007 – Sem Tempo para Morrer, o vigésimo quinto filme oficial da franquia mais duradora do cinema, tem estreia programada para o dia 7 de outubro de 2021 – após ser adiado do ano passado devido à pandemia. Como forma de irmos aquecendo os motores para esta nova superprodução que, como dito, faz parte de uma das maiores, mais tradicionais e queridas franquias cinematográficas da história da sétima arte, resolvemos criar uma nova série de matérias dissecando um pouco todos os filmes anteriores, trazendo a você inúmeras curiosidades e muita informação.
Nada se cria, tudo se copia. Tendo esta máxima em mente, dá para entender um pouco como funciona a tendência de um sucesso e a mente de executivos de Hollywood – onde fazer dinheiro é a ordem de sempre. O sucesso de um “pequeno” filme chamado Star Wars influenciou o cinema comercial de uma forma sem precedentes. Logo todos buscavam sua fatia deste sucesso espacial. E a franquia 007 não ficaria de fora, por mais sem noção que esta ideia possa parecer. De fato, após o sucesso de O Espião que me Amava (1977), os créditos finais apontavam para Somente para Seus Olhos como a história seguinte do espião. Embora não seja inédito na franquia esse lapso, aqui ele era inteiramente influenciado pela ópera espacial de George Lucas. Sim, O Foguete da Morte levou James Bond ao espaço antes de Velozes e Furiosos decidirem por esta insanidade. Confira abaixo os detalhes de produção do 11º filme do maior espião da sétima arte.
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Produção
Após um início morno com filmes como Vive e Deixe Morrer e O Homem com a Pistola de Ouro (que quase tirou a franquia dos trilhos), a era Roger Moore (década de 1970) finalmente acertava com o terceiro longa O Espião que me Amava, um grande sucesso de crítica e público. Assim, ao desfecho era prometido a continuação em Somente para Seus Olhos. No entanto, no meio do caminho tinha uma “pedra” chamada Star Wars (1977), de George Lucas, que mudaria para sempre os filmes de entretenimento na história do cinema. Assim, diversos estúdios planejavam sua própria aventura no espaço, a fim de pegar aquele trem. A Disney lançava O Abismo Negro (1979), a Paramount surgia com Star Trek – O Filme (1979) e a FOX entregava Alien – O Oitavo Passageiro (1979).
Sem querer perder o Bond (com o perdão do trocadilho infame), o produtor Albert R. Broccoli (agora cuidando sozinho da franquia na EON com a saída do sócio Harry Saltzman) decidiu colocar o filme planejado para escanteio e focar seus esforços no terceiro livro escrito por Ian Fleming, Moonraker. É claro que a intenção sendo criar uma ficção científica espacial, a obra do autor sofreria severas modificações, resultando no terceiro ato mais insano e surreal da franquia até então. Se falássemos hoje que um filme levaria James Bond ao espaço, ninguém acreditaria. Mas eram os anos 1970.
Assim, com a ideia escolhida para o décimo primeiro 007 no cinema, vindo do sucesso financeiro de O Espião que me Amava, Lewis Gilbert era escolhido para dar continuidade ao filme anterior. Essa seria a terceira direção do cineasta em um longa da franquia, e também o último.
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James Bond
Esse era o décimo primeiro filme de 007 no cinema, mas para Roger Moore significava a quarta investida no papel. E a segunda após ter verdadeiramente se estabelecido como o personagem. Após um início “duro” nos dois primeiros filmes, Moore finalmente encontrava seu tom, deixava de “imitar” a personalidade rude de Sean Connery, para criar seu James Bond mais gaiato e, de certa forma, canastrão. A quarta aparição de Moore como o personagem pode ser definida exatamente desta forma, com todos afirmando que a graça deste filme só pode ser encontrada devido ao desempenho do ator no papel. Estabelecido como o James Bond dos anos 1970, Roger Moore chegava ao fim da década em grande estilo, para o bem ou para o mal.
Missão Secreta
Sim, este é o infame filme em que James Bond vai para o espaço e descaradamente “clona” Star Wars. Uma vez fora da Terra, o espião vai parar numa estação espacial com direito a batalhas de arma laser e até mesmo uma guerra nas estrelas, com soldados aliados contra inimigos em trajes de astronauta que disparam raios coloridos no melhor estilo de Darth Vader e seus companheiros. Sim, tudo é imensamente ridículo e surreal, deixando a sensação deste ser mesmo o ponto fora da curva na franquia – algo mais próximo a uma fantasia do que qualquer traço de realismo antes planejado.
É claro também que nada disso estava no texto original de Ian Fleming em seu terceiro livro, que se concentrava em vilões megalomaníacos arquitetando planos com satélites e foguetes espaciais (o tal foguete da morte do título). Mas Bond em si, nunca chegava a deixar a Terra. No filme, antes de ir para o espaço, porém, James Bond vai para… o Brasil, para o Rio de Janeiro. O Foguete da Morte não é apenas conhecido por ser o filme interplanetário de 007, mas também o capítulo em que o espião anda de bondinho no Corcovado e cai no samba em pleno carnaval carioca. Se isso não é diversão de primeira, não sei o que é.
Bondgirls e Aliados
Em termos de Bondgirl, o grande nome do décimo primeiro filme é Lois Chiles. A bela atriz havia estreado no cinema poucos anos antes, e já colecionava filmes chamativos, como O Grande Gatsby (1974) e Coma (1978). Antes de adentrar o universo do maior espião do cinema, Chiles fez parte do elenco grandioso de Morte Sobre o Nilo (1978), baseado no livro de Agatha Christie, que em breve lançará sua nova versão dirigida por Kenneth Branagh. No suspense, Chiles vive a mesma personagem a ser interpretada por Gal Gadot na nova versão.
Lois Chiles chegava no projeto como atriz “quente” da época. Sua personagem no filme é uma cientista que trabalha no projeto espacial do vilão, sem saber as verdadeiras intenções de seu patrão. Ao conhecer Bond, ela rapidamente entende a equação e muda para o lado certo, o ajudando a pôr um fim nos planos do gênio louco. A Bondgirl aqui é muito mais cerebral do que uma mulher de ação, como anteriormente, mas não se nega a ir para o espaço com o herói e participar da briga.
O que chama atenção verdadeiramente é o nome da personagem de Lois Chiles no filme. A franquia tem o histórico de trazer nomes duvidosos para as parcerias femininas do espião, com Pussy Galore (Honor Blackman), de Goldfinger (1964), sendo um dos casos mais notórios. Aqui a cientista que ajuda Bond se chama Holly Goodhead. Bem, à primeira vista os mais inocentes podem não perceber nada de errado, já que sendo uma mulher inteligente nada melhor que ter “Boa Cabeça” no nome. Porém, basta conhecer um pouco mais de gírias sexuais e saber que 007 é uma franquia cujo protagonista é dono de libido insaciável para sacar o trocadilho “sujo” com “head” (termo usado para sexo oral na língua inglesa).
Bernard Lee, Lois Maxwell e Desmond Llewelyn retornam para sua 11ª investida na franquia, como o chefe M, a secretária Moneypenny e o armeiro Q – e sobra até para este último a frase de cunho duplo sacana que termina o filme, quando Q profere que 007 está “tentando a reentrada” – na Terra e em sua companheira de cama naquele momento.
Vilões
O principal antagonista em O Foguete da Morte é Hugo Drax, magnata de indústrias bélicas e espaciais, que realmente figura no livro. No filme, como o plano era que a produção se concentrasse na parte dos efeitos especiais para o terceiro ato, a trama inicial foi quase toda reciclada do filme anterior, trocando somente o mundo submarino planejado por Stromberg (Curd Jürgens) para a sociedade fora do planeta, na lua, planejado por Hugo Drax. O vilão foi interpretado pelo renomado ator francês Michael Lonsdale, de O Dia do Chacal (1973). Ao contrário dos vilões da era Moore até o momento (que contavam com disfarces elaborados de dupla personalidade, três mamilos e mãos de nadadeiras), Drax não trazia nenhuma anomalia em sua caracterização física.
Drax não se mostrou um antagonista tão memorável assim para Bond. Por outro lado, quem retornava também do filme anterior era o capanga Jaws (o tubarão de dentes de metal), vivido novamente pelo gigante Richard Kiel, de 2.18m de altura. Jaws havia feito tanto sucesso em O Espião que me Amava que a produção tratou trazê-lo de volta para um papel bem maior desta vez. O grandalhão persegue 007 pelo Rio de Janeiro, luta nos bondinhos e parte os cabos com os dentes de metal. É pego por blocos carnavalescos e cai na dança. No fim, vai parar no espaço. Muito popular, e com muitos fãs crianças, a produtora recebia inúmeras cartas sobre o personagem pedindo para que ele se tornasse “bonzinho”. O desejo foi atendido pelos produtores e em O Foguete da Morte, Jaws arruma uma namorada e ajuda James Bond no desfecho.
Relatório
Não existe muito como defender O Foguete da Morte, a não ser num aspecto cômico. O filme é o que é, mas não conseguimos deixar a perplexidade de lado ao pensar que realmente fizeram isso. E o pior, alguém realmente achar que seria uma boa ideia, ou sequer se manifestar contra. Por muito tempo, e talvez até hoje, o décimo primeiro filme figurou na lista de 9 entre 10 fãs da franquia como a pior produção da série no cinema. Sim, é ridículo, insano e inacreditável. Porém, será que isso faz dele o pior?
Se levar em conta o fator credibilidade, sim. Mas ao contrário de alguns outros exemplares da franquia, O Foguete da Morte não se leva a sério em momento algum, tendo plena consciência e noção de seu ridículo. O filme nos pede para que entremos na brincadeira com ele, criando assim uma atmosfera muito divertida e dinâmica, não se tornando enfadonho em momento algum. É mais do que podemos dizer de alguns outros exemplares.
Fora isso, a patacoada espacial de James Bond viveu para se tornar um grande sucesso do cinema. Com uma parte técnica impressionante, além do retorno de John Barry na trilha sonora, o filme se tornou uma obra cult. Esse filme marca também a terceira canção de uma mesma intérprete para a franquia. Shirley Bassey já havia cantado os temas de abertura para Goldfinger (1964) e Os Diamantes São Eternos (1971), e retornou aqui. Para a canção Moonraker inicialmente a produção visava Frank Sinatra como intérprete, mas terminou na voz feminina de Bassey.
O Foguete da Morte se tornou em termos de bilheteria não apenas o maior sucesso de Roger Moore como o personagem, mas também o filme mais rentável da franquia inteira até aquele momento, ultrapassando os valores da era Sean Connery e do então recordista A Chantagem Atômica (1965). E a bilheteria de O Foguete da Morte seguiria como recorde durante toda a era Moore e a de Timothy Dalton, sendo batida somente com a entrada de Pierce Brosnan em Goldeneye (1995). Isso mostra que nem sempre uma boa bilheteria na época é sinônimo de ressonância para um filme, que pode ser reavaliado ao longo dos anos.