007 – Sem Tempo para Morrer, o vigésimo quinto filme oficial da franquia mais duradora do cinema, tem estreia programada em nova data para o dia 30 de setembro de 2021 exclusivamente nos cinemas – após ser adiado do ano passado devido à pandemia. Como forma de irmos aquecendo os motores para esta nova superprodução que, como dito, faz parte de uma das maiores, mais tradicionais e queridas franquias cinematográficas da história da sétima arte, resolvemos criar uma nova série de matérias dissecando um pouco todos os filmes anteriores, trazendo para você inúmeras curiosidades e muita informação.
Muito pode ser dito da era Pierce Brosnan na franquia 007, mas o fato foi que nos anos 1990 os produtores da EON Pictures finalmente recuperavam a popularidade que James Bond merecia junto ao grande público – algo visto anteriormente apenas com Sean Connery no papel, nos anos 1960, considerada a era de ouro do personagem. Hoje olhando para trás, no entanto, apesar de terem atingido números impressionantes de bilheteria na época, junto aos fãs a era de Brosnan não é uma das mais bem posicionadas. Isso porque o único filme do ator que parece ter alguma ressonância é justamente sua estreia em Goldeneye. E aqui, em sua quarta investida no agente secreto foi onde as coisas realmente saíram dos trilhos. Se prepare pois será uma viagem turbulenta. Vamos conhecer os detalhes de produção do vigésimo filme da franquia: Um Novo Dia Para Morrer.
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Produção
Os produtores Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, atuais chefes da EON Pictures, responsável pela franquia 007 no cinema, não poderiam estar mais felizes com seus últimos três filmes da franquia. Goldeneye, O Amanhã Nunca Morre e O Mundo Não é o Bastante foram verdadeiros fenômenos midiáticos, jogando a série novamente na cultura popular e permanecendo entre as maiores produções da época. É verdade que a concorrência na década de 1990 era grande, mas James Bond fazia frente de igual a igual. A cada novo exemplar um novo recorde era mantido, com O Mundo Não é o Bastante chegando para se tornar o mais rentável na franquia então.
Assim, a expectativa para o próximo exemplar não poderia ser maior. De fato, a MGM, estúdio responsável por lançar todos os filmes de 007, proporia um acordo para a EON visando o aniversário de 40 anos da franquia e o vigésimo filme da série. O estúdio estava disposto a oferecer o maior orçamento até aquele momento para comemorar as duas marcas em grande estilo. Em troca, o estúdio desejava o maior filme da franquia, um épico da ação. E para isso até tentaram conseguir grandes nomes do gênero, como Tony Scott e John Woo – ambos recusaram por achar que não teriam autonomia de comando na produção.
O que acontece é que naquela época, agora no início dos anos 2000, a concorrência havia ficado mais pesada para James Bond. E não apenas de outras superproduções, mas de outros filmes do gênero espionagem e ação no cinema. Em 2000, era lançado Missão: Impossível 2, com Tom Cruise, e havia se tornado fenômeno. Em 2002, A Identidade Bourne e Triplo X injetavam sangue novo no subgênero. De fato, a aventura com Vin Diesel até tirava sarro com 007, alfinetando o espião como algo ultrapassando e abrindo espaço para novos agentes secretos mais jovens e modernos. Assim, além de tudo o novo filme de James Bond precisava ser mais descolado e dinâmico.
Não deixe de assistir:
Para o comando, finalmente era contratado Lee Tamahori, que vinha do sucesso de No Limite (1997). A ideia do diretor era criar o filme da franquia mais grandioso e repleto de ação. Porém, à moda da época, terminou por encher as cenas com efeitos especiais gerados por computadores – um dos aspectos mais negativos da produção.
James Bond
Pierce Brosnan retornava para seu quarto filme no papel de James Bond e comemorava o vigésimo filme em grande estilo. No entanto, o resultado de Um Novo Dia Para Morrer terminou por, entre outras coisas, eliminar as chances de retorno do ator – algo que ele visava. Segundo entrevistas recentes, Brosnan afirma que estava pronto para retornar quando o estúdio e os produtores “fecharam a porta em sua cara”. Na verdade, quando Cassino Royale, que viria a ser o próximo capítulo da franquia, foi escrito, ele havia sido pensado com Brosnan no papel. Os realizadores finalmente voltaram atrás porque o centro do filme era a relação entre James Bond e Vesper Lynd, uma mulher que realmente mexeria com o espião e o faria repensar todo o seu papel na agência. E seria estranho ver Brosnan, então um cinquentão, vivendo este tipo de trama. Assim, a opção foi por um ator mais jovem, como bem sabemos. Infelizmente, Brosnan se despediria da franquia aqui, após seu quarto filme, sem que a ideia de deixar o papel tenha sido sua. De unânime mesmo em seu currículo como o personagem, apenas Goldeneye.
Missão Secreta
O vigésimo filme de 007 já começa de forma inédita, com James Bond sendo capturado na Coréia do Norte após uma missão ter saído errado. Após passar um ano e dois meses sendo torturado e aprisionado, ele finalmente consegue a liberdade e parte para se vingar. Esse é um dos filmes que mais exibem a tensão entre o agente secreto e sua chefe na agência M (ainda interpretada por Judi Dench). Suas pistas do vilão responsável por sua tortura, o Coronel coreano Tan-Sun Moon (Will Yun Lee), o levam diretamente para o magnata britânico Gustav Graves (Toby Stephens), empresário do ramo da energia limpa e playboy aventureiro de plantão. No encalço, o espião irá descortinar segredos estarrecedores, ao mesmo tempo em que, assim como em O Amanhã Nunca Morre e O Espião que me Amava, precisa colaborar com uma agente secreta de outro país, desta vez uma americana da CIA apelidada Jinx (Azarada).
Bondgirls e Aliados
Em Um Novo Dia Para Morrer temos provavelmente a atriz mais famosa e celebrada na franquia até aqui. Halle Berry era um nome muito conhecido, havia acabado de ganhar um Oscar (por A Última Ceia) e lançado a superprodução X-Men (2000) no papel de Tempestade. Berry estava em todo lugar e sua inclusão no vigésimo filme foi muito badalada. De fato, ela até dividiu diversos cartazes do filme com o protagonista, ganhando muito destaque no papel. Era a hora, afinal hoje se discute muito uma James Bond mulher. Jinx era uma agente da CIA na cola dos mesmos vilões. Era também a primeira Bondgirl principal negra da franquia, quebrando assim mais um tabu. Berry também foi a primeira atriz negra a ganhar um Oscar de atuação principal. O sucesso foi tanto que assim como Michelle Yeoh em O Amanhã Nunca Morre, sua personagem gerou muitos falatórios de um filme solo.
Ao contrário da atriz chinesa, o filme solo da personagem de Halle Berry parecia certo e chegou até a estágios de pré-produção, com um roteiro pronto e a direção de Stephen Frears vinculada. Nos finalmentes, a MGM desistiu da ideia, enfurecendo os produtores da EON. O estúdio, porém, visava investir no reboot de 007 com Daniel Craig no papel, assim não teria espaço para a personagem ter sua própria franquia derivada em outra linha narrativa, já que seria saída da era Brosnan. Pior para Berry e os fãs de Jinx.
Mas Um Novo Dia Para Morrer ainda conta com uma segunda Bondgirl. E se tem um quesito onde o filme acerta é em suas personagens femininas. Uma Rosamund Pike ainda “menina” aos 22 aninhos estreava no cinema e logo de cara abocanhava o papel de Miranda Frost. Agente do MI6 e colega de James Bond, Frost, como diz seu nome gelado, é a Bondgirl má e se revela uma traidora mancomunada com o principal antagonista do filme. Pike ficaria marcada em tais papeis e interpreta uma mulher fria e calculista como ninguém. A atriz deslanchou para a fama justamente num papel destes, como Amy Dune em Garota Exemplar (2014), pelo qual foi indicada ao Oscar. Depois disso, lançou na Netflix o igualmente ótimo Eu Me Importo. Mas tudo começou mesmo aqui, na franquia 007 com Miranda Frost.
Vilões
Como eu já havia mencionado anteriormente na matéria passada do Dossiê 007, uma característica que marcou a era Pierce Brosnan da franquia foram as reviravoltas em relação aos vilões. Em Goldeneye, o verdadeiro antagonista era 006, o ex-parceiro de James Bond dado como morto. Em O Mundo Não é o Bastante, a vítima de sequestro e herdeira do império de petróleo Elektra King era a verdadeira vilã manipulando a trama. E em Um Novo Dia Para Morrer sabemos que o vilão é o playboy Gustav Graves, mas não sabemos exatamente quem ele é.
Isto é, até termos revelada sua verdadeira identidade. Acontece que Graves passou por uma intensa cirurgia estética e reestruturação de seu DNA. Ele é na verdade o jovem Coronel Moon, que de coreano se tornou britânico, com feições ocidentais assumindo nova identidade. Bem, o fato é criativo, mas extremamente fantasioso. O que fez muitos fãs e críticos simplesmente torcerem o nariz, considerando esta reviravolta simplesmente idiota demais. E você, o que acha?
Fora isso, o vigésimo filme ainda traz um dos capangas mais estilosos da era Brosnan. Ou talvez o mais marcante, ao menos visualmente. Trata-se de Zao, personagem de Rick Yune. Soldado coreano e braço direito de Moon, ele é ferido numa batalha com James Bond e tem seu rosto totalmente cravejado de diamantes. Sua aparência esbranquiçada, de olhos claros e a pele toda marcada de diamantes é um dos visuais chamativos que a série tanto gostou de apresentar.
Relatório
Em resumo, Um Novo Dia Para Morrer foi para a era Brosnan o que O Foguete da Morte havia sido para a era Roger Moore. Um filme tão fantasioso, surreal e nonsense que fez os produtores repensarem totalmente o caminho que deveriam seguir. James Bond indo para o espaço fez sucesso na época, mas parando para pensar, era algo “muito sem noção”. A solução foi pelo filme mais “pé no chão” da era Moore em seguida, Somente Para Seus Olhos. Infelizmente, Pierce Brosnan não teve essa oportunidade e seria eliminado da série em nome de um reboot.
Os problemas de Um Novo Dia Para Morrer são muitos. O uso excessivo de efeitos especiais em cenas de ação tirou qualquer credibilidade mínima que o filme pudesse ter. A mais lembrada e criticada é a cena em que o espião, já cinquentão, usa um paraquedas para fazer kite surfe enquanto desliza numa grande onda. O filme é cheio destas “escorregadas”, como o infame carro invisível. Tudo isso faz grande parte dos fãs e críticos considerarem Um Novo Dia Para Morrer o pior filme da franquia. O “Batman & Robin” dos filmes de 007.
Um Novo Dia Para Morrer foi um sucesso estrondoso de bilheteria. Se tornou em seu lançamento o filme mais rentável da franquia. E também a prova de que um filme bem sucedido financeiramente pode ser insatisfatório e condenado por boa parte dos fãs. Na parte da trilha sonora, outro ponto emblemático, afinal os 40 anos da série não poderia sair por menos. A Rainha do Pop Madonna canta a música principal que abre o longa, com batidas eletrônicas. Mas a Material Girl fez mais, e resolveu participar numa ponta no papel de uma instrutora de esgrima, numa das cenas mais legais do longa.
Quando uma franquia cresce tanto ao ponto do ridículo, é necessário repensar. Um Novo Dia Para Morrer fez justamente isso, achando que seria descolado e se comportando como aquele “tiozão do pavê”, e chegando a um exagero que não tinha mais para onde ir. Assim, sabiamente, era necessário reiniciar. Pena por Brosnan. Mas iríamos adentrar um novo território bem realista da franquia. Isso, é claro, é tema para um próximo Dossiê.