O Oscar deste ano acontece no dia 12 de março. Como sempre, os indicados foram recebidos com muita felicidade por parte dos fãs, ao perceberem que seus filmes preferidos do ano foram lembrados. Como sempre também tiveram aqueles considerados surpresas (positivas em sua grande maioria), filmes que não eram esperados para nomeações. E também os esnobados, filmes ou artistas que eram vistos como certos de indicações, mas terminaram “esquecidos no churrasco”. Sim, como já deu para perceber, o assunto da matéria é o Oscar. Mas não falaremos sobre o Oscar 2023 especificamente. Como você já deve ter lido no título, aqui iremos abordar os únicos 8 filmes originais da Netflix que tiveram a honraria máxima de ser indicados na categoria principal do Oscar: ou seja, melhor filme de seu respectivo ano.
É muito curioso pensar que a Netflix, a maior plataforma de streaming da atualidade, e a pioneira no mercado, começou a produzir seus próprios filmes em 2015, há menos de 10 anos atrás. E logo de cara em sua estreia, a empresa transformada em estúdio chutou a porta com os dois pés ao entregar o provocativo Beasts of No Nation, poderoso drama sobre crianças-soldado na guerra civil de um país africano não identificado – protagonizado pelo ótimo Idris Elba. A Netflix queria ver sua primeira produção original indicada ao Oscar, mas as regras da Academia, ainda insegura quanto aos filmes de streamings e sua relevância, não permitiriam. Logo no ano seguinte a Academia começou a revisar suas regras e aos poucos foi flexibilizando a entrada de produções da Netflix no Oscar.
O primeiro a aparecer entre os indicados foi o documentário A 13º Emenda (2016), de Ava DuVernay, indicado ao Oscar em sua respectiva categoria. Depois vieram outros documentários em anos seguintes, como Ícaro (2017), Indústria Americana (2019) e Professor Polvo (2020). Mas o primeiro longa-metragem de ficção a ser agraciado com nada menos que 4 indicações foi Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi (2017). O filme passou por festivais, como Sundance e Toronto e cumpriu todos os requisitos pedidos pela Academia, como ser exibido previamente nos cinemas e em uma quantidade considerável de salas. Aqui no Brasil, o filme recebeu lançamento da Diamond Films e não da Netflix. Mas Mudbound, apesar de nomeações importantes como melhor atriz coadjuvante (Mary J. Blidge) e melhor roteiro adaptado, não foi indicado ao Oscar de melhor filme. A porta estava aberta, no entanto.
Nessa matéria, porém, iremos abordar apenas os filmes que receberam indicação na categoria principal, ou seja, como melhor produção cinematográfica do ano. Conheça quais são abaixo.
Roma (2018)
Roma, drama em preto e branco escrito e dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón (Gravidade, 2013), ficará para sempre na história como o primeiro filme original da Netflix a receber uma indicação na categoria principal no Oscar. E não apenas isso, muitos críticos e cinéfilos davam como certa a sua vitória, não conseguindo aceitar até hoje a sua derrota para o muito controverso Green Book – O Guia. Ainda mais em um ano em que tínhamos obras do nível de Infiltrado na Klan. Roma é um retrato da própria infância do diretor e da relação de sua família com a empregada doméstica no México. Roma foi indicado para melhor filme, melhor atriz (Yalitza Aparicio), melhor atriz coadjuvante (Marina de Tavira), melhor roteiro original, melhor direção de arte, melhor edição de som e melhor mixagem de som, e levou as estatuetas de melhor direção (Cuarón), melhor filme estrangeiro e melhor fotografia.
O Irlandês (2019)
Quando a Netflix anunciou a parceria com Martin Scorsese, um dos mais importantes diretores de cinema de todos os tempos, muitos acreditavam que o resultado não sairia por menos. E o que a plataforma de streaming fez aqui foi simplesmente financiar o novo filme de máfia de Scorsese – gênero no qual o cineasta fez sua carreira, em obras como Os Bons Companheiros (1990), Cassino (1995) e Os Infiltrados (2006), por exemplo. Aqui, o diretor se reunia a uma dupla e tanto, Robert De Niro e Joe Pesci – dos dois primeiros filmes citados – e de quebra trazia Al Pacino ao barco, em sua primeira colaboração juntos. O Irlandês foi indicado para 10 Oscar: melhor filme, melhor direção (Scorsese), melhor ator (Pacino), melhor ator coadjuvante (Pesci), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor figurino, melhor edição e melhores efeitos visuais.
História de um Casamento (2019)
Considerado o melhor filme do diretor Noah Baumbach, ou ao menos o mais palatável ao grande público, História de um Casamento é um belo relato que fala sobre o fim de um grande amor e como funciona os bastidores da desestruturação de uma família. No mesmo ano de O Irlandês, a Netflix emplacou outra produção original entre os indicados a melhor filme no Oscar. De quebra a obra serviu para dar a tão merecida e aguardada primeira nomeação da estrela Scarlett Johansson, que protagoniza o longa. História de um Casamento foi indicado para os prêmios de melhor filme, melhor atriz (Scarlett Johansson), melhor ator (Adam Driver), melhor roteiro original e melhor trilha sonora. Sua única vitória ocorreu na categoria de melhor atriz coadjuvante para Laura Dern.
Mank (2020)
Outro que se beneficiou bastante da parceria com a Netflix, foi o renomado David Fincher, considerado um dos mestres do suspense atual. Mank, no entanto, assim como Benjamin Button, é uma investida do diretor no drama. Esse projeto era muito pessoal para Fincher, pois foi escrito por seu pai. A história é uma biografia do icônico roteirista Herman J. Mankiewicz (responsável pelo texto do atemporal Cidadão Kane, 1941). E se existia alguma dúvida sobre a importância dos streamings para o mercado do audiovisual, o destino tratou de resolver com a pandemia, fazendo o Oscar reconsiderar de vez a candidatura de obras lançadas para serem assistidas em casa. Todo criado em preto e branco, Mank obteve indicações para melhor filme, melhor ator (Gary Oldman), melhor direção (David Fincher), melhor atriz coadjuvante (Amanda Seyfried), melhor som, melhor trilha sonora, melhor maquiagem e melhor figurino, além das vitórias por melhor direção de arte e melhor fotografia.
Os 7 de Chicago (2020)
O ano de 2018 abriu a porta para a primeira produção original da Netflix receber indicação para melhor filme. No ano seguinte tivemos logo dois filmes da casa indicados. O ano de 2020, no auge da pandemia, é claro que esse número não ficaria para trás com mais dois longas da plataforma nomeados. Depois de Mank, sobrou também muito prestígio para Os 7 de Chicago, segundo filme na direção do excelente dramaturgo e roteirista Aaron Sorkin – um dos grandes nomes da indústria no segmento. A história é baseada em um dos casos que ainda assombram a cultura americana, quando protestantes contra o governo entraram em choque com a polícia e foram julgados como criminosos. Os 7 de Chicago traz um grande elenco e foi indicado para 6 Oscar – entre eles: melhor filme, melhor ator coadjuvante (Sacha Baron Cohen), melhor roteiro original, melhor edição, melhor fotografia e melhor canção original.
Ataque dos Cães (2021)
Podemos interpretar a constante nomeação de não um, mas sempre dois filmes originais da Netflix ano após ano, como uma espécie de retratação da Academia, e um reconhecimento pela relevância da empresa produtora audiovisual no mercado pelo mundo. De 2018 para cá não passou um ano sequer em que não tivéssemos uma produção original da Netflix entre os indicados a melhor filme – e na maioria destes anos tivemos dois filmes representando. Foi o caso em 2021. Primeiro, Ataque dos Cães – um faroeste bem diferente de todos os outros que ousa escancarar uma realidade varrida a todo custo para debaixo do tapete no passado. Ataque dos Cães é moderno e antiquado ao mesmo tempo.
O filme também guarda o recorde de maior número de indicações para uma produção original da Netflix – com 12 nomeações, seguido por Roma, O Irlandês e Mank (com 10 indicações cada um). Em matéria de vitórias, no entanto, Roma está na frente com 3 estatuetas. Já Ataque dos Cães foi indicado para melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhores atores coadjuvantes (Jesse Plemnos e Kodi Smit-McPhee), melhor atriz coadjuvante (Kirsten Dunst), melhor ator (Benedict Cumberbatch), melhor direção de arte, melhor som, melhor fotografia, melhor edição e melhor trilha sonora; levando apenas o prêmio de melhor direção para a segunda mulher da história a conquistar o feito: a neozelandesa Jane Campion.
Não Olhe para Cima (2021)
Nem só de dramas pungentes são construídos os grandes filmes que se tornam marcos da sétima arte. A história do cinema é repleta de obras que são críticas ácidas a um momento pelo qual a sociedade mundial passa. Foi assim com Rede de Intrigas (1976), por exemplo. Não Olhe para Cima segue exatamente nesta linha e será para sempre conhecido como o filme do negacionismo, onde divergências políticas em especial transformaram ao menos metade da população em, bem, por falta de palavra melhor, idiotas que desaprenderam a pensar. Toda sátira precisa ser exagerada para enfatizar um ponto, e o diretor Adam McKay é um especialista nisso, tendo criado obras ácidas do nível de A Grande Aposta (2015) e Vice (2018). Não Olhe para Cima foi indicado para melhor filme, melhor edição, melhor trilha sonora e melhor roteiro original.
Nada de Novo no Front (2022)
Esse ano, o número de filmes originais da Netflix indicados ao Oscar na categoria principal foi reduzido, mesmo assim é claro que não ficaríamos sem um representante da plataforma buscando o prêmio máximo do cinema. Desta vez, curiosamente um filme não americano foi o escolhido pelos votantes para representar a Netflix na categoria principal: o impactante drama alemão de guerra Nada de Novo no Front. A obra, é claro, é baseada no livro clássico de Erich Maria Remarque, sobre um soldado idealista alemão vendo de perto os horrores na frente ocidental durante a Primeira Guerra Mundial. A história já havia sido levada às telas em 1930, no filme Sem Novidade no Front. A nova versão tem 9 indicações ao Oscar: melhor filme, melhor filme estrangeiro (Alemanha), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor maquiagem, melhor som, melhor trilha sonora e melhores efeitos visuais.