Peter Parker sempre representou alguém capaz de superar grandes revezes. Não apenas no conteúdo de suas histórias nas quais enfrenta super-vilões e tenta equilibrar sua tumultuada vida pessoal. Quando Martin Goodman, o antigo editor da Marvel, pediu que Stan Lee criasse um personagem, depois do grande sucesso do “Quarteto Fantástico”, nasceu um dos heróis mais populares da editora já desacreditado por Goodman que teria dito ‘Todos odeiam aranhas! Adolescentes são apenas ajudantes de heróis, e não um personagem titular’. Não poderia estar mais errado.
Quando o filme de Sam Raimi encerrou sua exibição, fechou o caixa do estúdio com US$ 1,418, 565 bilhões. Claro que uma sequência estava nos planos, e coube a Sam Raimi voltar à cadeira de diretor. Maior o poder, maior a responsabilidade, já diz a famosa frase que resume as aventuras do simpático cabeça de teia. O roteiro inicial de Michael Chabon, Alfred Miles e Miles Millar (os dois últimos eram os responsáveis pela série “Smallville”) foi escrito e rescrito várias vezes. Inicialmente, previa-se um Dr, Octopus mais jovem que dividiria as atenções de Mary Jane com Peter Parker. Quando o premiado roteirista Alvin Sargent (Gente como a Gente, Lua de Papel) foi chamado reescrever a história, se concentrou nos conflitos internos de Peter dividido entre sua vida de herói e sua vida particular, cada um com um rival a enfrentar. Enquanto procura salvar a cidade do megalomaníaco Dr. Octopus (um fabuloso Alfred Molina), ainda precisa disputar o amor de Mary Jane (Kirsten Dunst) que está noiva do astronauta John Jameson (Daniel Gillies) , justamente o filho do editor do Clarin Diário. Isso sem mencionar o ódio cada vez maior de seu melhor amigo, Harry Osborn (James Franco) , que culpa o Homem Aranha pela morte de seu pai, no final do primeiro filme.
Sargent e Raimi mergulharam no que faz do Homem Aranha um personagem tão encantador, fácil de se identificar, equilibrando esse lado emocional com muita ação. Por um lado Peter caminha ao som da clássica canção ‘Raindrops keep falling on my head’, por outro temos a sequência da luta entre o Homem Aranha e Dr. Octopus no trem, que foi a primeira a ser filmada, e que está entre os momentos mais eletrizantes de um filme do gênero. Quando Peter perde usa máscara no final da luta, os dois garotos que lhe devolvem a máscara são irmãos de Tobey Maguire na vida real. Ao renunciar a sua vida de herói, na cena em que está sem poderes em um beco, na chuva, Raimi recria a icônica capa de “Amazing Spider Man #50”, com impressionante detalhismo. O filme todo consegue traduzir o clima das hqs, desde sua fantástica abertura em que o filme original é recriado pela arte realista de Alex Ross, um dos melhores do meio.
O elenco está perfeito no filme, principalmente Alfred Molina impressionante na transformação de um gênio, que acredita no bem da ciência para a humanidade, em um vilão cruel numa caracterização típica de um Dr. Caligari, do clássico de Fritz Lang. O ator, recém-saído do papel de Diego Rivera em “Frida” (2002), precisou perder peso para o papel. Os tentáculos foram feitos com uma mistura de efeitos práticos com efeitos digitais. Molina vestia uma cinta de metal e borracha com os tentáculos controlados como marionetes, sendo ocasionalmente substituídos por CGI. Tobey Maguire quase ficou de fora do filme devido a terríveis dores nas costas. O estúdio chegou a considerar substituí-lo por Jake Gyllenhall, que acabou fazendo o vilão Mysterio em “Homem Aranha Longe de Casa”. A sequência em que Peter, sem poderes, cai e machuca as costas acaba funcionando como uma piada interna. Outro momento divertido é quando J.Jonah Jameson (J.K.Simmons) pede que seu assistente batize o novo vilão, e ao ouvir a sugestão de Dr.Estranho, ao que retruca ‘Esse já existe’. Já Willem Dafoe gostou tanto de seu papel de Norman Osborn, que voltou em Homem Aranha 2 como uma alucinação de Harry (Franco), uma participação curta, mas pontual na história para promover Harry a antagonista.
Lançado em 30 de junto de 2004, o filme teve bilheteria recorde de US$40,4 milhões em sua estreia, superado no ano seguinte pela estreia de “Star Wars – Episódio III : A Vingança dos Sith” (Star Wars Episode IIII : Revenge of the Sith). O segundo filme consegue causar um impacto enorme, principalmente em seu final, abrindo caminho para o terceiro episódio, tal qual uma história em quadrinho que deixa aberto as possibilidades para que o herói enfrente um novo desafio. Se a vida de cada um de nós parece uma teia embaraçada, Peter Parker nos mostra como sobreviver, fazer o que é certo apesar dos sacrifícios. Não à toa o cantor Jorge Vercilo já disse ‘Eu tenho uma ideia. Você na minha teia‘. Assim também mostraram Stan Lee e Steve Ditko, então volte aqui para o cinepop, para o próximo artigo em que falaremos sobre o terceiro filme de Sam Raimi.