Delicado, sensível e inocente, Meu Extraordinário Verão com Tess surpreendeu o júri do Festival de Berlim em 2019, com uma trama simbólica que explora as dinâmicas familiares, as desventuras do primeiro amor e a solidão de um peculiar adolescente.
Marcando sua estreia em longas metragens, Steven Wouterlood traz às telonas a adaptação da obra de Anna Woltz, explorando a pureza infantil durante um quente verão europeu, à medida que promove uma reflexão sobre o valor da família e a importância em construir memórias em conjunto.
Se comunicando com facilidade com o novo normal, fruta da pandemia do coronavírus, essa comédia dramática tem tudo para cativar as audiências brasileiras e Wouterlood conta, em uma entrevista EXCLUSIVA à jornalista Rafa Gomes, o que faz de Meu Extraordinário Verão com Tess um refúgio tão valioso e transformadors em tempos de isolamento social.
O que te fez se apaixonar pelo livro?
SW: Eu acho que essa é uma história de aquecer os corações, eu fiquei muito tocado. Ela é cheia de emoções, mas também repleta de humor e momentos empolgantes. Eu acho que a obra é muito universal, é sobre relações familiares, sobre o primeiro amor e o medo da solidão. Eu creio que é uma história muito próxima da realidade e muito próxima do meu coração e pensei que daria um lindo filme.
Esse é o seu primeiro longa. Como esse projeto chegou até você?
SW: Eu li o livro há cinco anos atrás, minha tia, irmã da minha mãe, que o recomendou e eu acho que já estava pronto para fazer meu primeiro longa metragem e pensava na possibilidade de produzir algo que fosse baseado em um livro. Eu me apaixonei pela história, escrita por Anna Woltz, fui até meu produtor e ele também concordou que essa obra poderia se tornar um belo filme. Então conversamos com a autora, que também ficou empolgada com o meu trabalho e com os nosso planos e então fomos atrás de um roteirista e encontramos Laura van Dijk. A partir daí, desenvolvemos o roteiro ao longo de três anos, conseguimos apoio financeiro do Fundo Financeiro para Cinema da Holanda e do mesmo fundo da Alemanha e levamos cinco anos no total – desde a primeira leitura do filme até a sua finalização.
Como você garantiu que o filme pudesse ser o mais fiel possível ao livro?
SW: O filme é bem parecido com o livro. Fizemos algumas alterações, até porque, é claro que o formato cinematográfico é totalmente diferente do formato literário. Em um livro você consegue “ouvir” a voz do narrador, você consegue lê-la em todo o tempo e em uma produção você não quer exagerar nesse aspecto. Então tivemos que fazer algumas mudanças nesse sentido. Mas em essência, a cerne e o coração da história permanecem imutáveis no filme.
Como você se sentiu por seu filme ter sido o vencedor de uma menção honrosa durante o Júri Adulto da Berlinale Generation KPlus?
SW: Foi incrível ter sido selecionado para o Festival de Berlim, então ter a nossa grande estreia mundial nesse evento espetacular foi maravilhoso. Nós tivemos uma boa receptividade, a audiência respondeu muito bem e membros da indústria de vários países ficaram interessados em comprar o filme. E ainda tivemos essa menção honrosa no festival! Nossa produção teve um começo de jornada maravilhoso. Depois disso, ele fora exibido em outros festivais, o que me deu a oportunidade de viajar muito nesse período e me sinto muito honrado! Bem, o filme será lançado no Brasil também, então é incrível poder viver tudo isso.
Meu Extraordinário Verão com Tess traz uma história muito inspiradora sobre esperança, família e pureza infantil. O que torna essa produção tão ideal para esse momento tão desafiador que estamos vivendo no mundo?
SW: É interessante. É um filme sobre as férias de verão, então acho que é lindo poder escapar da nossa realidade enquanto o assistimos, conforme experimentamos esse atmosfera veraneia, como uma espécie de escape. Além disso, o filme é sobre solidão e todos nós estamos vivendo nesse contexto, que tem nos dado mais tempo para refletirmos sobre nós mesmos e sobre nossas vidas. É claro que esse tem sido um momento complicado para todos, mas também aprender a lidar com a solitude pode ser muito útil às vezes. Então, eu acho que o filme pode ser ideal para esse contexto pandêmico, justamente por promover essas reflexões sobre a solidão, a vida em família e tantos outros assuntos conectados.
Por se tratar de um filme que explora a solidão e as relações familiares, você acha que o longa pode se tornar uma experiência inspiradora para esse período tão delicado?
SW: Eu espero que o filme possa inspirar as pessoas. Como você mesmo disse, a produção é sobre as dinâmicas familiares, a importância de criarmos memórias juntos e essa é a lição que o nosso protagonista aprende no filme: De que ao invés de se afastar das pessoas, o ideal é você se aproximar delas e perceber qual o real significado da família e o quão importante é construir lindas memórias juntos.
Você acredita que, além das audiências infantis, os adultos também podem se identificar com Meu Maravilhoso Verão com Tess?
SW: Sim, absolutamente! Essa história foi feita para todas as idades e ela é cheia de camadas. Temos diversos personagens que navegam por temas distintos e eu acho que o filme não é muito infantil. Eu não tento explicar a trama demais para o público infantil. De fato, eu acho que as crianças são capazes de entender muito mais do que as pessoas imaginam e precisam ser consideradas como uma audiência séria. Muitas vezes eles entendem mais do que nós. Então, eu acho que o filme foi feito para ambos os públicos.