Esta é a primeira vez do CinePOP na cobertura de um Festival de Cinema na África. Apesar de desconhecido do público ocidental, o Festival de Cinema Internacional de El Gouna, realizado de 24 de outubro a 1 de novembro na cidade resort às margens do Mar Vermelho, no Egito, movimenta um grande mercado audiovisual na região do MENA (Oriente Médio e África do Norte, em inglês) e a exibe de dezenas de obras vindas de todos os cantos do mundo.
Os títulos selecionados disputam a Golden Star (Estrela de Ouro) nas categorias longas e curtas-metragens e documentários. Além do troféu, os vencedores recebem prêmios em dinheiro e menções especiais para filmes voltados a causas ambientais e de origem asiática. O Brasil possui apenas um representante no evento deste ano. O curta Minha Mãe é uma Vaca (My Mother is a Cow), da diretora Moara Passoni, em competição pela Estrela de Ouro. O título teve estreia mundial no Festival de Veneza.
Noite de Gala na Abertura
Com direito a aviões soltando fogos no Palácio do Festival, o qual é rodeado de agudas, e luxuosas estruturas, a sala da cerimônia é completamente aberta e durante as sessões é possível contemplar as estrelas. Como esperado durante a abertura da 7° edição do Festival de Cinema Internacional de El Gouna, a mensagem foi de paz entre as nações.
Com o lema “Cinema for Humanity” (Cinema para Humanidade), o evento proclamou o fim dos conflitos na região do Golfo, entre Israel e Palestina, e apoio à Ucrânia. Os fundadores do festival Naguib e Samih Sawiris pediram imediato cessar fogo e a posição política a favor da Palestina, além de declarar o cinema como um caminho para construir diálogo e novas janelas entre os povos.
Nesse mesmo caminho, as apresentações musicais e discursos foram voltadas para a temática do soft power do cinema, isto é, o poder cultural dos filmes de influenciar e tocar as pessoas ao redor do mundo. Embora o audiovisual do Egito não seja divulgado no Brasil e no continente Americano, o país da África do Norte possui tradição e um grande número de produções, por exemplo, um dos melhores momentos da abertura foi a apresentação de um compilado de canções originais de filmes egípcios. Veja abaixo:
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Festival sofre Censura de Última Hora
Horas antes da noite de abertura, programada para às 20h local, o IFF El Gouna sofreu uma censura do governo e teve que mudar o filme de abertura no último momento.Previsto para fazer sua estreia mundial o drama egípcio O Último Milagre, de Abdelwahab Shawky, foi substituído por The Man Who Could Not Remain Silent (O homem que não conseguia permanecer em silêncio), do croata Nebojsa Slijepcevic, ganhador da Palma de Ouro de melhor curta-metragem no Festival de Cannes deste ano.
Em comunicado oficial, os organizadores apenas alegaram “um ajuste na programação original”, já que O Último Milagre “infelizmente não pôde ser exibido”. De acordo com o Screen Daily e jornalistas locais, o real motivo é político, pois a obra não havia sido liberada pelos censores locais, isto é, a Autoridade Central para a Censura de Obras de Arte (CACWA) do Egito se recusou a conceder a aprovação de triagem necessária.
Estrelado por Khaled Kamal (O Elefante Azul), o curta de 20 minutos narra a trajetória de um editor de uma página de obituário após digitar incorretamente o nome de um proeminente sheikh sufi e ser duramente repreendido pelo dono do jornal. Atormentado, ele busca consolo em um bar, porém ele recebe o surpreendente telefonema do próprio falecido sheikh, solicitando um encontro.
Programação de Filmes
Em sua sétima edição, o IFF El Gouna destaca na sua programação os ganhadores do Leopardo de Ouro, no Festival de Locarno 2024, Toxic, de Saulè Bliuvaitè; e O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar, ganhador do Leão de Ouro, no Festival de Veneza, em setembro. Além de títulos já premiados fora da competição, o festival promete o lançamento mundial de quatro filmes, entre eles o egípcio A jornada inevitável para encontrar um vestido de noiva, de Jaylan Auf, em competição oficial e pelo prêmio FIPRESCI.
O CinePOP conta Letícia Alassë no festival, como membro do júri da FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema), representando tanto o site quanto o Brasil. Composto por três críticos de cinema, o júri é responsável por selecionar o melhor filme em competição entre o primeiro e segundo trabalho de um cineasta de origem africana, asiática ou sul-americana, um total de dez títulos.
Por conta dos conflitos próximos à região do Mar Vermelho, o festival foi cancelado em 2022 e três vezes remarcado em 2023. Os conflitos ainda existem, porém este ano o evento está empenhado em dar voz à Palestina e elaborou uma mostra inédita de cinco curtas-metragens produzidos nesta região entre 2023 e 2024, a Window on Palestine. Os filmes selecionados refletem a resiliência, a humanidade e a força de um povo em frente ao genocídio, portanto suas histórias devem ser contadas e ouvidas.
Apesar de não focar em obras de Hollywood, o festival já premiou artistas norte-americanos pelo o conjunto da obra, isto é, sua contribuição mundial ao cinema, foram eles: Sylvester Stallone (2018) e Forest Whitaker (2017). Nesta edição, o prêmio será dedicado ao ator e produtor egípcio Mahmoud Hemida. Quer saber mais sobre o que acontece no mundo do cinema no Egito? Acompanhe nossas redes sociais e artigos.