Ana Carolina Reis, de Nova York
Assim que entrou na sala de cinema do tradicional Angelika Film Center em Nova York, logo após a exibição de seu polêmico ‘Demônio de Neon‘ (The Neon Demon), o diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn já chegou se desculpando antes da rodada de perguntas e respostas:
“Eu queria pedir desculpas por não terem exibido os créditos até o final por conta das perguntas, e aí vocês perderam a incrível música que a Sia fez pra nós, Waving Goodbye. Odeio quando isso acontece”, lamentou Refn.
Desculpas aceitas, plateia ainda impactada com os últimos 20 minutos de filme e microfone aberto, Refn usou o bom humor para explicar que ‘Demônio de Neon‘ é na verdade uma comédia de horror sobre o mundo feminino, que ele dedica no final à atriz Liv Corfixen, sua mulher, com direito a coraçãozinho e tudo nos créditos.
Qual foi a reação mais intensa que The Neon Demon já teve até agora na plateia?
Em uma exibição para a imprensa dois jornalistas saíram no tapa literalmente depois do filme porque um deles gritou: “Fuck you, Liv” no final e o outro achou desrespeitoso. Eu achei ótimo.
Não deixe de assistir:
The Neon Demon é mais sobre a estética do fluxo da imagem do que sobre roteiro, concorda?
Sim. Eu tentei fazer um filme líquido, no sentido de que é sobre o que você sente, a experiência em si. Tentei romper com a convencional estrutura dos 3 atos e transformar tudo mais em uma experiência, você reagindo às imagens.
Como foi a escolha de Elle Fanning para o papel da inocente Jesse?
Ela era a única que eu queria para esse papel. Na época ela tinha 16 anos, o que poderia ser um problema, então falei: Dentro de mim existe uma garota de 16 anos e quero que você a interprete. Elle queria fazer um filme para a geração dela, então aceitou. Mas a certeza veio quando eu fiz a pergunta “Você se acha bonita?, sem pensar, ela respondeu enfaticamente “Sim”. Aí sabia que tinha encontrado minha Jesse.
E a participação de Keanu Reeves?
Meu primeiro emprego foi em “The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde,” filme em que fui demitido, era estrelado pelo Keanu e acabou não dando em nada. Mas desde então fiquei fascinado por ele e sempre quis ter ele em um filme meu. E a primeira frase dele em “Neon” é “Você está doidona?”. Isso não é maravilhoso?
Como surgiu o conceito de “The Neon Demon”?
Eu acordei numa daquelas manhãs deprimidas e pensei “eu não sou bonito, mas minha mulher é. Como é se sentir assim?”. Então decidi fazer uma comédia de horror sobre beleza. Algo como salto alto e sangue, e o mundo fashion é a clássica combinação disso: glitter e vulgaridade. Achei perfeito.
Você acredita que deveria haver um maior e melhor espaço para as mulheres nos filmes?
Eu sou casado com uma escandinava feminista, que acha que o poder tem que ser das mulheres. E eu acredito nisso também. Em Drive, por exemplo, o personagem de Ryan Gosling é tão feminino que é masculino. As mulheres têm o poder sim, tanto que em The Neon Demon os personagens masculinos são todos secundários.
Você fez uma filme sobre mulheres sobre o ponto de vista masculino. Você teve ajuda feminina? E o mais importante: a Liv gostou do resultado final?
Como eu falei, acho que tenho uma menina de 16 anos dentro de mim, e foi dela que partiu o filme. Quanto a minha mulher, eu fiquei muito nervoso para ver a reação dela porque ela é muito crítica e sabe o que ela disse? “É melhor que Drive”.