quinta-feira, abril 18, 2024

Crítica | Macabro – Filme Nacional cria suspense com caso real dos Irmãos Necrófilos

Baseado no caso real dos Irmãos Necrófilos, batizado assim pela mídia, Macabro chama atenção por desenvolver um suspense sobre um dos episódios mais bárbaros da investigação criminal brasileira. A obra de Marcos Prado (Paraísos Artificiais), no entanto, foca no policial comandante da missão e perde a mão ao problematizar o seu dilema pessoal, além de conduzir um forçado discurso sobre racismo. A tentativa soa simulada dentro de um contexto muito mais profundo sobre abandono social e político, além de uma falência do sistema penal brasileiro. 

De início, a trama expõe um outro revoltante acontecimento no Rio de Janeiro em 2010 . Quando um policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) matou por engano um morador do morro numa operação, ao confundir uma furadeira com uma arma. Na trama, o sargento Teo, vivido pelo ator Renato Góes, conhecido pelas novelas Órfãos de Terra (2019) e Velho Chico (2017), encarna o militar e tem o peso de compor um personagem atormentado e justiceiro, no entanto, fica na superfície do comandante linha dura com rompantes de emoção. 

Após esse trágico episódio, Teo é enviado a um vilarejo nas montanhas dos Pinéis, em Nova Friburgo, com a missão de prender dois irmãos suspeitos de cometer brutais assassinatos e manter relações sexuais com os cadáveres. Tal como saído de um episódio de Caçador de Mentes (Mindhunter, 2017 -), o enredo de investigação é bem desenhado e instigante ao buscar razões para os acontecimentos e suas futuras consequências, para além de uma caça a criminosos no meio de uma floresta.

Deste modo, o retrato dos assassinos é feito por meio dos relatos dos moradores daquela comunidade rural, na região serrana do Rio de Janeiro. Com uma fotografia impecável de Azul Serra (da série Boca a Boca), as cenas noturnas são as mais envolventes e expressam, justamente, os momentos mais eminentes do filme. Em uma atmosfera de mistério, Macabro remonta os segredos e os abusos da vida desses dois irmãos, entretanto, se desvia de compreender o que se passa na região para focar nas emoções de Teo e os seus traumas familiares. 

Do ponto de vista do roteiro, pode ser interessante relacionar dois casos de violência policial distintos na pele de uma mesma pessoa. No entanto, esta ponte torna-se uma incongruência na trama, pois não traz redenção, reflexão ou, ao mesmo um senso de justiça para a relação engendrada. Ou seja, a história do policial apesar de torna-se o ponto principal da narrativa, não tem uma mensagem de relevância no todo da obra. 

Aliado a este erro de dosagem, Macabro tenta elaborar uma relação entre o racismo de uma comunidade descendente de imigrantes suíços e alemães à contribuição para a psicopatia de um dos irmãos. O movimento é feito de forma recorrente e estereotipada por meio de falas do cabo Everson (Guilherme Ferraz), as quais não condizem com o ambiente delimitado a sua posição de integrante do Bope. 

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O caso dos irmão necrófilos já serviu de pano de fundo para outra obra nacional, Isolados (2014), com Bruno Gagliasso e Regiane Alves. Lá, a história era apenas um ponto de partida para as sensações de horror e claustrofobia arquitetadas por Tomas Portella (Operações Especiais). Já na obra de Marcos Prado, o caso é propagado como enredo principal, mas, na realidade, serve de exemplo para discussões sociais mais profundas, tais como “justiça com as próprias mãos” e “desamparo social”, os quais disputam espaço com o clima de suspense.

Esses assuntos são recorrentes na obra do diretor e produtor, vide Estamira (2004), Tropa de Elite (2007) e o seriado O Mecanismo (2018), em contrapartida, os crimes bárbaros e o seu tom de suspense policial pedem mais incisão sobre os assassinos do que sobre o policial. Afinal, o personagem Teo encontra-se anos-luz da malícia e dualidade do Capitão Nascimento (Wagner Moura), de Tropa de Elite, para tomar a frente narrativa. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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