A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como seres humanos, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da sua trajetória com o cinema para vocês.
Nossa convidada de hoje para participar deste divertido questionário cinéfilo, completou recentemente duas décadas na Paramount, uma das grandes gigantes do universo audiovisual mundial. Cinéfila de carteirinha, figura presente em diversos eventos de vindas de astros nacionais e mundiais ao Brasil, estudou na Uerj na década de 90, e começou sua trajetória pelo amor aos filmes nos anos 80 quando viu um dos clássicos filmes da saga Star Wars com seu pai. Com grande conhecido sobre os filmes e sobre o mercado, Mariá Velasquez é um dos rostos mais queridos desse competitivo mercado audiovisual brasileiro.
1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.
Tenho duas salas preferidas e que frequento muito aqui no Rio: Kinoplex São Luiz e Espaço Itaú. Tem o critério de programação, onde encontro os filmes que desejo ver sendo programados, mas também tem a questão técnica pois são salas com excelente imagem e som. Também são pertinho de casa o que é um plus! Mas gostaria de mencionar uma terceira sala que amo e que por acaso fica no bairro que moro: Cine Santa. Lá encontro filmes premiados em festivais internacionais num ambiente charmoso e cuidado de perto pelos donos. Deu pra perceber que amo cinema de rua, né? Rs.
2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente?
Existem aí dois momentos. Tem a primeira vez que pisei numa sala de cinema em 1980 assistindo O Império Contra-Ataca e isso foi um marco na minha vida porque um mundo novo se abriu e vamos combinar que comecei muito bem! (risos). E tem também a primeira vez que fui no cinema sozinha (em 1980 fui com meu pai) pra ver o filme que todo mundo estava comentando. O filme que vi? ET … difícil sair daquela sala de cinema da mesma maneira que entrei depois disso, né?
3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?
Olha, bem difícil escolher porque meu filme favorito é Bonequinha de Luxo mas meu diretor favorito é Almodóvar então a conta não bate. Almodóvar é meu diretor favorito porque tudo o que ele faz eu amo, até quando ele erra a mão eu continuo amando (risos). Mas se tenho que escolher um filme favorito dele vamos de Tudo sobre Minha Mãe que é um filme que ainda me comovo depois de ter assistido dezenas de vezes.
4) Qual seu filme nacional favorito e por quê?
Cidade de Deus! Por várias razões, mas gostaria de contar uma história pessoal que tenho com esse filme. Em 1997 eu comecei a trabalhar com o audiovisual e nessa época eu organizei um concurso de roteiros. Eis que o roteiro de Cidade de Deus (que ainda não era filme) foi premiado como melhor roteiro de um roteirista estreante. Tenho orgulho de contar pra todo mundo que o primeiro prêmio do Cidade foi dado por mim. Mas é lógico que não é esse motivo que faz o filme ser o meu preferido, além de todas as qualidades técnicas ele possui um ingrediente que faz eu me apaixonar toda vez que o revejo, além da sua temática contundente ele é atemporal e pode ser visto hoje e daqui a 10 anos da mesma maneira. Acho que isso faz um filme ser clássico e pra mim Cidade é!
6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?
Depende da sua definição de “entender cinema”. Podemos ver da perspectiva do amante do cinema e realmente nem todos são, mas não necessariamente precisam ser. Acho importante o programador entender o seu público, cada sala de cinema tem um certo tipo de público e isso tem que ser levado em conta. Acho também importante ele conhecer o que o mercado está oferecendo, seja o filme um blockbuster ou um filme pequeno que ganhou um festival X. Resumindo, o programador precisa pensar no público que vai frequentar sua sala e proporcionar a ele a melhor experiência possível seja o filme que for.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Espero que não! (risos). Olha, essa história eu escuto há bastante tempo e até agora o cinema continua. Eu sou uma entusiasta e consumidora de streaming, mas nada supera uma sala escura. Existem filmes que você pode até rever no conforto da sua casa mas definitivamente tem que ser visto primeiro numa sala de cinema. Mas pra que o cinema não acabe, precisamos de filmes que contem histórias que motivem o público a sair de casa e precisamos que os cinemas proporcionem ao público uma experiência que ele não tem em casa ou na tela do celular. E esse desafio é com a nova geração.
8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Gostaria que muita gente tivesse visto o filme Anomalisa, animação de 2015 e dirigido por Charlie Kaufman e Duke Johnson. É uma animação que até concorreu ao Oscar mas pouca gente assistiu nos cinemas. É um filme diferente a começar por ser uma animação pra adultos que usa uma técnica inovadora e conta uma grande história de amor.
9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Se formos esperar a vacina (o que seria o ideal) as salas só reabririam no ano que vem e até lá os cinemas e toda a cadeia acabaria. Faço parte do movimento #JuntosPeloCinema, um movimento voluntário de mais de 200 profissionais que está preparando a abertura das salas de cinema. Nossa maior preocupação é a segurança do público e dos funcionários que trabalham nas salas de cinema. Só reabriremos se todos os protocolos de segurança estiverem de acordo com o que as autoridades sanitárias exigem e estamos há 4 meses trabalhando nisso. Tudo será feito com segurança e gradualmente. Existem etapas pra essa abertura e, de novo, só abriremos com 100% de certeza que será seguro pro público e pra quem trabalha nas salas.
10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Excelente! A cada ano vejo produções de qualidade compatível com qualquer nação. Podemos competir de igual pra igual em qualquer festival internacional. Temos diversidade e isso conta muito. Agora, se não houver incentivo do Estado não conseguiremos produzir, muito menos levar nossos filmes pra fora e virar vitrine o que ajuda a alavancar o público interno. Infelizmente estamos vivendo momentos difíceis e tudo o que conseguimos avançar pode estar regredindo.
11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.
Essa pergunta é uma pegadinha pois posso criar ciumeira então vou de unanimidade: Fernanda Montenegro. Tudo o que ela faz me interessa, seja no cinema, seja no teatro, seja na literatura. Uma diva que temos que reverenciar todos os dias!
12) Defina cinema com uma frase.
Minha terapia em doses semanais.
13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.
Uma vez fui assistir a um filme francês na sala 2 do Estação Botafogo (pra quem conhece sabe que é uma sala bem pequena). Comprei minha pipoca porque pra ir ao cinema significa comer pipoca. Pois bem, comecei a comer com todo cuidado do mundo, deixando pra mastigar somente quando havia música pra não perturbar ninguém. Mas ao meu lado um senhor muito mal humorado não só reclamou do barulho da pipoca, como levantou gritou com todo o cinema e foi pra primeira fila. Eu ri, afinal, isso também faz parte de ir ao cinema! (risos)
14) Defina ‘Cinderela Baiana’ em poucas palavras…
Sei que vou passar vergonha, mas eu nunca assisti … sei que tem toda uma questão em cima do filme mas ainda não tive a oportunidade. Farei e, breve! (risos)
15) Você trabalha em uma major, a Paramount. Qual conselho você pode dar para jovens cinéfilos que querem trabalhar com cinema no Brasil?
Estudem! A melhor maneira de conseguir seguir uma carreira é estudar aquilo que você pretende trabalhar. E não falo de estudo formal não. Assistir a filmes e discutir sobre eles é uma maneira de estudar. Na quarentena eu já me matriculei em três cursos online sobre cinema (assuntos diversos) e aprendi MUITO! Acho que conhecimento nunca é demais. Sempre há algo novo para se aprender. Frequentem festivais e mostras pois além de ter contato com filmes de outros países você fará contato com pessoas do mercado e isso também é muito importante.
16) Tem muito cineasta que não é cinéfilo. Você acha fundamental ser cinéfilo para dirigir um filme?
Acho que não é fundamental, mas seria o ideal pois pra mim ser cinéfilo é ter contato com todos os tipos de filmes e isso te dá uma bagagem cinematográfica incrível e muito referencial. Todos os meus diretores preferidos são cinéfilos e isso está refletido nas suas obras.
17) Tarantino ou Almodóvar. Por quê?
Então amo os 2 e já respondi lá em cima que Almodóvar é meu diretor predileto mas Tarantino chega ali juntinho!
18) Diga um ídolo seu do mundo do cinema que já conseguiu ver de perto e conte aonde foi.
Então, por trabalhar na Paramount tive oportunidade e o privilégio de chegar perto e até me relacionar com grandes ídolos de cinema mas tive a sorte de fazer o lançamento do filme Mãe! do Darren Aronofsky e foi uma experiência incrível estar tão perto desse cineasta incrível no lançamento de um filme tão inovador. Mas gostaria de destacar também meu contato com o Tom Cruise nas duas vezes que ele esteve no Brasil lançando dois filmes da Paramount. Confesso que não era tão fã dele assim mas depois desses dois contatos com ele virei fã de carteirinha pois ele é a pessoa mais profissional e gentil do mercado com que trabalhei.