terça-feira , 5 novembro , 2024

[Exclusivo] Cinema Speculations | Uma noite de conversa com Quentin Tarantino em Paris

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Em passagem com a família por Paris, Quentin Tarantino teve a ideia de organizar uma noite de conversa com o público para o lançamento do seu livro de ensaios Cinema Speculations, em francês pela editora Flammarion e tradução de Nicolas Richard. Localizado em um dos cinemas mais antigos e emblemáticos de Paris, o Grand Rex – inaugurado em 1932 -, o encontro revelou também novidades dos seus futuros projetos. 

Os 2.700 assentos do local de três andares foram esgotados duas semanas antes do evento, ocorrido na noite de quarta-feira, 29 de março. A antologia de Tarantino, no entanto, chegou ao mercado mundial em outubro do ano passado em inglês, mas ainda não ganhou tradução em português. 

Cinema Grand Rex, no Boulevard Poissonnière, 2º distrito de Paris

 

Após adaptar o seu próprio roteiro de Era uma Vez em Hollywood em um romance, o cineasta norte-americano tomou gosto pela escrita literária. Apresentado por Thierry Frémaux, o diretor do Festival de Cannes, o qual conduziu o bate-papo com o público, Tarantino foi recebido com a entonação de “Joyeux Anniversaire...” [Parabéns para você…], por conta dos 60 anos completos dois dias antes, no dia 27 de março. Para astrólogos de plantão, é exatamente a mesma data e ano que a Xuxa.  

Bastidores do Evento 

Para o espetáculo, o cineasta proibiu a presença de qualquer aparelho telefônico e fotográfico. Todos os celulares eram silenciados ou colocados em modo avião e lacrados em uma bolsa com alfinete de segurança, tal como nas lojas de roupas. Ou seja, impossível de abrir sem um aparelho específico. 

Por que tanta segurança? Por mais que Tarantino queira vender livros, ele detesta a ideia de alguém procurar algo no celular enquanto ele está falando. Algo que ele deixa claro logo no início da conversa. “Eu era o IMDb na minha época de juventude, hoje em dia eu falo uma referência e as pessoas correm ao celular para procurar e não me deixam nem terminar de falar. Elas checam a informação, entram por um ouvido e sai pelo outro.”, desabafa o cineasta. Saudosista, ele diz que antigamente ele sabia tudo sobre todos os diretores e atores, porque ia à biblioteca pesquisar. 

Os ingressos para o espetáculo eram salgados, entre 44 e 77 euros, isto é, 245 e 429 reais. O livro, entretanto, estava mais em conta sendo vendido por 25 euros, mas sem autógrafo e sem esperanças de o cineasta fazê-lo após a apresentação. Perguntas para o ídolo? Apenas Thierry Frémaux tinha este poder e os dois tinham uma certa camaradagem, uma vez que Tarantino foi presidente do Festival de Cannes, em 2004, quando deu a Palma de Ouro ao documentário Fahrenheit 11 de setembro, de Michael Moore

Sobre o que é o livro? 

O motivo do encontro era a troca de experiência cinéfila entre Quentin Tarantino e o seu público. Seu grande efeito durante a infância e a pré-adolescência? Ver filmes os quais seus colegas de classe não podiam assistir, como o violento Perseguidor Implacável (Dirty Harry, 1971), com Clint Eastwood, e o terror O Uivo da Bruxa (1970), com Vincent Price. Segundo ele, a sua mãe era bastante permissiva e dizia: “Quentin, eu me preocupo mais com você quando assiste ao noticiário. Um filme não faz mal.” Vale lembrar que a época narrada no livro de 1968 a 1981, passa pelo auge dos crimes de Charles Manson nos noticiários estadunidenses, tema de Era uma vez em Hollywood

Com uma alma de cinéfilo, Tarantino confessa que somente mencionou nos livros os filmes da década de 1970, os quais ele assistiu durante o período nas salas de cinema. A ideia é relembrar a Hollywood da sua infância, o que ele chama de “My Hollywood”. De acordo com o autor, a concepção inicial era falar sobre filmes, contudo a sua experiência pessoal acabou sendo exaltada diversas vezes na narrativa para entreter o leitor e, dessa forma, tornou-se um relato muito mais íntimo. Como quando, aos 14 anos, entrou pela primeira vez em um cinema pornô e assistiu a sessão dupla de Garganta Profunda (1972) e O Diabo na Carne de Miss Jones (1973).

Apesar da liberdade dada por sua mãe, o cineasta confessa ter sido barrado em três ocasiões: Melinda (1972), de Hugh A. Robertson; O Exorcista (1973), de William Friedkin; e Carne para Frankenstein (1973), de Antonio Margheriti e Paul Morrissey. Para o primeiro título, de acordo com suas reminiscências, sua mãe lhe disse: “Bem, Quentin, é um filme muito violento. Não que isso necessariamente me incomode. Mas você não entenderia o contexto, apenas assistiria à violência pela violência. E isso, eu não quero”. 

A questão abriu uma brecha para falar da relação com seus filhos, Leo, de 3 anos, e Adriana, de menos de um ano. Apesar de muitos novos, o cineasta foi confrontado a responder quando ele ia permitir os filhos de assistir seus próprios filmes, conhecidos por serem graficamente violentos. Entre risos e acenos para a esposa Danielle Peak [presente na plateia], ele confessou que será mais permissivo que a esposa e acredita que Leo assistirá primeiro Kill Bill vol.1 (2003).  

Sem estudos regulares, Tarantino sempre foi conhecido como o diretor de cinema que começou a fazer filmes porque era extremamente aficionado pela sétima arte. Este novo livro é o compartilhamento desse conhecimento sobre cinema acumulado ao longo dos anos e da sua admiração pelo trabalho de grandes diretores (e ídolos) da década de 1970, como George Lucas, Steven Spielberg e, principalmente, Brian de Palma

As Novidades de Tarantino

Embora a conversa de uma hora e meia tenha sido animada, os temas foram centrados sobre a escrita da obra e a cinefilia do diretor, mas todo mundo esperava por uma novidade. Quando será o próximo filme de Tarantino?

No bate-papo, ele confirmou ter terminado o roteiro de The Movie Critic [O Crítico de Cinema, em tradução livre], título do seu próximo e, como anunciado, último projeto cinematográfico. Ao mesmo tempo, Tarantino desmentiu os boatos sobre o longa ser sobre Pauline Kael, crítica de cinema da revista The New York (1968-1991), morta em 2001 aos 82 anos. Por outro lado, ele precisou tratar-se de um protagonista masculino e da história ambientar-se no final dos anos 1970. 

Além disso, Tarantino confirmou que as filmagens começam no outono norte-americano, ou seja, em meados de setembro deste ano. Logo após esta declaração, Thierry Frémaux declarou: “pelas minhas contas podemos ter um lançamento em maio de 2025”, referindo-se ao a data do Festival de Cannes. Algo bastante provável, já que Top Gun: Maverick (2022) estreou no festival e, neste ano, Martin Scorsese e Steven Spielberg escolheram o evento para apresentação, respectivamente, de Killers of the Flower Moon, com Leonardo DiCaprio, e Indiana Jones e a Relíquia do Destino, com Harrison Ford.

Curiosos para saber mais sobre Cinema Speculations? Torça para uma editora brasileira demonstrar interesse em realizar uma tradução como a Editora Intrínseca fez com Era uma Vez em Hollywood, em 2021.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Os 2.700 assentos do local de três andares foram esgotados duas semanas antes do evento, ocorrido na noite de quarta-feira, 29 de março. A antologia de Tarantino, no entanto, chegou ao mercado mundial em outubro do ano passado em inglês, mas ainda não ganhou tradução em português. 

Cinema Grand Rex, no Boulevard Poissonnière, 2º distrito de Paris

 

Após adaptar o seu próprio roteiro de Era uma Vez em Hollywood em um romance, o cineasta norte-americano tomou gosto pela escrita literária. Apresentado por Thierry Frémaux, o diretor do Festival de Cannes, o qual conduziu o bate-papo com o público, Tarantino foi recebido com a entonação de “Joyeux Anniversaire...” [Parabéns para você…], por conta dos 60 anos completos dois dias antes, no dia 27 de março. Para astrólogos de plantão, é exatamente a mesma data e ano que a Xuxa.  

Bastidores do Evento 

Para o espetáculo, o cineasta proibiu a presença de qualquer aparelho telefônico e fotográfico. Todos os celulares eram silenciados ou colocados em modo avião e lacrados em uma bolsa com alfinete de segurança, tal como nas lojas de roupas. Ou seja, impossível de abrir sem um aparelho específico. 

Por que tanta segurança? Por mais que Tarantino queira vender livros, ele detesta a ideia de alguém procurar algo no celular enquanto ele está falando. Algo que ele deixa claro logo no início da conversa. “Eu era o IMDb na minha época de juventude, hoje em dia eu falo uma referência e as pessoas correm ao celular para procurar e não me deixam nem terminar de falar. Elas checam a informação, entram por um ouvido e sai pelo outro.”, desabafa o cineasta. Saudosista, ele diz que antigamente ele sabia tudo sobre todos os diretores e atores, porque ia à biblioteca pesquisar. 

Os ingressos para o espetáculo eram salgados, entre 44 e 77 euros, isto é, 245 e 429 reais. O livro, entretanto, estava mais em conta sendo vendido por 25 euros, mas sem autógrafo e sem esperanças de o cineasta fazê-lo após a apresentação. Perguntas para o ídolo? Apenas Thierry Frémaux tinha este poder e os dois tinham uma certa camaradagem, uma vez que Tarantino foi presidente do Festival de Cannes, em 2004, quando deu a Palma de Ouro ao documentário Fahrenheit 11 de setembro, de Michael Moore

Sobre o que é o livro? 

O motivo do encontro era a troca de experiência cinéfila entre Quentin Tarantino e o seu público. Seu grande efeito durante a infância e a pré-adolescência? Ver filmes os quais seus colegas de classe não podiam assistir, como o violento Perseguidor Implacável (Dirty Harry, 1971), com Clint Eastwood, e o terror O Uivo da Bruxa (1970), com Vincent Price. Segundo ele, a sua mãe era bastante permissiva e dizia: “Quentin, eu me preocupo mais com você quando assiste ao noticiário. Um filme não faz mal.” Vale lembrar que a época narrada no livro de 1968 a 1981, passa pelo auge dos crimes de Charles Manson nos noticiários estadunidenses, tema de Era uma vez em Hollywood

Com uma alma de cinéfilo, Tarantino confessa que somente mencionou nos livros os filmes da década de 1970, os quais ele assistiu durante o período nas salas de cinema. A ideia é relembrar a Hollywood da sua infância, o que ele chama de “My Hollywood”. De acordo com o autor, a concepção inicial era falar sobre filmes, contudo a sua experiência pessoal acabou sendo exaltada diversas vezes na narrativa para entreter o leitor e, dessa forma, tornou-se um relato muito mais íntimo. Como quando, aos 14 anos, entrou pela primeira vez em um cinema pornô e assistiu a sessão dupla de Garganta Profunda (1972) e O Diabo na Carne de Miss Jones (1973).

Apesar da liberdade dada por sua mãe, o cineasta confessa ter sido barrado em três ocasiões: Melinda (1972), de Hugh A. Robertson; O Exorcista (1973), de William Friedkin; e Carne para Frankenstein (1973), de Antonio Margheriti e Paul Morrissey. Para o primeiro título, de acordo com suas reminiscências, sua mãe lhe disse: “Bem, Quentin, é um filme muito violento. Não que isso necessariamente me incomode. Mas você não entenderia o contexto, apenas assistiria à violência pela violência. E isso, eu não quero”. 

A questão abriu uma brecha para falar da relação com seus filhos, Leo, de 3 anos, e Adriana, de menos de um ano. Apesar de muitos novos, o cineasta foi confrontado a responder quando ele ia permitir os filhos de assistir seus próprios filmes, conhecidos por serem graficamente violentos. Entre risos e acenos para a esposa Danielle Peak [presente na plateia], ele confessou que será mais permissivo que a esposa e acredita que Leo assistirá primeiro Kill Bill vol.1 (2003).  

Sem estudos regulares, Tarantino sempre foi conhecido como o diretor de cinema que começou a fazer filmes porque era extremamente aficionado pela sétima arte. Este novo livro é o compartilhamento desse conhecimento sobre cinema acumulado ao longo dos anos e da sua admiração pelo trabalho de grandes diretores (e ídolos) da década de 1970, como George Lucas, Steven Spielberg e, principalmente, Brian de Palma

As Novidades de Tarantino

Embora a conversa de uma hora e meia tenha sido animada, os temas foram centrados sobre a escrita da obra e a cinefilia do diretor, mas todo mundo esperava por uma novidade. Quando será o próximo filme de Tarantino?

No bate-papo, ele confirmou ter terminado o roteiro de The Movie Critic [O Crítico de Cinema, em tradução livre], título do seu próximo e, como anunciado, último projeto cinematográfico. Ao mesmo tempo, Tarantino desmentiu os boatos sobre o longa ser sobre Pauline Kael, crítica de cinema da revista The New York (1968-1991), morta em 2001 aos 82 anos. Por outro lado, ele precisou tratar-se de um protagonista masculino e da história ambientar-se no final dos anos 1970. 

Além disso, Tarantino confirmou que as filmagens começam no outono norte-americano, ou seja, em meados de setembro deste ano. Logo após esta declaração, Thierry Frémaux declarou: “pelas minhas contas podemos ter um lançamento em maio de 2025”, referindo-se ao a data do Festival de Cannes. Algo bastante provável, já que Top Gun: Maverick (2022) estreou no festival e, neste ano, Martin Scorsese e Steven Spielberg escolheram o evento para apresentação, respectivamente, de Killers of the Flower Moon, com Leonardo DiCaprio, e Indiana Jones e a Relíquia do Destino, com Harrison Ford.

Curiosos para saber mais sobre Cinema Speculations? Torça para uma editora brasileira demonstrar interesse em realizar uma tradução como a Editora Intrínseca fez com Era uma Vez em Hollywood, em 2021.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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