quinta-feira , 21 novembro , 2024

EXCLUSIVO | Entrevista com Rafael Gomes, diretor de Música Para Morrer de Amor, da trilogia dos Corações Sentimentais

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Que tal deixar um pouco as agruras do cotidiano e falar de amor na juventude? Existe uma turma de diretores a olhar os jovens brasileiros tal como John Hughes representava essa geração nos anos 80, nos Estados Unidos. Você já deve ter visto a obra de algum deles: Esmir Filho (série Boca a Boca), Matheus Souza (Ana e Vitória), Marina Person (Califórnia) e Rosane Svartman (Desenrola). Dentro deste cenário também está o cineasta Rafael Gomes, responsável por 45 Dias Sem Você (2019) e o lançamento Música para Morrer de Amor

Leia também:  Crítica | Música Para Morrer de Amor – Existe poesia, dança e jovens em busca de amor em SP

Originário da peça Música para Cortar Os Pulsos, criada pelo próprio diretor, o filme aborda os desencontros amorosos e sexuais dos jovens Felipe (Caio Horowicz), Isabela (Mayara Constantino) e Ricardo (Victor Mendes). Envolvidos em uma enxurrada de sentimentos, os personagens se desenvolvem em meio a belas canções nas vozes de Rubel, Tim Bernardes, Fafá de Belém, Roberto Carlos, entre outros. 



Música para Morrer de Amor chega primeiro aos drive-ins das principais capitais brasileiras. Já a partir de 20 de agosto, o drama romântico estreia via streaming para todo o país, no Now, Oi Play e Vivo Play. Em breve, no YouTube Play e Apple Store.

Para destrinchar o tema e os meandros da produção, o diretor Rafael Gomes concedeu uma entrevista exclusiva para o CinePOP, a qual você confere uma parte abaixo. O divertido bate-papo completo está no nosso canal no YouTube. 

CinePOP: Vamos começar pela origem do filme. Ele veio de uma peça chamada Música Para Cortar os Pulsos, lançada por você em 2010. Primeiro, gostaria de saber as questões pela mudança do título “para morrer de amor”. Segundo, o que você acredita que mudou na nossa sociedade, no comportamento dos jovens, nesses últimos 10 anos? 

Rafael Gomes: O filme trocou de nome porque em 10 anos a nossa percepção e sensibilidade para falar de determinados assuntos também mudou. A ideia de que o título do filme — uma obra voltada para jovens e sobre sentimentos extremados de amor — pudesse ser um gatilho ou, ao menos, sugestionar o autoflagelo ou, em última instância, o suicídio não era desejável de jeito nenhum.

Sobre a mudança dos últimos 10 anos, eu destaco duas coisas. Primeira, relacionada a narrativa. Ao tratar dos relacionamentos dos jovens, existe uma predominância completa da tecnologia, do smartphone e tudo que dele advém, como redes sociais e as maneiras de interação. Isso se impôs [em nossas vidas]. Já em termos para além da história, sócio-políticos e comportamentais, a sensação é que em 2010 estávamos em marcha para o futuro, onde esses temas encontrariam mais e mais espaços. Um futuro progressista, de todas as liberdades, onde as diversidades fossem acolhidas e plenamente aceita. O que aconteceu foi exatamente o oposto. 

CinePOP: Você faz um recorte social do jovem brasileiro, tal como os próprios personagens dos filmes denominam como “homem branco burguês, porém gay”. Suas obras falam dessa representatividade? Chega a ser uma auto-crítica ou uma ironia? 

Rafael Gomes: A representatividade do homem branco burguês não precisa ser mostrada, no sentido que ela é hegemônica. Existe a questão representativa da sexualidade e mais especificamente do homem gay, porque é quem eu sou. Em termos sociais, obviamente, o filme é um recorte. Frisar isso e um pouco como dizer: “olha, a gente sabe que isso aqui não é o todo”. O sublinhado no filme é irônico na fala dos personagens, mas, no sentido da autoria, ele é apenas uma constatação. Eu sinto que essa constatação é tão importante que ela está no prólogo, como uma carta de intenção. O filme começa com dois personagens olhando um teatro vazio e um fala para o outro: “É lindo, né? Mas tão burguês”.  

CinePOP: Após assistir 45 Dias sem Você e Música Para Morrer de Amor é possível fazer conexões entre os dois, assim como com a sinopse do seu próximo filme Meu álbum de Amores. Ele são uma trilogia? Tem um nome? Você lança esses filmes próximos com essa expectativa?

Rafael Gomes: Não foi pensado como uma trilogia, mas tornou-se. Quando o projeto de transformar Música Para Morrer de Amor, de uma peça a um filme, começou o meu longa anterior [45 Dias Sem Você] não existia. Este filme veio no susto, como uma resposta a determinadas circunstâncias, tais como os amigos que eu tinha em outros lugares do mundo, auto-exilados. A produção foi autofinanciada e tudo foi realizado quase de um dia para o outro. Para ter uma ideia, da primeira conversa  até o começo das filmagens foram três meses. […] Os três filmes, no total, foram realizados no período de dois anos. Após terminar esse projeto, eu parei, olhei e enxerguei a relação entre eles, ou seja, realmente constituem uma trilogia. 

Além disso, existe uma teia de interconexões dos três filmes à frente e atrás das câmeras, tanto de elenco e equipe quanto de cabeças criativas nos bastidores de cada projeto. Ou seja, eu não sou o único elo entre os três filmes. Portanto, visto que isso era uma realidade, eu batizei [o projeto] de “trilogia dos corações sentimentais”.  

CinePOP: Eu queria relacionar Música para Morrer de Amor com um dizer do psicanalista conhecido na internet, Christian Dunker, sobre o fato das pessoas não viverem mais o luto das relações amorosas. Segundo ele, elas estão tentando esquecer e fingir que nada ocorreu para não lidar com a dor. Você concorda com esse pensamento? Esse luto é abordado nos seus filmes?

Rafael Gomes: 45 Dias Sem Você certamente é um filme sobre esse luto, mas eu prefiro pensar que a obra finge ser sobre isso para ser na verdade sobre as relações de amizade. Para mim, é o mais forte [da narrativa]  porque é o que me motivou a contar essa história do protagonista ao encontro desses três amigos. O filme atual, ele é tripartido. A premissa era que essas três histórias representassem momentos diferentes da relação amorosa. Na trajetória da Isabela, vivida pela Mayara Constantino, o luto é central. Ela acabou de terminar um relacionamento e empreende o retorno de repassar essa história para organizá-la, metabolizá-la e, finalmente, seguir em frente.

CinePOP: Música para Morrer de Amor apresenta frases bastante emblemáticas, canções marcantes e uma relação com outras artes clássicas. Para convidar as pessoas a assistirem ao filme, qual seria a passagem que você destacaria?

Rafael Gomes: A frase — não por acaso — escolhida para abrir o filme é uma síntese completa dos caminhos pelos quais a narrativa percorre. A frase é: “Algumas pessoas jamais teriam se apaixonado se não tivesse ouvido falar do amor”. Para mim, esta frase resume como o amor é uma elaboração de fora para dentro. Uma projeção de encontro ao mundo real, criada de outras referências, de outras narrativas e organizações que nos moldam.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Originário da peça Música para Cortar Os Pulsos, criada pelo próprio diretor, o filme aborda os desencontros amorosos e sexuais dos jovens Felipe (Caio Horowicz), Isabela (Mayara Constantino) e Ricardo (Victor Mendes). Envolvidos em uma enxurrada de sentimentos, os personagens se desenvolvem em meio a belas canções nas vozes de Rubel, Tim Bernardes, Fafá de Belém, Roberto Carlos, entre outros. 

Música para Morrer de Amor chega primeiro aos drive-ins das principais capitais brasileiras. Já a partir de 20 de agosto, o drama romântico estreia via streaming para todo o país, no Now, Oi Play e Vivo Play. Em breve, no YouTube Play e Apple Store.

Para destrinchar o tema e os meandros da produção, o diretor Rafael Gomes concedeu uma entrevista exclusiva para o CinePOP, a qual você confere uma parte abaixo. O divertido bate-papo completo está no nosso canal no YouTube. 

CinePOP: Vamos começar pela origem do filme. Ele veio de uma peça chamada Música Para Cortar os Pulsos, lançada por você em 2010. Primeiro, gostaria de saber as questões pela mudança do título “para morrer de amor”. Segundo, o que você acredita que mudou na nossa sociedade, no comportamento dos jovens, nesses últimos 10 anos? 

Rafael Gomes: O filme trocou de nome porque em 10 anos a nossa percepção e sensibilidade para falar de determinados assuntos também mudou. A ideia de que o título do filme — uma obra voltada para jovens e sobre sentimentos extremados de amor — pudesse ser um gatilho ou, ao menos, sugestionar o autoflagelo ou, em última instância, o suicídio não era desejável de jeito nenhum.

Sobre a mudança dos últimos 10 anos, eu destaco duas coisas. Primeira, relacionada a narrativa. Ao tratar dos relacionamentos dos jovens, existe uma predominância completa da tecnologia, do smartphone e tudo que dele advém, como redes sociais e as maneiras de interação. Isso se impôs [em nossas vidas]. Já em termos para além da história, sócio-políticos e comportamentais, a sensação é que em 2010 estávamos em marcha para o futuro, onde esses temas encontrariam mais e mais espaços. Um futuro progressista, de todas as liberdades, onde as diversidades fossem acolhidas e plenamente aceita. O que aconteceu foi exatamente o oposto. 

CinePOP: Você faz um recorte social do jovem brasileiro, tal como os próprios personagens dos filmes denominam como “homem branco burguês, porém gay”. Suas obras falam dessa representatividade? Chega a ser uma auto-crítica ou uma ironia? 

Rafael Gomes: A representatividade do homem branco burguês não precisa ser mostrada, no sentido que ela é hegemônica. Existe a questão representativa da sexualidade e mais especificamente do homem gay, porque é quem eu sou. Em termos sociais, obviamente, o filme é um recorte. Frisar isso e um pouco como dizer: “olha, a gente sabe que isso aqui não é o todo”. O sublinhado no filme é irônico na fala dos personagens, mas, no sentido da autoria, ele é apenas uma constatação. Eu sinto que essa constatação é tão importante que ela está no prólogo, como uma carta de intenção. O filme começa com dois personagens olhando um teatro vazio e um fala para o outro: “É lindo, né? Mas tão burguês”.  

CinePOP: Após assistir 45 Dias sem Você e Música Para Morrer de Amor é possível fazer conexões entre os dois, assim como com a sinopse do seu próximo filme Meu álbum de Amores. Ele são uma trilogia? Tem um nome? Você lança esses filmes próximos com essa expectativa?

Rafael Gomes: Não foi pensado como uma trilogia, mas tornou-se. Quando o projeto de transformar Música Para Morrer de Amor, de uma peça a um filme, começou o meu longa anterior [45 Dias Sem Você] não existia. Este filme veio no susto, como uma resposta a determinadas circunstâncias, tais como os amigos que eu tinha em outros lugares do mundo, auto-exilados. A produção foi autofinanciada e tudo foi realizado quase de um dia para o outro. Para ter uma ideia, da primeira conversa  até o começo das filmagens foram três meses. […] Os três filmes, no total, foram realizados no período de dois anos. Após terminar esse projeto, eu parei, olhei e enxerguei a relação entre eles, ou seja, realmente constituem uma trilogia. 

Além disso, existe uma teia de interconexões dos três filmes à frente e atrás das câmeras, tanto de elenco e equipe quanto de cabeças criativas nos bastidores de cada projeto. Ou seja, eu não sou o único elo entre os três filmes. Portanto, visto que isso era uma realidade, eu batizei [o projeto] de “trilogia dos corações sentimentais”.  

CinePOP: Eu queria relacionar Música para Morrer de Amor com um dizer do psicanalista conhecido na internet, Christian Dunker, sobre o fato das pessoas não viverem mais o luto das relações amorosas. Segundo ele, elas estão tentando esquecer e fingir que nada ocorreu para não lidar com a dor. Você concorda com esse pensamento? Esse luto é abordado nos seus filmes?

Rafael Gomes: 45 Dias Sem Você certamente é um filme sobre esse luto, mas eu prefiro pensar que a obra finge ser sobre isso para ser na verdade sobre as relações de amizade. Para mim, é o mais forte [da narrativa]  porque é o que me motivou a contar essa história do protagonista ao encontro desses três amigos. O filme atual, ele é tripartido. A premissa era que essas três histórias representassem momentos diferentes da relação amorosa. Na trajetória da Isabela, vivida pela Mayara Constantino, o luto é central. Ela acabou de terminar um relacionamento e empreende o retorno de repassar essa história para organizá-la, metabolizá-la e, finalmente, seguir em frente.

CinePOP: Música para Morrer de Amor apresenta frases bastante emblemáticas, canções marcantes e uma relação com outras artes clássicas. Para convidar as pessoas a assistirem ao filme, qual seria a passagem que você destacaria?

Rafael Gomes: A frase — não por acaso — escolhida para abrir o filme é uma síntese completa dos caminhos pelos quais a narrativa percorre. A frase é: “Algumas pessoas jamais teriam se apaixonado se não tivesse ouvido falar do amor”. Para mim, esta frase resume como o amor é uma elaboração de fora para dentro. Uma projeção de encontro ao mundo real, criada de outras referências, de outras narrativas e organizações que nos moldam.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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