Este ano o astro Eddie Murphy promete fazer as pazes com o sucesso de novo, com o lançamento de ‘Um Tira da Pesada 4’, uma das produções mais aguardadas da Netflix para 2024. Podemos até dizer que nenhuma outra produção do streaming causa tanto hype quanto esta, pelo menos para os nostálgicos dos anos 80 e 90. E por que cismamos em falar de Eddie Murphy e dedicar matérias a ele? Simples, porque Murphy é um dos artistas negros mais importantes a ter passado por Hollywood, altamente representativo e pioneiro.
Sim, já existiam atores negros de sucesso em Hollywood antes de Eddie Murphy, como Sidney Poitier, Richard Pyror e Morgan Freeman, no entanto, Murphy surgia em uma época muito propícia para o cinema: os anos 80. Foi neste período que Hollywood deixava de fazer filmes e criava superproduções que se tornariam pedaços da cultura pop, permeando o imaginário do público para sempre. Nessa época, Eddie Murphy era um ator negro inigualável, cujo sucesso e a viabilidade como protagonista abriu portas para gente como Will Smith, por exemplo.
Eddie Murphy viu como poucos os altos e baixos de sua carreira, protagonizando fracassos homéricos, somente para logo depois acertar em cheio com um novo sucesso. Porém, uma jogada interessante que o astro tem feito nesses tempos em que Hollywood privilegia os chamados ‘IPs’, apostando em marcas de sucesso do passado, é tirar do papel sequências de alguns de seus filmes mais queridos. Foi assim com ‘Um Príncipe em Nova York 2’ e com o vindouro ‘Um Tira da Pesada 4’.
Pensando nisso, resolvemos listar algumas produções clássicas de Eddie Murphy, dos anos 80 e 90, que muito bem poderiam receber roupagens modernas atualmente. São filmes igualmente queridos, e alguns que os fãs pedem continuação há tempos. Confira abaixo.
48 Horas
Antes de ‘Um Tira da Pesada’, Eddie Murphy já havia emplacado um sucesso elogiado de crítica e público, com o policial ’48 Horas’. No filme, Murphy não era um policial, mas sim um criminoso encarcerado, libertado por um período de dias para ajudar o policial Nick Nolte a encontrar um assassino. ’48 Horas’ teve uma continuação em 1990, mas seria bem interessante revisitar essa dupla disfuncional mais uma vez.
O Rapto do Menino Dourado
Esse filme saiu no mesmo ano do igualmente cult ‘Os Aventureiros do Bairro Proibido’ e levou a melhor sobre ele, resultando em uma bilheteria bem mais satisfatória. Ambos usavam aventuras sobrenaturais de fantasia em suas tramas, assim como o uso de bastante humor. Apesar do sucesso moderado na época para a Paramount, as críticas não foram muito lisonjeiras. Agora, passados mais de 36 anos, seria interessante encontrar o cara de pau Chandler Jarrell para mais um round.
Os Picaretas
Fazer mais um ‘Os Picaretas’ poderia funcionar bastante hoje. Isso porque a comédia de 1999, estrelada por Eddie Murphy e Steve Martin falava sobre os bastidores de Hollywood, onde um aspirante a diretor usava toda a sua artimanha para produzir seu novo filme, que contaria com o maior astro daquela época. O detalhe é que tal astro não sabia que estava no filme, e sua participação ocorria no esquema “câmera escondida”. Com o roteiro certo, a continuação poderia alfinetar a indústria hoje, e usar a metalinguagem como sátira do excesso de franquias.
O Professor Aloprado
Eddie Murphy recuperou seu prestígio em meados dos anos 90 graças ao sucesso desta reimaginação do clássico dos anos 60 com Jerry Lewis. Ao contrário da timidez e apenas inadequação social, o filme de Murphy resolveu apostar na crítica à gordofobia como fonte de sua narrativa. Embora muitos possam achar inapropriado, a intenção do filme é justamente mostrar como a sociedade, ao menos na época, exigia a busca inatingível do padrão de beleza. Seria interessante ver o tipo de discurso que o diretor certo poderia incluir em uma eventual terceira aventura do professor Sherman Klump, um dos personagens mais queridos da carreira de Murphy.
Um Distinto Cavalheiro
Se formos buscar lá no fundo do acervo dos longas de Eddie Murphy, encontraremos a sátira política ‘Um Distinto Cavalheiro’, de 1992, filme que brincava dizendo que qualquer um, por mais inadequado que seja, pode adentrar na política se tiver os recursos certos. Assim, um golpista de primeira junto com sua equipe de estelionatários se tornam políticos e chegam ao congresso americano. Infelizmente, nos dias de hoje vivemos algo parecido, com figuras polêmicas e sem experiência na política, como Donald Trump, ocupando o cargo máximo de um país. Com o roteiro e realizador certos, poderia ser uma sátira certeira. Por outro lado, poderia ser como mexer em um vespeiro.
O Negociador
Esse aqui talvez seja um tiro muito no escuro. Isso porque ‘O Negociador’ é quase como “o primo pobre” de ‘Um Tira da Pesada’ – e poderia muito bem ter sido um quarto exemplar da franquia de Axel Foley caso fosse adaptado para isso. Apesar disso, ‘O Negociador’ possui sim os seus méritos e apesar de não ter feito o sucesso esperado, com o passar dos anos se tornou um item cult, entre outras coisas por revelar o talento e a beleza de Carmen Ejogo.
A diferença é que Scott Roper (Murphy) é um negociador de reféns. Na época esse tipo de profissional estava em voga, com ‘A Negociação’ chegando logo no ano seguinte. Se Murphy quisesse apostar na ação novamente e nas trancinhas no cabelo, poderia tirar do papel uma sequência.
O Príncipe das Mulheres
Lançado no mesmo ano de ‘Um Distinto Cavalheiro’, ‘O Príncipe das Mulheres’ é igualmente um filme que ficou datado em seu discurso machistas e hoje não desce da mesma forma que no passado. Isso porque no filme Murphy vive um mulherengo inveterado, um sujeito bem-sucedido profissionalmente cujo maior hobby é enganar e seduzir o maior número possível de mulheres, as levar para a cama e sumir de suas vidas o mais rápido possível.
Eram os anos 90. No fim, como era comum em histórias assim, ele encontra redenção e muda seu comportamento ao se apaixonar pelo amor verdadeiro. A sequência do filme precisaria entrar muito mais em sintonia com o comportamento atual e o empoderamento feminino, talvez sequer sendo viável sem muitas críticas.
Trocando as Bolas
Finalizando a lista dos filmes clássicos de Eddie Murphy que poderiam ganhar continuação, temos ‘Trocando as Bolas’, de 1983. Um dos temas mais debatidos atualmente no mundo de forma consciente é a desigualdade social que assola o mundo. Coisa que um país como o Brasil conhece muito bem. De um lado da cidade temos alguns dos metros quadrados mais caros do país e de outro, pessoas passando fome e vivendo nas ruas.
Essa questão está no centro de ‘Trocando as Bolas’, que traz uma aposta muito politicamente incorreta entre dois bilionários sobre o famoso “o meio faz o homem”. Assim, eles decidem fazer de um sem-teto golpista (Eddie Murphy) o vice-presidente de sua empresa, e tiram todos os privilégios de um playboy (papel de Dan Aykroyd). Seria curioso ver o que poderia ser feito nesse sentido em relação à trama do filme com um pensamento mais alinhado com os dias de hoje.