Não se fala outra coisa além das indicações ao Oscar 2025. Isto é, se você for um cinéfilo inveterado como nós. Essa é a época para correr atrás dos filmes que postulam o maior prêmio da sétima arte. E você, já correu atrás de todos eles? Quantos já assistiu?
Entre polêmicas envolvendo a campanha de ‘Emília Pérez’, em especial no que diz respeito à atriz Karla Sofía Gascón; todos os filmes indicados começam a pipocar no Brasil. Fora isso, nosso favorito, ‘Ainda Estou Aqui’, voltou com tudo ampliando seu circuito após as três indicações ao Oscar. Já temos também em cartaz ‘Anora’, ‘Conclave’ e ‘A Verdadeira Dor’. Em breve chegam ‘O Brutalista’ e ‘Um Completo Desconhecido’.
Mas você já reparou certas semelhanças entre os filmes indicados ao Oscar 2025 e outros longas do passado? É isso o que iremos propor nessa nova matéria do Oscar. Iremos propor uma brincadeira e voltar ao passado, mas nossas décadas preferidas: os anos 80 e 90. Aqui, traremos certas semelhanças entre os indicados ao Oscar deste ano e os filmes do passado. Confira abaixo.
Ainda Estou Aqui | O Que é Isso, Companheiro? (1997)
Fernanda Torres e Selton Mello em um drama sobre a ditadura, que se tornou um indicado do Brasil ao Oscar? Acho que já vimos isso antes em algum lugar. Quase trinta anos antes de ‘Ainda Estou Aqui’, essa dupla de atores queridos havia trabalhado em ‘O que é isso, Companheiro?’, filme que aborda a luta armada contra a ditadura. E se quisermos encontrar outro filme que guarda semelhanças com ‘Ainda Estou Aqui’ ainda teremos ‘Central do Brasil’, de 1998. Embora os temas não tenham nada a ver, o longa foi dirigido pelo mesmo Walter Salles, teve duas indicações ao Oscar (filme estrangeiro e atriz) e conta com Fernanda Montenegro, a mãe de Fernanda Torres, protagonizando. As Fernandas são as únicas atrizes brasileiras indicadas ao Oscar.
A Substância | A Morte lhe cai Bem (1992)
Alguns cinéfilos notaram a semelhança entre ‘A Substância’, sucesso cult do ano, estrelado por Demi Moore, com uma produção querida dos anos 90: ‘A Morte lhe Cai Bem’, de 1992, de Robert Zemeckis. Em ambos os filmes, temos uma figura pública famosa que está envelhecendo e ficando esquecida pela indústria do entretenimento. A solução encontrada em ambos os filmes é uma “poção mágica”, que promete a juventude e beleza eterna. É claro que em ‘A Substância’, por ser um terror, o processo é muito mais visceral e as conclusões mais dramáticas. Mas está tudo lá, até o desfecho em que as mulheres são praticamente reduzidas ao pó.
Anora | Uma Linda Mulher (1990)
Desde que estreou em festivais e veio chamando atenção, as primeiras críticas de ‘Anora’ já o associavam a ‘Uma Linda Mulher’ (1990), filme que fez a carreira de Julia Roberts, e promete fazer também a de Mikey Madison. A comparação é bastante óbvia, apesar de ‘Anora’ ser uma versão mais crua e realista dessa história, longe do conto de fadas de Hollywood. Em ambos os longas temos uma trabalhadora do sexo. Em ‘Uma Linda Mulher’, ela é uma prostituta de rua (por lá conhecida como “street walker”), e em ‘Anora’, uma stripper de um clube noturno, que se prostitui nas horas vagas. Em ambos os filmes também temos um ricaço que se conecta com a protagonista e desenvolve com ela um relacionamento além do profissional.
Duna – Parte 2 | Duna (1984)
‘Duna’, épico espacial de Denis Villeneuve, é uma das melhores coisas feitas no cinema nos últimos cinco anos – sem dúvida. Assim como ‘Kill Bill’, de Quentin Tarantino, podemos considerar os dois ‘Duna’ como um filme só – já que são mais do que histórias complementares, são a mesma história, dividida ao meio. Tudo, é claro, baseado no clássico da literatura de ficção científica, de Frank Herbert. Mas você sabia que os filmes de Villeneuve não são a primeira adaptação do clássico para o cinema? Pois é, querido leitor. Seguindo de perto o sucesso da trilogia original de ‘Star Wars’, Hollywood se viu sedenta por um novo épico nas estrelas, e em 1984, com produção de Dino De Laurentiis e dirigido por David Lynch, a primeira versão do complexo conto chegava às telonas. Apesar do fracasso, o filme reviveu anos depois como cult.
Conclave | O Nome da Rosa (1986)
Agora temos o filme que pode vir a entregar o primeiro e tão aguardado Oscar da carreira do talentoso Ralph Fiennes. Na trama, uma conspiração no Vaticano, promete sacudir os alicerces da igreja católica, durante a nomeação do novo Papa. Uma temática religiosa, que expõe a podridão nos corredores religiosos. Em 1986, também tivemos um thriller com bases religiosas, que possuía uma grande conspiração em seu cerne. Aqui falamos de ‘O Nome da Rosa’, clássico de Jean-Jacques Annaud, estrelado por Sean Connery como um monge franciscano do século XIV, que chega a um vilarejo para investigar misteriosos assassinatos de outros clérigos.
Wicked | O Mundo Fantástico de Oz (1985)
‘Wicked’ foi um dos maiores sucessos do fim do ano passado. O filme se trata da adaptação do musical dos palcos para o cinema. Muito querido do público, alguns ainda tinham dúvida se a ideia se traduziria para um sucesso nas telas. Não existe mais esta dúvida. Mas o que talvez alguns ainda não tenham se atentado, é que ‘Wicked’ serve de prequel para o atemporal ‘O Mágico de Oz’ (1939). Mas agora está preparado para ter sua mente explodida? Você sabia que ‘O Mágico de Oz’ teve uma continuação na década de 1980? Pois bem, foi em 1985 que a Disney produziu esta sequência ambiciosa, que levava a menina Dorothy de volta ao reino de Oz, para o encontro com seus velhos amigos, o Leão, o Espantalho e o Homem de Lata. No filme, que deu vida à Dorothy foi uma jovenzinha Fairuza Balk, que nos anos 90 estrelaria filmes como ‘Jovens Bruxas’ e ‘O Rei da Água’.
Emília Perez | Traídos pelo Desejo (1992)
Polêmico dentro e fora das telas, o musical ‘Emília Pérez’ é o filme que recebeu mais indicações ao Oscar nesta temporada. Foram treze ao total. O longa conta sobre uma mulher trans tentando mudar de vida e deixar seu passado como um temido chefe de cartel de drogas mexicano para trás. Esse ainda é um tema controverso, do qual não conhecemos tanto por ser algo bem complexo. Em 1992, outro filme indicado ao Oscar já arriscava falar sobre este tema da transsexualidade. Nos referimos a ‘Traídos pelo Destino’, que abordava a transsexualidade sem a operação física para a transição. Também tínhamos uma trama passada em um país estrangeiro, trocando o México pela Irlanda. Jaye Davidson foi indicado ao Oscar por seu retrato como Dil, uma cantora de cabaré, por quem o protagonista vivido por Stephen Rea se apaixona.
Nickel Boys | Os Donos da Rua (1991)
‘Nickel Boys’ é o grande azarão desta temporada. O menor filme entre os indicados, o longa apresenta o relacionamento de amizade entre dois jovens negros crescendo em um reformatório. Ao longo dos últimos anos, ganhamos muitos filmes que abordam questões raciais, mas o primeiro a falar abertamente sobre essa representatividade foi ‘Faça a Coisa Certa’ (1989), de Spike Lee. Logo em seu rastro veio ‘Os Donos da Rua’, que fala sobre a relação de amizade entre jovens negros crescendo em um bairro perigoso de Los Angeles. O filme dirigido por John Singleton fez do saudoso cineasta o mais jovem a ser indicado na categoria de direção e também o primeiro cineasta negro a ser nomeado.
Um Completo Desconhecido | The Doors (1991)
‘Um Completo Desconhecido’ será o último filme indicado ao Oscar deste ano a estrear nos cinemas brasileiros. Isto é, se ‘Nickel Boys’ receber distribuidora e estrear antes – ou quem sabe chegar a algum streaming. O filme, dirigido por James Mangold, é a biografia do lendário Bob Dylan, personificado por Timothée Chalamet. O diretor Mangold não é estranho à biografias musicais, tendo comandado também ‘Johnny e June’, sobre Johnny Cash e June Carter. Falando do gênero das biografias musicais, uma das maiores dos anos 90, ocorreu bem no início da década, em 1991, quando o vencedor do Oscar Oliver Stone decidiu escancarar as portas (com o perdão do trocadilho) de Jim Morrison e o The Doors. Dois anos depois, era a estrela Tina Turner quem ganhava uma biografia, que indicou Angela Bassett ao Oscar. Antes de tudo isso, nos anos 80, Ritchie Valens era o tema num filme que marcou época: ‘La Bamba’ (1987).
O Brutalista | A Lista de Schindler (1993)
Em uma premiação, destas que antecedem o Oscar, um apresentador brincou que Adrien Brody era um sobrevivente do Holocausto pela segunda vez. Isso porque o ator já havia participado de um filme com temática do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial com ‘O Pianista’ e agora voltava em ‘O Brutalista’. Mas quando falamos de nazismo e de Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, nenhum outro filme consegue superar ‘A Lista de Schindler’, ainda hoje o filme definitivo sobre o tema. Semelhante temos os tempos de duração bastante longos, embora ‘O Brutalista’ ainda consiga superá-lo, com 15 minutos a mais. Curiosamente, Ralph Fiennes está presente aqui também, neste filme vencedor do Oscar em 1994, e recebia sua primeira nomeação. O ator está indicado este ano com ‘Conclave’.