A Netflix finalmente lançou sua série baseada no atemporal romance ‘Drácula’, assinado por Bram Stoker. E, por mais que muitas pessoas nunca tenham lido o livro original, já ouviram falar do icônico vampiro-titular – fosse em inúmeras histórias que foram inspiradas em sua controversa e assustadora presença, fosse nas múltiplas adaptações cinematográficas e televisivas desde os primórdios da indústria audiovisual.
Mas você sabe quem foi Drácula?
Dentre as diversas interpretações que o personagem recebeu, grande parte delas o colocava como um anti-herói assombrado por um passado complicado, ou um super-vilão maniqueísta com habilidade de conversar com morcegos e que morria de medo de virar pó com a luz do sol – e poucas colocando-o como inimigo mortal do alho, como rezava uma das várias lendas.
Entretanto, sua backstory é vai muito mais além do que imaginamos – e, para começarmos nosso breve resumo, é necessário viajarmos direto para a mística Transilvânia.
DA VERDADE AO MITO
Alguns dizem que a Transilvânia foi erguida sob um dos polos magnéticos mais fortes do planeta e, por causa disso, seus habitantes tem uma percepção extra-sensorial.
Lá, vampiros costumam se pendurar nos postes da rua durante o Dia de São Jorge e na véspera do Dia de St. Andrew – além de ser o cenário principal do livro de Bram Stoker. Logo, é bem fácil ser envolvido pelo conto durante a viagem pelas densas, obscuras e antigas florestas e através das alterosas montanhas que se estendem no horizonte.
Narrativas do sobrenatural vêm circulando o folclore romeno por séculos, até o momento em que o escritor em questão mergulhou nessas lendas e as transformou em um pote de ouro que nunca ficou fora de impressão desde sua primeira publicação em 1987. E, para dar vida a seu imortal Conde, Stoker imergiu na cultura local, a qual chamava de “fonte para a imaginação”.
O personagem ficcional Drácula, dessa forma, foi inspirado por uma das maiores figuras histórias da Romênia: Vlad Dracula (conhecido como Vlad, o Empalador), governante da região da Walachia entre os anos de 1456 e 1462. Nascido em 1431 em Sighisoara, ele ficou famoso por utilizar de uma cruel e sanguinária visão para punir seus inimigos – cujas ações inspiraram o novelista a criar o vampiro. Mesmo com tanta brutalidade, ele até hoje é visto como um grande herói nacional.
Mas como o enredo de Stoker se transformou num mito? Bom, uma explicação parcial é provida pelas próprias circunstâncias em que o livro foi escrito e lançado: afinal, uma epidemia genuína de “vampirismo” assolava a Europa Oriental no final do século XVII e estendeu-se até meados do XVIII. O número de casos reportados aumentou dramaticamente, inclusive nos Bálcãs, espalhando-se depois para a Alemanha, a Itália, a França, a Inglaterra e a Espanha.
Retornando do Leste, os viajantes contavam histórias sobre mortos-vivos, as quais ajudaram a manter o interesse sobre vampiros vivo. Filósofos ocidentais e artistas enfrentavam a situação com mais frequência – e, nesse caótico cenário, o romance de Stoker ergueu-se como pináculo de uma longa série de trabalhos baseados nos contos que cruzavam as fronteiras. E o mis interessante é que, na época, muitos leitores estavam certos de que ‘Drácula’ era inspirado por fatos reais e que havia sido apenas romantizada para fins literários.
DRÁCULA NO CINEMA E NA TV
Como já mencionado no início da matéria, o Conde Drácula ganhou os corações de um público geracional e continua encantando os novos espectadores com reformulações e revisitações à sua extensa mitologia. Dentro de seu cânone, o Rei dos Vampiros fez um acordo com o Diabo, que lhe garantiu vida eterna, mas com uma condição: para continuar com sua vitalidade e seus inúmeros poderes (incluindo a capacidade de controlar lobisomens), ele só poderia se alimentar de sangue humano.
A primeira versão para os cinemas foi lançada em 1922 e imortalizou-se no nome de ‘Nosferatu’. Apesar dos nomes alterados devido a problemas de concessão de propriedade intelectual, o enredo é bem parecido com o original: no longa-metragem de F.W. Murnau, o corretor de imóveis Knock (que substitui o protagonista Jonathan Harker) é requisitado pelo sinistro Conde Orlok para lhe encontrar uma casa na cidade de Wisborg. Entretanto, ao chegar lá, percebe que foi vítima de uma mortal armadilha e que se tornou prisioneiro de uma criatura horrenda.
Com o passar dos anos, a lenda foi encarnada por diversos nomes em perspectivas desconstruídas ou que promoveriam algo original para um clássico engessado: temos, por exemplo, a comédia de horror ‘Amor à Primeira Mordida’, de 1979, e que trouxe uma versão hilária de Drácula na pele de George Hamilton, e ‘Drácula – Morto mas Feliz’, dirigido por Mel Brooks e estrelado por Leslie Nielsen.
Dentro do drama sobrenatural, Bela Lugosi viveu o personagem principal em 1931 e eternizou a frase “morrer, realmente morrer. Deve ser glorioso”. Ainda que não agrade parte dos fãs do gênero horror, de fato ele se tornou essencial para trazer aspectos teatrais para as telonas. Christopher Lee também deve ser relembrado por seu aspecto sombrio, aterrorizante e que nutria um apreço magnífico pela arte do silêncio. Não é à toa que ele tenha interpretado o vilanesco Conde em nove filmes, brincando com temas como sadismo, brutalidade e realeza.
Na televisão, Drácula foi derrotado por Sarah Michelle Gellar em ‘Buffy – A Caça-Vampiros’ e tornou-se o deturpado par romântico de Eva Green na 3ª temporada da aclamada série ‘Penny Dreadful’. Entretanto, em 1968, o vampiro já fazia sua aparição na antológica ‘Mystery and Imagination’, interpretado por Denham Elliott – retornando como Jack Palance no remake de 1974.
Mas nem todas as adaptações foram bem-sucedidas; na verdade, algumas delas foram pífias na investida de resgatar qualquer elemento aproveitável dos escritos de Bram Stoker – como é o caso da alternativa realidade de ‘Van Helsing – O Caçador de Monstros’, em que seu arco era manchado por uma risível atuação de Richard Roxburgh, ou então da prequela ‘Drácula: A História Nunca Contada’ (a única que realmente mantém relações com o imperador Vlad e que falha em absolutamente todo o resto).
Agora, chegou a vez de Claes Bang vestir a lendária capa operística de Conde Drácula na próxima e aguardada adaptação – que promete misturar diversos gêneros em um só e aglutinar, em um mesmo lugar, a nostalgia dos filmes e séries predecessoras e uma necessária sensibilidade contemporânea.
Confira o trailer: