domingo , 22 dezembro , 2024

[Exclusivo] Entrevista | Marcos Prado, diretor de Macabro: “Gerar debate junto com entretenimento é um favor a sociedade”

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Conhecido como o produtor de obras grandiosas como Tropa de Elite (2007) e Tropa de Elite: o Inimigo Agora é Outro (2010), Marcos Prado tem levado discussões sociais às tela há 20 anos. Em entrevista exclusiva para o CinePOP, o cineasta fala sobre o desafio de levantar questões humanitárias no suspense Macabro. A obra é baseada no caso dos Irmãos Necrófilos, responsáveis por crimes bárbaros na década de 90, em Nova Friburgo, e de aterrorizar a população local na região serrana do Rio de Janeiro. 

Outro embate é o lançamento de Macabro em meio a pandemia da Covid-19, momento em que a maioria dos cinemas estão fechados por medidas de segurança sanitária. Contudo, Marcos Prado está otimista e enxerga a estreia do filme nas seções em drive-in do país como um termômetro da reação do público. Além disso, ele menciona o seu próximo longa-metragem sobre a vida do rapper Sabotage, assassinado em 2003. 



Confira abaixo este bate-papo revelador sobre os detalhes de Macabro, a partir de 28 de julho, em drive-ins das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Maceió e Bragança Paulista. Ficou curioso? A entrevista completa em vídeo está disponível em nosso canal no YouTube

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CinePOP: Como foi o seu primeiro contato com o caso dos Irmãos Necrófilos e como surgiu a ideia de realizar um filme sobre esses crimes?

Marcos Prado: A primeira que eu soube sobre os irmãos foi pelo jornal em 1993. Fiquei muito impressionado com o que eu tinha lido. Os garotos matavam as mulheres e, depois, faziam necrofilia, sexo com os cadáveres. Aquilo me impressionou demais. […] Dez anos atrás, eu tive uma conversa com Rodrigo Pimentel do Bope [Batalhão de Operações Policiais Especiais], que trabalhou com a gente no Tropa de Elite e no documentário Ônibus 174 [2002], que eu produzi. O Pimental me contou a versão da história dele, do ponto de vista da polícia. 

Eles escutaram o que a população relatava, que os garotos tinham poderes sobrenaturais, estavam possuídos pelo demônio e eles tinham o poder de ficar invisíveis. Também que eles andavam por cima das copas das árvores e, por isso, eles conseguiam cruzar longas distâncias a noite. Coisas absurdas. 

Quando eu descobri que, talvez, o Henrique [um dos irmãos condenados pelos crimes de assassinato] fosse inocente, já que ele foi condenado a 49 anos de prisão, eu pensei: agora eu tenho uma história interessante para tentar desvendar. Ao invés de fazer um filme de terror, eu faria um thriller psicológico e colocaria no filme essa questão da dúvida, se um dos irmãos participava ou não [dos assassinatos] pelo ponto de visto do policial missionado a resolver a questão. 

A motivação foi fazer um filme que questiona a possibilidade de terem condenado um inocente, somente porque tinha que condenar alguém. 

CinePOP: Do meu ponto de vista, este é um tema importante do filme. A gente pode dizer que a mensagem de Macabro é questionar um descaso social e político e, até mesmo, uma falência do sistema penal brasileiro?

Marcos Prado: Acho que sim. O filme de trata de algumas questões. A gente tentou pegar os sintomas da sociedade aqui fora, nas cidades grandes do Brasil. […] Por exemplo, temos um grande percentual de presos que são pequenos traficantes, que não precisavam estar encarcerados. Eles não têm os seus julgamentos executados e, então, ficam eternamente presos, portanto, existe uma falência geral da nossa sociedade. 

A gente transportou alguns desses sintomas para esta micro vila ficcionalizada na serra de Friburgo, onde esses crimes ocorreram. A maioria dos mortos eram mulheres, a população era extremamente racista, eles viviam com um fanatismo religioso, tudo que tem espalhado pelo Brasil. Portanto, a gente condensou e colocou uma lente de aumento dentro desse microcosmo. 

CinePOP: Tenho uma teoria de quando levamos ações do cotidiano, como por exemplo crimes, às telas do cinema, a gente consegue gerar maior empatia sobre o tema com as pessoas, tocá-las de forma mais contundente. Algo realizado em filmes, por exemplo, como Última Parada 174 (2008) e O Lobo Atrás da Porta (2014). Você acredita que Macabro consegue gerar essa empatia para as pessoas olharem a história por trás do crime? 

Marcos Prado: Com certeza. O cinema tem uma função de entretenimento, mas também tem uma função de fazer as pessoas se questionarem. Um filme como o Macabro apresenta o racismo estrutural de forma  intensa. Você sai se questionando em diversos níveis.

O filme é todo visto pelo ponto de vista do policial, a história dele é ficcionalizada, mas no começo do filme ele mata um inocente negro numa operação policial. Ele vai para uma segunda missão com uma questão jurídica de que ele vai ser julgado pelo crime que ele cometeu. É uma coisa que ocorre muito nas operações policiais do Rio de Janeiro, 80% das pessoas que acabam sendo mortas – sendo traficantes ou não – são negras. Se você consegue gerar debate junto com entretenimento, você está fazendo um favor a sociedade. 

CinePOP: Quais temas você pretende abordar em seus trabalhos futuro?

Marcos Prado: Estou desenvolvendo um projeto agora que é um outro longa de ficção sobre o Sabotage [nome artístico de Mauro Mateus dos Santos Filho], o rapper paulista assassinado em 2003. Eu acredito que ele tem uma vida muito interessante para retratar. Ele estava envolvido com o crime desde o começo da vida por questões óbvias, não tinha oportunidade para nada, mas era um poeta. Sempre foi um poeta e acabou conseguindo sair [dessa vida]. 

CinePOP: Como estão as expectativas para o lançamento de um filme no momento de pandemia e limitado apenas aos drive-ins, já que os cinemas permanecem fechados? 

Marcos Prado: A princípio a gente ficou reticente, mas eu demorei 10 anos para fazer este filme. […] A sala de cinema é aquele lugar em que você e o filme se relacionam diretamente. É diferente de casa… A sala do cinema é coletiva, mas é individual. 

Então, decidimos ir para o drive-in, que serve como um pré-lançamento. Se o mundo mudar, se houver uma vacina, o lançaremos no cinema. Se continuar desse jeito, vamos para o streaming. É um discussão que eu tenho que ter com os meus co-produtores. Achamos prudente lançar agora. Tem vários drive-ins abertos no Rio, São Paulo, Maceió, Bragança Paulista e outros lugares. Também acredito que é uma forma de dar uma esperança para as pessoas. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Outro embate é o lançamento de Macabro em meio a pandemia da Covid-19, momento em que a maioria dos cinemas estão fechados por medidas de segurança sanitária. Contudo, Marcos Prado está otimista e enxerga a estreia do filme nas seções em drive-in do país como um termômetro da reação do público. Além disso, ele menciona o seu próximo longa-metragem sobre a vida do rapper Sabotage, assassinado em 2003. 

Confira abaixo este bate-papo revelador sobre os detalhes de Macabro, a partir de 28 de julho, em drive-ins das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Maceió e Bragança Paulista. Ficou curioso? A entrevista completa em vídeo está disponível em nosso canal no YouTube

CinePOP: Como foi o seu primeiro contato com o caso dos Irmãos Necrófilos e como surgiu a ideia de realizar um filme sobre esses crimes?

Marcos Prado: A primeira que eu soube sobre os irmãos foi pelo jornal em 1993. Fiquei muito impressionado com o que eu tinha lido. Os garotos matavam as mulheres e, depois, faziam necrofilia, sexo com os cadáveres. Aquilo me impressionou demais. […] Dez anos atrás, eu tive uma conversa com Rodrigo Pimentel do Bope [Batalhão de Operações Policiais Especiais], que trabalhou com a gente no Tropa de Elite e no documentário Ônibus 174 [2002], que eu produzi. O Pimental me contou a versão da história dele, do ponto de vista da polícia. 

Eles escutaram o que a população relatava, que os garotos tinham poderes sobrenaturais, estavam possuídos pelo demônio e eles tinham o poder de ficar invisíveis. Também que eles andavam por cima das copas das árvores e, por isso, eles conseguiam cruzar longas distâncias a noite. Coisas absurdas. 

Quando eu descobri que, talvez, o Henrique [um dos irmãos condenados pelos crimes de assassinato] fosse inocente, já que ele foi condenado a 49 anos de prisão, eu pensei: agora eu tenho uma história interessante para tentar desvendar. Ao invés de fazer um filme de terror, eu faria um thriller psicológico e colocaria no filme essa questão da dúvida, se um dos irmãos participava ou não [dos assassinatos] pelo ponto de visto do policial missionado a resolver a questão. 

A motivação foi fazer um filme que questiona a possibilidade de terem condenado um inocente, somente porque tinha que condenar alguém. 

CinePOP: Do meu ponto de vista, este é um tema importante do filme. A gente pode dizer que a mensagem de Macabro é questionar um descaso social e político e, até mesmo, uma falência do sistema penal brasileiro?

Marcos Prado: Acho que sim. O filme de trata de algumas questões. A gente tentou pegar os sintomas da sociedade aqui fora, nas cidades grandes do Brasil. […] Por exemplo, temos um grande percentual de presos que são pequenos traficantes, que não precisavam estar encarcerados. Eles não têm os seus julgamentos executados e, então, ficam eternamente presos, portanto, existe uma falência geral da nossa sociedade. 

A gente transportou alguns desses sintomas para esta micro vila ficcionalizada na serra de Friburgo, onde esses crimes ocorreram. A maioria dos mortos eram mulheres, a população era extremamente racista, eles viviam com um fanatismo religioso, tudo que tem espalhado pelo Brasil. Portanto, a gente condensou e colocou uma lente de aumento dentro desse microcosmo. 

CinePOP: Tenho uma teoria de quando levamos ações do cotidiano, como por exemplo crimes, às telas do cinema, a gente consegue gerar maior empatia sobre o tema com as pessoas, tocá-las de forma mais contundente. Algo realizado em filmes, por exemplo, como Última Parada 174 (2008) e O Lobo Atrás da Porta (2014). Você acredita que Macabro consegue gerar essa empatia para as pessoas olharem a história por trás do crime? 

Marcos Prado: Com certeza. O cinema tem uma função de entretenimento, mas também tem uma função de fazer as pessoas se questionarem. Um filme como o Macabro apresenta o racismo estrutural de forma  intensa. Você sai se questionando em diversos níveis.

O filme é todo visto pelo ponto de vista do policial, a história dele é ficcionalizada, mas no começo do filme ele mata um inocente negro numa operação policial. Ele vai para uma segunda missão com uma questão jurídica de que ele vai ser julgado pelo crime que ele cometeu. É uma coisa que ocorre muito nas operações policiais do Rio de Janeiro, 80% das pessoas que acabam sendo mortas – sendo traficantes ou não – são negras. Se você consegue gerar debate junto com entretenimento, você está fazendo um favor a sociedade. 

CinePOP: Quais temas você pretende abordar em seus trabalhos futuro?

Marcos Prado: Estou desenvolvendo um projeto agora que é um outro longa de ficção sobre o Sabotage [nome artístico de Mauro Mateus dos Santos Filho], o rapper paulista assassinado em 2003. Eu acredito que ele tem uma vida muito interessante para retratar. Ele estava envolvido com o crime desde o começo da vida por questões óbvias, não tinha oportunidade para nada, mas era um poeta. Sempre foi um poeta e acabou conseguindo sair [dessa vida]. 

CinePOP: Como estão as expectativas para o lançamento de um filme no momento de pandemia e limitado apenas aos drive-ins, já que os cinemas permanecem fechados? 

Marcos Prado: A princípio a gente ficou reticente, mas eu demorei 10 anos para fazer este filme. […] A sala de cinema é aquele lugar em que você e o filme se relacionam diretamente. É diferente de casa… A sala do cinema é coletiva, mas é individual. 

Então, decidimos ir para o drive-in, que serve como um pré-lançamento. Se o mundo mudar, se houver uma vacina, o lançaremos no cinema. Se continuar desse jeito, vamos para o streaming. É um discussão que eu tenho que ter com os meus co-produtores. Achamos prudente lançar agora. Tem vários drive-ins abertos no Rio, São Paulo, Maceió, Bragança Paulista e outros lugares. Também acredito que é uma forma de dar uma esperança para as pessoas. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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