sábado, junho 22, 2024

EXCLUSIVO | Entrevista – Chris Sanders e equipe apresentam ROBÔ SELVAGEM em Annecy e prometem revolução na ANIMAÇÃO em 2024

Este é o filme das nossas carreiras”, declara Jeff Hermann, produtor de Robô Selvagem (The Wild Robot), ao lado do diretor Chris Sanders, no terraço do Hotel Imperial Palace, durante a 48ª edição do Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy, na última quarta-feira, dia 12 de junho. Em entrevista para o CinePOP e outros poucos jornalistas durante um café da manhã, os criadores da animação abriram o coração sobre o inédito entusiasmo pelo projeto.

Um dia depois do lançamento do segundo trailer da nova animação (veja abaixo) da DreamWorks, no qual o visual estonteante e o plot narrativo são revelados, a equipe de animação, junto como o produtor e diretor, compartilhou com exclusividade todo o processo de Robô Selvagem. A estreia da obra está prevista para o dia 27 de setembro, nos Estados Unidos, e dia 10 de outubro no Brasil. 

 “Este é o filme que muitos de nós estávamos esperando. É o conjunto de sabedoria de todos os cabelos grisalhos aqui, nós temos feito animação por longo tempo… O que eu quero dizer é que todos nós, agora, temos experiência e habilidade para estabelecer restrições, ao invés de colocar tudo que sabemos na tela.”, conta Jakob Hjort Jensen, Chefe de Animação de Personagens, seguido pela confirmação de seus companheiros de equipe.

No primeiro trailer, lançado em março (veja aqui), sentimos um arrepio pelo visual deslumbrante e a chegada de um robô a um ambiente totalmente hostil, uma floresta cheia de animais selvagens, ao som da bela canção What a Wonderful World, na voz de Lupita Nyong’o. Nesta segunda incursão, somos convidados a explorar o mundo criado pelo autor norte-americano Peter Brown, no livro homônimo lançado em 2016, e conhecer os desafios da protagonista. 

Construção dos Personagens e Escolha do Elenco

Desviado do seu destino, o robô ROZZUM 7134, ou melhor, Roz (voz de Lupita Nyong’o) naufraga em uma ilha, onde pouco a pouco consegue construir relacionamentos com os animais locais. Ela até adota o filhotinho de ganso órfão Brightbill, na voz de Kit Connor, da série Heartstopper (2022 —). 

Chris Sanders revelou que todo o processo de animação dos desenhos foi realizado após o registro de vozes dos atores, pois muitas das expressões durante as falas dos intérpretes são incorporadas pelos designers de produção. Para ele, os personagens animados são como uma vestimenta, as quais serão costuradas e moldadas para o artista “tailor-it”, isto é, adaptá-las ao uso. 

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Chris Sanders apresenta os personagens de Robô Selvagem em no Festival de Annecy (Foto: Leticia Alassë)

“Lupita foi a escolha perfeita. Não somente pelo jeito que a voz dela soa, mas também por conta de como a sua mente trabalha. Ela realmente liderou a busca para encontrar quem era Roz. Em todas as sessões de gravações, a gente conversava de meia a uma hora sobre cada sequência que iríamos gravar. Este tipo de resistência e vontade de experimentar diferentes entregas e ângulos ajudou muito. Às vezes, eu ia para meu escritório e reescrevia a cena baseado no que tínhamos conversado.”, confessa Chris Sanders sobre o seu processo de trabalhar com ganhadora do Oscar por 12 Anos de Escravidão (2013).

Além de Lupita Nyong’o, Robô Selvagem conta com uma seleção única de vozes da sétima arte, como Pedro Pascal, Catherine O’Hara, Bill Nighy e Stephanie Hsu. Para versão brasileira dublada, o elenco ainda não foi divulgado. Seria a Taís Araújo uma boa opção para o papel? Afinal a atriz carioca acabou de dublar Kung Fu Panda 4 (2024), uma produção também da DreamWorks e originalmente com a voz de Viola Davis.

Forma e Conteúdo Alinhados com Qualidade

Como a obra ainda não está completamente acabada, o orçamento não foi divulgado — as últimas duas produções do estúdio fora de uma franquia (Ruby Marinho, Monstro Adolescente e Os Caras Malvados) custaram em estimativa US$ 70 milhões, de acordo com IMDb. Como 300 pessoas no total, entre elas 54 animadores, o produtor Jeff Hermann ao lado de Chris Sanders buscaram montar a equipe dos sonhos, integrada por profissionais os quais já trabalharam com o cineasta ou em outros projetos da DreamWorks Animation

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Equipe de Robô Selvagem no Festival de Annecy (Foto: Divulgação/Universal)

Assim que conheceu o livro, Chris confessa ter começado a planejar o filme e a desenhar os primeiros rascunhos. Com parte do time de animação formada, ele e o produtor apresentaram o conceito ao estúdio a partir da natureza em aquarela, de forma credível, porém longe do aspecto de realidade. Por outro lado, os animais deveriam ser animais com seus pelos e penas, diferente da humanização trazida para Os Caras Malvados (2022), produzido pelo estúdio da Universal. 

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O que é mais importante numa animação? De acordo com Chris Sanders, quando alguém lhe diz que seu filme é bonito, ele sente que a pessoa não gostou da história. Em outras palavras, lindo na forma, mas vazio em seu conteúdo. Este é o receio de Sanders ao criar um roteiro e, apesar de toda a tecnologia avançada, ele afirma concentrar-se em apresentar uma forte narrativa. A ideia do filme é: “a bondade como arma de sobrevivência”. 

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Robô Selvagem chega aos cinemas brasileiros dia 10 de outubro de 2024

Já para Heidi Jo Gilbert, Chefe de história de Robô Selvagem, o longa tem uma potência muito maior em seu subtema, o qual está no livro, mas foi minuciosamente cunhado por ela, enquanto escrevia sobre a interação de Roz com outros animais da floresta. “Um robô é programado para cumprir tarefas e Roz desempenha o papel parental neste esquema em relação a Brightbill.No entanto, ela vai perceber que a tarefa “mãe” nunca está terminada”, revela Heidi. Este parece ser o maior gatilho de conexão entre Roz e o público. 

Embora tenha participado de dois painéis no Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy, Robô Selvagem apenas divulgou duas cenas: seus primeiros 20 minutos e uma sequência da relação entre Roz e Brightbill. Apesar do pouco material, a ideia de misturar ilustrações em aquarela com a animação em CGI é estonteantemente presente e o almejado vínculo com os espectadores já toma forma no segmento de abertura. 

Como um robô cria conexão com o público?

Não é de hoje que os robôs roubam a cena no audiovisual, tanto no mundo da animação quanto do live-action, é fácil lembrar várias figuras icônicas do cinema, como os três próximos exemplos. O nomeado ao Oscar de Animação deste ano, Meu Amigo Robô (2023), de Pablo Berger; o ganhador do Oscar WALL.E (2008), de Andrew Stanton; e, o mais antigo, O Gigante de Ferro (1999), de Brad Bird. O que todos os três têm em comum? Conexão com as nossas emoções. 

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Roz e Brightbill em Robô Selvagem, da DreamWorks

O filme é futurista, mas ele precisa ser factível. Se ele é muito futurista e mágico, nós nos desconectamos. É necessário sentirmos que ela [a personagem Roz] pode ser machucada, danificada e correr riscos para nos conectarmos com ela. Potencialmente, isso é manufaturado com a sensação de que ela pode quebrar. O que nos leva a pensar no mundo como o antagonista. Ela simplesmente não pertence a esse lugar e se ela ficar muito mais tempo lá, ela vai se decompor”, explica Jakob Hjort Jensen, Chefe de Animação de Personagens. 

Segundo Chris Sanders, os personagens robôs, no geral, são automaticamente vulneráveis, porque tem milhares de coisas que eles não sabem. “Quando eu vejo robôs, eu os vejo perdidos; e é um pouco como Roz, que não tem ideia do que pode acontecer com ela. Eu adoro esse tipo de pensamento. Eles me mantêm acordado de noite e me fazem escrever sobre essas coisas. Então, é essa vulnerabilidade que faz com ela [Roz] se conecte imediatamente conosco e com os outros personagens dessa história”. 

Robô Selvagem,DreamWorks,Chris Sanders
Os olhos de Roz são como lentes de câmeras.

Como Roz não tem boca, um dos maiores desafios de Sanders junto com a equipe de animação foi criar uma conexão entre a sua figura e a sua voz. Jeff Budsberg, Supervisor de Efeitos Visuais, explicou que um dos caminhos foi por meio das cores. Quando Roz fala, as luzes em volta do seu rosto e corpo acendem e mudam de intensidade e tonalidade. Outro método utilizado pelos profissionais foi através dos olhos, esculpidos como lentes de câmeras e altamente associados aos “espelhos da alma”. 

Prêmios e Franquia pela Frente

Uma das razões para empolgação do grupo de criadores e do veterano diretor Chris Santens — três vezes indicado ao Oscar  — é o destaque para uma tecnologia inovadora no campo das imagens geradas por computadores. De acordo como Baptiste Van Opstal, Chefe de Aparência, os avançados programas de computadores permitem trabalhar a textura fio a fio das plumas e pelos dos animais, dando uma dimensão de movimento muito mais realística como almejada pelo diretor. Da mesma forma, há uma evolução na composição de iluminação e sombras no meio de uma floresta, onde o importante não era parecer real, mas cheia de vida. 

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Margie Cohn, presidente da DreamWorks, planeja franquia para Robô Selvagem (Foto: Leticia Alassë)

Para a equipe de Robô Selvagem, os computadores são apenas lápis com os quais eles podem criar mais e avançar no modo de contar uma boa história. O produtor Jeff Hermann define este momento como o alcance de uma oportunidade única depois de anos de trabalho e é esta mensagem que ele deseja deixar para os futuros cineastas de animação. A partir de todo este trabalho, o longa tem grande chances de chegar a temporada de prêmios em um ano como grandes promessas na seara de animação, como Divertida Mente 2, da Pixar, e o japonês O Imaginário, de Yoshiyuki Momose, vindo do Estúdio Ghibli. 

Com três livros da série publicados nos EUA, a DreamWorks Animation planeja construir uma franquia, assim como a trilogia de Como Treinar Seu Dragão (2010), dirigida a princípio por Chris Sanders e Dean DeBlois, porém apenas o segundo seguiu no comando das demais produções. Apesar da equipe não falar abertamente sobre o assunto, este não é um segredo, já que Margie Cohn, presidente da DreamWorks, presente na conversa, disse que adoraria dar sequência ao projeto. A afirmação oficial virá logo após a resposta do público nas bilheterias. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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