua ilha particular. Ao chegar lá, o garoto descobre que o trabalho secreto era conviver e testar uma robô chamada Ava, que seria a primeira inteligência artificial do mundo. Porém, em meio a toda essa solidão, será que as coisas vão sair conforme o esperado?
Esse filme foi uma grata surpresa por usar a clássica mistura da ficção com o suspense para testar a confiança e moralidade dos personagens. Além disso, o cenário recluso e claustrofóbico da casa, e a pouca quantidade de personagens no filme, intensificam a sensação de desgaste que a trama quer passar. É um filmaço.
Sensação do Festival de Sundance 2015, A Bruxa foi vendido como o filme que fez Stephen King ter pesadelos. No entanto, a forma como o terror é trabalhado aqui é mais voltada para criar um clima constante de tensão do que efetivamente dar sustos a todo momento. Assim, não vá esperando ver um monte de jumpscares, porque pode acabar se decepcionando. O filme se passa na Inglaterra do século XVII, quando um puritano é excomungado por uma suposta heresia. Por conta disso, ele precisa se mudar com a família para outro terreno bem longe.
Depois de se estabelecer em uma região de floresta, a família começa a viver situações de muito azar, como a seca, acidentes na caça e o sequestro do bebê recém-nascido, que foi levado por uma bruxa para fazer manteiga. Depois disso, uma tristeza enorme toma a família, que segue vivendo uma série de infortúnios. Logo, eles acusam a filha mais velha (Anya Taylor‑Joy) de ser também uma bruxa. E aí entra o grande mérito do filme: o roteiro. Seria ela uma bruxa ou apenas uma jovem mulher esperta em tempos de ignorância e machismo?
Um Cadáver Para Sobreviver (HBO Max)
Outro sucesso do Festival de Sundance, essa dramédia bizarra é um dos filmes mais estranhos de todos os tempos. Estrelado por Paul Dano e Daniel Radcliffe, o longa é uma esquisita história sobre Hank (Dano), um rapaz perdido em uma ilha deserta que está prestes a cometer suicídio. Porém, ao ver um cadáver (Radcliffe) encalhar na praia, sua esperança de deixar a ilha aumenta. Isso porque o defunto começa a se “comunicar” com Hank por meio de puns. Conforme essa “relação” vai se desenvolvendo, Hank e Manny (o falecido) vão encontrando meios de sobreviver aos perigos da floresta enquanto desenvolvem uma amizade como poucas vezes se viu no cinema.
Mesmo com essa proposta estranha e muita escatologia – sério, não é um bom filme para se ver enquanto come -, o filme traz lições sobre amizade e faz uma reflexão sobre as relações e vida dos jovens atuais. Ele consegue trabalhar alguns temas bem pesados com bom humor e um fascínio incrível de alguém que está redescobrindo que viver vale a pena. É um daqueles filmaços que muita gente deixa de ver por conta da sinopse, mas é uma obra divertidíssima, dramática e apaixonante.
Indicado a Melhor Filme no Oscar de 2016 e vencedor do Oscar de Melhor Atriz para Brie Larson, O Quarto de Jack é uma adaptação de um livro considerado “inadaptável”. No entanto, com a ajuda da autora, o filme virou realidade ao contar a história de Joy (Larson), uma jovem que foi sequestrada aos 17 anos de idade que vive em cativeiro com seu filho Jack (Jacob Tremblay), um menino de apenas cinco anos que jamais deixou o cativeiro. O único acesso deles ao mundo exterior é uma janela trancada, que permite a entrada de luz, e os produtos que o sequestrador leva para mantê-los vivos.
Esse drama é repleto de tensão porque mostra o plano de Joy e Jack para tentarem escapar do quarto e as implicações que isso pode trazer para suas vidas. E a parte que deixa essa experiência ainda mais dramática é que o filme conta essa história pela perspectiva de Jack, a criança nascida em cativeiro, cujas noções de mundo se resumem ao quarto em que sempre viveu. Sem contar as atuações magistrais de Brie e Jacob.
Midsommar – O Mal Não Espera a Noite (Amazon Prime Video)
Dirigido por Ari Aster, esse terror é bem diferente da maioria, porque ele tem pouquíssimas cenas no escuro, usa e abusa de cores e trabalha bastante com o poder da sugestão, deixando para o espectador imaginar o que pode estar acontecendo ali. A trama conta a história de um casal em crise após a jovem (Florence Pugh) perder a irmã e os pais em uma situação bizarra. Traumatizada, ela se apoia no namorado, que já pensava em terminar o relacionamento, mas acaba “empurrando a situação com a barriga” por um sentimento de pena. Quando o rapaz decide ir para a Suécia com os amigos estudar um festival de solstício de uma comuna, a jovem acaba virando tema de debate. Depois de uma conversa, ela acaba se juntando ao grupo, contrariando a maioria dos amigos. Ao chegar no vilarejo, eles tem contanto com drogas e a outros convidados estrangeiros que vão dividir a experiência da comuna com eles pelos próximos dias. O problema é que as tradições dessa comunidade sueca são estranhas, envolvendo assassinatos, rituais de magia e até mesmo estupro. Logo, o grupo de amigos vai desaparecendo, deixando um clima muito incômodo no ar.
Além de trabalhar a direção de arte com visuais incríveis, cores fortes e cenas de pura psicodelia, o filme tem momentos de gore e trabalha uma questão interessantíssima: qual o limite do aceitável entre as “diferenças culturais” e bizarrice? Partindo dessa premissa, Ari Aster vai elevando ainda mais o nível de coisas terríveis que acontecem e o grupo vai aceitando.