quinta-feira , 21 novembro , 2024

Dica | Últimos dias para conferir ‘O Lobo Atrás da Porta’ na Netflix

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Lançado em outubro de 2013, O Lobo Atrás da Porta está com os dias contados no catálogo da Netflix. Programado para sair no dia 20 de fevereiro (terça-feira), o longa é um dos mais celebrados filmes nacionais de todos os tempos. Inspirado brevemente em uma história real, esse suspense conta com atuações magistrais de Leandra Leal e Milhem Cortaz, enquanto envolve o público na reconstrução de um crime repleto de camadas e barbaridades de todos os lados.



O longa começa com um interrogatório policial. Uma criança desapareceu após ser buscada por uma estranha na saída da escola. Constatado o absurdo e o descaso da dona da creche, o delegado decide abordar os pais da menina sequestrada de forma individual. A mãe (Fabiula Nascimento), coitada, não tem ideia do que está acontecendo e acha que os bandidos sequestraram a criança errada, já que eles não têm dinheiro ou posses para entregar. Já o pai (Cortaz) dá indícios de que possa ter uma noção do culpado ao revelar que mantém um caso extraconjugal com Rosa (Leal), uma jovem de Marechal Hermes.

Rosa é convocada para o interrogatório e começa negando as acusações. Porém, conforme os investigadores encontram novas pistas, ela muda seu depoimento. Com base nas vivências desses três personagens, os detetives vão reconstruindo a história, mas sempre pela perspectiva do trio.

Por se tratar de um suspense, o diretor Fernando Coimbra usa e abusa da ambiguidade moral de seus personagens, enquanto novos depoimentos e informações vão entrando na história. Com isso, o público toma conhecimento de toda a ‘história de amor’ problemática entre o pai e a amante, passando pelos problemas conjugais do casal e dos momentos que antecedem o sequestro da menina, que não tinha absolutamente nada a ver com o que seus pais faziam. É de tirar o fôlego como a trama traz viradas surpreendentes e chocantes. Junto a isso, o filme aposta em cenas de nudez e no terror psicológico para mostrar como alguns personagens são quebrados mentalmente e como outros ‘foram quebrados’ com o desenrolar da trama.

No fim das contas, não cabe ao público decidir quem é o grande vilão da história, até porque é uma trama inspirada em um caso real, então é mais fácil apontar quem é inocente nesse horror todo. Afinal, é um filme que tem seu maior mérito na habilidade de explorar essa zona cinzenta na moral humana e nas diferentes perspectivas que um mesmo caso pode ter.

Inspirado em uma história real

[O texto a seguir contém spoilers da trama do filme]

Apesar de ter estreado em 2013, o projeto do filme foi idealizado por Fernando Coimbra no início dos anos 1990, quando ainda estava na faculdade. A proposta do filme era recontar a história de um dos crimes mais famosos do Rio de Janeiro do século XX: o caso Fera da Penha. No entanto, a ideia do diretor era construir essa trama sem apelar para o sensacionalismo com que o crime foi retratado na época.

No final de 1959, Neyde Maia Lopes, de 21 anos, conheceu o baiano Antônio Couto Araújo, então com 26 anos. Eles começaram a flertar e eventualmente começaram a se relacionar. Eles sempre se encontravam em lugares diferentes na cidade do Rio de Janeiro e assim foi por aproximadamente seis meses. Neyde já considerava o rapaz seu namorado, até o dia em que foi abordada por um senhor na casa dos 50 anos, que disse a ela que Antônio não apenas era casado, como também era pai de família.

Como esperado, a jovem foi tirar satisfação com Antônio e perguntou se ele pretendia se separar da esposa ou não.

O rapaz enrolou a menina, porque queria seguir se relacionando com ela, mas sem assumir o relacionamento. Essa atitude covarde fez com que ela desse um ultimato: se ele quisesse continuar com ela, teria de pedir o divórcio. Ela afirmou que amava suas duas filhas e não desmancharia sua família por ela.

Dessa forma, Neyde jurou vingança e começou a se aproximar da esposa de Antônio, Nilza. Utilizando um nome falso, ela disse a Nilza que era uma amiga dos tempos de escola e que estaria interessada em se relacionar com o irmão da moça. Com isso, ela foi se aproximando não só de Nilza, mas também das filhas de seu amante. Durante as conversas, ela descobriu que a caçula, Tânia, de apenas quatro anos de idade, era o grande xodó de Antônio, então passou a trazer presentes e lembranças para ela.

Trazida para a casa da família Araújo, Neyde aprendeu os horários da rotina da pequena Tânia e bolou sua vingança. Em 30 de junho de 1960, ela ligou para o colégio da menina se passando por Nilza. Na ligação, ela disse que teria de ir ao médico e que sua ‘vizinha’ iria buscar a menina. Dessa forma, a mulher foi até o colégio, pegou a criança e foi com ela até o matadouro de gado da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Por lá, ela consumou sua vingança ao dar um tiro na nuca da criança e incendiar o corpo.

A polícia já havia sido acionada desde as 14h daquele dia 30, que foi a hora em que Nilza foi até a escolinha para levar o lanche da filha. Ao longo do dia, Neyde telefonou para a família para avisar que havia sequestrado a menina. O assassinato brutal aconteceu por volta das 20h. Logo após incendiar o corpo, a criminosa foi embora e deixou os restos mortais em brasa.

Poucas horas depois, um funcionário do matadouro estava fazendo uma ronda e seu cavalo se assustou com uma fogueira. O rapaz foi investigar e encontrou o cadáver carbonizado. Ele chamou a polícia, mas o caso caiu rápido na boca do povo e da imprensa. Antônio revelou ao detetive que mantivera um caso com Neyde, que foi detida para investigações em 1º de julho. A suspeita negou as acusações inicialmente, mas seguiu presa por conta da comoção popular. A imprensa vazou o caso a público e apelidou a mulher de Fera da Penha. Populares iam diariamente à delegacia para tentar fazer justiça com as próprias mãos. Então, quando ela precisou ser transferida, a polícia montou um esquema de duas viaturas, uma ‘para despistar’ e outra com a mulher. Há relatos de que cerca de 300 moradores da Penha, indignados com o caso, tentaram depredar a viatura ‘falsa’.

A imprensa fomentou o caso e Neyde foi transferida para a penitenciária de Bangu. Seu julgamento aconteceu em outubro daquele ano e durou cerca de 16 horas. Ela foi condenada a cumprir 33 anos de prisão em regime fechado por sequestro e homicídio. Porém, como a pena ultrapassava os 20 anos, a defesa solicitou um segundo julgamento, que ocorreria quatro anos depois e manteria a decisão inicial do juiz.

Porém, ela acabou cumprindo apenas 15 anos de prisão e foi solta em outubro de 1975. Durante o cárcere, a ‘Fera’ escreveu um diário em que revelou que teria engravidado de Antônio e que queria criar o bebê sem a presença do homem. No entanto, ela foi submetida a um aborto forçado e teve o filho retirado contra sua vontade.

A imprensa levantou um histórico da moça e a definiu como uma mulher que cresceu em meio a pais super protetores e teve de lidar com problemas de autoestima na adolescência, principalmente pelo tamanho e formato de seu nariz e por sofrer com acnes na pele. Além disso, ela era apaixonada por romances policiais. Essa combinação supostamente teria criado uma mulher patologicamente ciumenta. Além de ‘Fera da Penha’, ela foi apelidada pelos diferentes veículos da imprensa de: “Mulher Monstro”, “Frankenstein de Saias”, “Mulher Fera”, “Besta Humana”, “Psicopata Superstar” e a “Escorpião Fêmea”.

Em liberdade, Neyde voltou para a casa dos pais e viveu com eles até que morressem. Sua rotina era mais reclusa, já que sua história serviu como inspiração para filmes, livros, novelas e documentários, transformando-a em um tipo de bicho-papão carioca. Dizem os relatos que ela passava grande parte do tempo assistindo programas de TV.

Com o tempo, o caso foi caindo no esquecimento. Neyde Maia Lopes faleceu em 2 de maio de 2023, aos 84 anos, vítima de um AVC.

[Fim dos spoilers]

 

O trabalho de Leandra Leal é realmente fora de série, assim como a condução do suspense na trama. O filme é considerado uma das maiores obras já produzidas pelo cinema brasileiro, tanto que foi incluído pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

O Lobo Atrás da Porta pode ser visto na Netflix até a terça-feira (20 de fevereiro de 2024). O filme também está disponível no Star+.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Lançado em outubro de 2013, O Lobo Atrás da Porta está com os dias contados no catálogo da Netflix. Programado para sair no dia 20 de fevereiro (terça-feira), o longa é um dos mais celebrados filmes nacionais de todos os tempos. Inspirado brevemente em uma história real, esse suspense conta com atuações magistrais de Leandra Leal e Milhem Cortaz, enquanto envolve o público na reconstrução de um crime repleto de camadas e barbaridades de todos os lados.

O longa começa com um interrogatório policial. Uma criança desapareceu após ser buscada por uma estranha na saída da escola. Constatado o absurdo e o descaso da dona da creche, o delegado decide abordar os pais da menina sequestrada de forma individual. A mãe (Fabiula Nascimento), coitada, não tem ideia do que está acontecendo e acha que os bandidos sequestraram a criança errada, já que eles não têm dinheiro ou posses para entregar. Já o pai (Cortaz) dá indícios de que possa ter uma noção do culpado ao revelar que mantém um caso extraconjugal com Rosa (Leal), uma jovem de Marechal Hermes.

Rosa é convocada para o interrogatório e começa negando as acusações. Porém, conforme os investigadores encontram novas pistas, ela muda seu depoimento. Com base nas vivências desses três personagens, os detetives vão reconstruindo a história, mas sempre pela perspectiva do trio.

Por se tratar de um suspense, o diretor Fernando Coimbra usa e abusa da ambiguidade moral de seus personagens, enquanto novos depoimentos e informações vão entrando na história. Com isso, o público toma conhecimento de toda a ‘história de amor’ problemática entre o pai e a amante, passando pelos problemas conjugais do casal e dos momentos que antecedem o sequestro da menina, que não tinha absolutamente nada a ver com o que seus pais faziam. É de tirar o fôlego como a trama traz viradas surpreendentes e chocantes. Junto a isso, o filme aposta em cenas de nudez e no terror psicológico para mostrar como alguns personagens são quebrados mentalmente e como outros ‘foram quebrados’ com o desenrolar da trama.

No fim das contas, não cabe ao público decidir quem é o grande vilão da história, até porque é uma trama inspirada em um caso real, então é mais fácil apontar quem é inocente nesse horror todo. Afinal, é um filme que tem seu maior mérito na habilidade de explorar essa zona cinzenta na moral humana e nas diferentes perspectivas que um mesmo caso pode ter.

Inspirado em uma história real

[O texto a seguir contém spoilers da trama do filme]

Apesar de ter estreado em 2013, o projeto do filme foi idealizado por Fernando Coimbra no início dos anos 1990, quando ainda estava na faculdade. A proposta do filme era recontar a história de um dos crimes mais famosos do Rio de Janeiro do século XX: o caso Fera da Penha. No entanto, a ideia do diretor era construir essa trama sem apelar para o sensacionalismo com que o crime foi retratado na época.

No final de 1959, Neyde Maia Lopes, de 21 anos, conheceu o baiano Antônio Couto Araújo, então com 26 anos. Eles começaram a flertar e eventualmente começaram a se relacionar. Eles sempre se encontravam em lugares diferentes na cidade do Rio de Janeiro e assim foi por aproximadamente seis meses. Neyde já considerava o rapaz seu namorado, até o dia em que foi abordada por um senhor na casa dos 50 anos, que disse a ela que Antônio não apenas era casado, como também era pai de família.

Como esperado, a jovem foi tirar satisfação com Antônio e perguntou se ele pretendia se separar da esposa ou não.

O rapaz enrolou a menina, porque queria seguir se relacionando com ela, mas sem assumir o relacionamento. Essa atitude covarde fez com que ela desse um ultimato: se ele quisesse continuar com ela, teria de pedir o divórcio. Ela afirmou que amava suas duas filhas e não desmancharia sua família por ela.

Dessa forma, Neyde jurou vingança e começou a se aproximar da esposa de Antônio, Nilza. Utilizando um nome falso, ela disse a Nilza que era uma amiga dos tempos de escola e que estaria interessada em se relacionar com o irmão da moça. Com isso, ela foi se aproximando não só de Nilza, mas também das filhas de seu amante. Durante as conversas, ela descobriu que a caçula, Tânia, de apenas quatro anos de idade, era o grande xodó de Antônio, então passou a trazer presentes e lembranças para ela.

Trazida para a casa da família Araújo, Neyde aprendeu os horários da rotina da pequena Tânia e bolou sua vingança. Em 30 de junho de 1960, ela ligou para o colégio da menina se passando por Nilza. Na ligação, ela disse que teria de ir ao médico e que sua ‘vizinha’ iria buscar a menina. Dessa forma, a mulher foi até o colégio, pegou a criança e foi com ela até o matadouro de gado da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Por lá, ela consumou sua vingança ao dar um tiro na nuca da criança e incendiar o corpo.

A polícia já havia sido acionada desde as 14h daquele dia 30, que foi a hora em que Nilza foi até a escolinha para levar o lanche da filha. Ao longo do dia, Neyde telefonou para a família para avisar que havia sequestrado a menina. O assassinato brutal aconteceu por volta das 20h. Logo após incendiar o corpo, a criminosa foi embora e deixou os restos mortais em brasa.

Poucas horas depois, um funcionário do matadouro estava fazendo uma ronda e seu cavalo se assustou com uma fogueira. O rapaz foi investigar e encontrou o cadáver carbonizado. Ele chamou a polícia, mas o caso caiu rápido na boca do povo e da imprensa. Antônio revelou ao detetive que mantivera um caso com Neyde, que foi detida para investigações em 1º de julho. A suspeita negou as acusações inicialmente, mas seguiu presa por conta da comoção popular. A imprensa vazou o caso a público e apelidou a mulher de Fera da Penha. Populares iam diariamente à delegacia para tentar fazer justiça com as próprias mãos. Então, quando ela precisou ser transferida, a polícia montou um esquema de duas viaturas, uma ‘para despistar’ e outra com a mulher. Há relatos de que cerca de 300 moradores da Penha, indignados com o caso, tentaram depredar a viatura ‘falsa’.

A imprensa fomentou o caso e Neyde foi transferida para a penitenciária de Bangu. Seu julgamento aconteceu em outubro daquele ano e durou cerca de 16 horas. Ela foi condenada a cumprir 33 anos de prisão em regime fechado por sequestro e homicídio. Porém, como a pena ultrapassava os 20 anos, a defesa solicitou um segundo julgamento, que ocorreria quatro anos depois e manteria a decisão inicial do juiz.

Porém, ela acabou cumprindo apenas 15 anos de prisão e foi solta em outubro de 1975. Durante o cárcere, a ‘Fera’ escreveu um diário em que revelou que teria engravidado de Antônio e que queria criar o bebê sem a presença do homem. No entanto, ela foi submetida a um aborto forçado e teve o filho retirado contra sua vontade.

A imprensa levantou um histórico da moça e a definiu como uma mulher que cresceu em meio a pais super protetores e teve de lidar com problemas de autoestima na adolescência, principalmente pelo tamanho e formato de seu nariz e por sofrer com acnes na pele. Além disso, ela era apaixonada por romances policiais. Essa combinação supostamente teria criado uma mulher patologicamente ciumenta. Além de ‘Fera da Penha’, ela foi apelidada pelos diferentes veículos da imprensa de: “Mulher Monstro”, “Frankenstein de Saias”, “Mulher Fera”, “Besta Humana”, “Psicopata Superstar” e a “Escorpião Fêmea”.

Em liberdade, Neyde voltou para a casa dos pais e viveu com eles até que morressem. Sua rotina era mais reclusa, já que sua história serviu como inspiração para filmes, livros, novelas e documentários, transformando-a em um tipo de bicho-papão carioca. Dizem os relatos que ela passava grande parte do tempo assistindo programas de TV.

Com o tempo, o caso foi caindo no esquecimento. Neyde Maia Lopes faleceu em 2 de maio de 2023, aos 84 anos, vítima de um AVC.

[Fim dos spoilers]

 

O trabalho de Leandra Leal é realmente fora de série, assim como a condução do suspense na trama. O filme é considerado uma das maiores obras já produzidas pelo cinema brasileiro, tanto que foi incluído pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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