domingo , 22 dezembro , 2024

EXCLUSIVO! Stacie Passon, diretora de ‘Os Segredos do Castelo’, conta os segredos de um bom thriller psicológico!

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O thriller psicológicoOs Segredos do Castelo’ acaba de estrear nas plataformas de aluguel sob demanda no Brasil e para que você, querido leitor do CinePOP, saiba por que deve assistir a esse filme, nós conversamos com a diretora Stacie Passon, que nos falou sobre os desafios de adaptar uma história tão atemporal. Confira!

CinePop: O Brasil está prestes a assistir ‘Os Segredos do Castelo’ no streaming. Como você chegou a esse projeto? Como você chegou à ideia de fazer esse filme e como se sente com o filme chegando aqui no Brasil no final desse ano, com todo mundo em casa e podendo assistir ao filme?

Stacie: Bom, é ótimo porque o filme é sobre ficar preso em casa, então… Bom, eu espero que isso seja uma coisa boa para o público. Eu li esse livro quando eu era criança e eu adorei. Eles me enviaram o roteiro e eu senti que, como fã, eu poderia fazer justiça a ele. Adoro a ideia de duas irmãs que amam completamente uma à outra, e vivem calmamente na casa delas. E eu pensei que se isso fosse abalado, seria terrível, e eu adoro essa premissa.



CinePOP: E o filme ecoa esse embate de ter que lidar com um desconhecido, a situação de como as irmãs são vistas pelo pessoal do vilarejo…

Stacie: Eu queria que o filme fosse uma história de amor entre irmãs. Sério, eu sei que parece estranho – eu tenho uma irmã e ela viu o filme e disse que eu era meio bizarra. Eu sempre me identifiquei com Merricat Blackwood, não só porque Merricat é a irmã mais nova (como eu), mas também porque a Merricat é meio que uma nerd, que ama ciência, flores, bruxaria e livros, e você pode ver que talvez num tempo anterior os pais dela não a tivessem permitido ser tudo que ela quisesse ser. E, ao eliminá-los, ela agora vive nessa maravilhosa existência com uma parceira que aceita tudo, que é a irmã dela. E eu adoro a bizarrice nisso tudo. É por isso que eu quis fazer esse filme.

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CinePOP: Ainda sobre a Merricat, ela é uma personagem que é tipo a responsável da casa, né? É ela quem vai para a vila comprar os mantimentos, etc, e eu me pergunto como que o filme, em outros níveis, também mostra como as mulheres são vistas em algumas partes do mundo, e ainda são vistas, como aquelas que se envolvem com bruxaria, as responsáveis por trazer as coisas ruins para a comunidade, sabe?

Stacie: Eu acho que o filme explora todas as formas como as mulheres são temidas e desconfiadas pela sociedade. Acho que uma coisa boa é que as mulheres no castelo, as duas irmãs, elas simplesmente não querem se envolver com a forma como as pessoas pensam sobre elas. Tem uma cena, no final do filme, que os moradores escreveram “vão embora” na porta delas, mas é mais como se as irmãs tivessem escrito aquilo na porta: “vão embora”. Elas queriam estar protegidas do mundo exterior, elas não queriam se envolver no que estava acontecendo. É como se elas dissessem ao mundo “lidem com os seus problemas, nós não queremos nenhum intruso”. E é claro que o que acontece com essa utopia é que uma pessoa chega para reivindicar o direito à casa e, assim, deixa entrar o fantasma de todas essas pessoas do lado de fora da casa, então é certamente uma metáfora de tentar encontrar o rumo por conta própria como mulher, e é isso que eu amo tanto no livro, porque com certeza Jackson sabidamente armou isso na história. Shirley Jackson queria deixar as pessoas do lado de fora do cérebro dela. Eu acho ela uma escritora incrível. Espero ter trazido justiça ao livro dela.

CinePOP: Nessa linha de pensamento, o filme ecoa tudo que estamos vendo dos discursos de ódio. Eu consigo ver isso no filme, embora a história tenha sido escrita mais de meio século atrás.

Stacie: É, a história foi escrita em 1962. É claro que há muito trauma de pós-guerra ali. E a Shirley, naquela época, tomava muitas drogas e tinha que lidar com o marido mulherengo ao mesmo tempo. É engraçado que há uma campanha surgindo no seu país e no meu, um nacionalismo que é assustador, e eu pensei sobre isso quando estava fazendo o filme. Há uma camada de ideias político-sociais na história que nos leva a onde estamos hoje, com certeza. Eu não sei se você sabe, mas na sequência do incêndio, no filme, há um monte de retratos de pessoas que moraram na casa, e são todos retratos de homens, e estão queimando.  Eu não sei exatamente o que significa, mas é um visual interessante.

CinePOP: Com certeza! Eu adoro a parte do final de ‘Os Segredos do Castelo’, de verdade!

Stacie: Obrigada!

CinePOP: Eu não posso dizer muito mais que isso para não estragar o filme, mas fiquei surpresa, especialmente porque essas duas personagens, Merricat e Constance, elas são ao mesmo tempo tão diferentes e tão iguais! E Alexandra Daddario e Taissa Farmiga fizeram um trabalho oposto em cena, e dava para ver que era difícil para elas atingir esse ponto de interpretação porque não era possível mostrar muitas emoções.

Stacie: Nós conversamos muito sobre isso enquanto filmávamos. Acho que as duas personagens foram treinadas para não demonstrar emoções. A personagem da Alexandra, Constance, foi treinada para sorrir. E acho que Merricat não tem isso dentro dela, de conseguir existir no mundo. Ela está tentando, mas não consegue e desiste. É o motivo pelo qual ela se livra de todo mundo, porque ela não consegue entender a lógica que as pessoas esperam que ela tenha. Há provavelmente uma forma com que Merricat gostaria de viver e que viria à tona se todas essas pessoas opressoras sumissem, e acho que Merricat faz isso. Não sei se ela precisa demonstrar algum sentimento no rosto, e isso não é bizarro, é apenas a forma como ela é.

CinePOP: Nos últimos anos tem havido muitos thrillers dirigidos e protagonizados por mulheres. Você acha que isso é uma tendência para os próximos anos no cinema?

Stacie: Acho que as mulheres estão assumindo um pouco mais o controle dos thrillers psicológicos porque acho que elas podem trazer um pouco mais de entendimento da história de fundo das personagens mulheres, que ou perpetuam o crime ou que são as vítimas de crimes. Se vai ser horror ou suspense, ser mulher traz uma diferente perspectiva. Um grande exemplo é ‘Babadook’. É um filme completamente perfeito e nenhum outro diretor poderia ter feito aquele filme. Quer dizer, Jennifer Kent poderia ter feito esse filme, mas às vezes me pergunto se o filme tivesse sido dirigido por um homem, o que seria perdido, entende? Tem algo a ver.

CinePOP: Com certeza! Mudando um pouco, a direção de arte é surpreendente em ‘Os Segredos do Castelo’: os detalhes, os contrastes de cores, a composição de ambiente. No início do filme tudo é mais brilhante e colorido, o sol entra na cozinha e, do meio para o final tudo é mais sombrio. E é difícil achar o ângulo certo em uma casa para conseguir capturar tudo isso.

Stacie: Nós tivemos uma diretora de arte maravilhosa, chamada Anna Rackard, e uma das coisas que eu mais gostava nela era o senso de cor dela. E também os designers Eimer Ni, eu e Anna Rackard, nós criamos uma paleta de cores e entendemos quando trouxemos pro set que rosa, azul vibrante, brancos e verdes acabariam criando uma cena colorida, mas em algum momento essas cores se emudeceram e ficaram reais. A ideia era começar nessa forma cartunesca e se transformar no básico da realidade, mais escuro. Então, obrigada por perceber isso.

CinePOP: Imagina! E, bom, parece no filme que há três personagens principais: as duas irmãs e a casa em si. E me parece que o filme não seria a mesma coisa se a história se passasse em um apartamento ou em outro tipo de casa ou castelo, porque há o jardim, as escadas, muitos andares etc. Como você, como diretora, conseguiu encontrar a linguagem de dizer isso no filme, sem dizer isso ao espectador?

Stacie: A casa, para mim, é um personagem, e representa o privilégio. As meninas que cresceram nesse privilégio e não pediram por esse privilégio mas foram envolvidas por ele, se tornaram como a própria casa: um ornamento. Então, quando um ornamento queima, o privilégio queima, e pessoas que desejavam estar na casa não vão querer mais estar na casa porque é inabitável, mas elas ainda querem, querem estar lá porque é onde a outra está. Então, elas não precisam de privilégios, elas precisam uma da outra. Acho que o castelo é a percepção do privilégio, e quando esse privilégio vai embora, o que resta às pessoas?

O CinePOP agradece à diretora Stacie Passon por conversar conosco! ‘Os Segredos do Castelo‘ já está disponível para aluguel nas plataformas de streaming.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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O thriller psicológicoOs Segredos do Castelo’ acaba de estrear nas plataformas de aluguel sob demanda no Brasil e para que você, querido leitor do CinePOP, saiba por que deve assistir a esse filme, nós conversamos com a diretora Stacie Passon, que nos falou sobre os desafios de adaptar uma história tão atemporal. Confira!

CinePop: O Brasil está prestes a assistir ‘Os Segredos do Castelo’ no streaming. Como você chegou a esse projeto? Como você chegou à ideia de fazer esse filme e como se sente com o filme chegando aqui no Brasil no final desse ano, com todo mundo em casa e podendo assistir ao filme?

Stacie: Bom, é ótimo porque o filme é sobre ficar preso em casa, então… Bom, eu espero que isso seja uma coisa boa para o público. Eu li esse livro quando eu era criança e eu adorei. Eles me enviaram o roteiro e eu senti que, como fã, eu poderia fazer justiça a ele. Adoro a ideia de duas irmãs que amam completamente uma à outra, e vivem calmamente na casa delas. E eu pensei que se isso fosse abalado, seria terrível, e eu adoro essa premissa.

CinePOP: E o filme ecoa esse embate de ter que lidar com um desconhecido, a situação de como as irmãs são vistas pelo pessoal do vilarejo…

Stacie: Eu queria que o filme fosse uma história de amor entre irmãs. Sério, eu sei que parece estranho – eu tenho uma irmã e ela viu o filme e disse que eu era meio bizarra. Eu sempre me identifiquei com Merricat Blackwood, não só porque Merricat é a irmã mais nova (como eu), mas também porque a Merricat é meio que uma nerd, que ama ciência, flores, bruxaria e livros, e você pode ver que talvez num tempo anterior os pais dela não a tivessem permitido ser tudo que ela quisesse ser. E, ao eliminá-los, ela agora vive nessa maravilhosa existência com uma parceira que aceita tudo, que é a irmã dela. E eu adoro a bizarrice nisso tudo. É por isso que eu quis fazer esse filme.

CinePOP: Ainda sobre a Merricat, ela é uma personagem que é tipo a responsável da casa, né? É ela quem vai para a vila comprar os mantimentos, etc, e eu me pergunto como que o filme, em outros níveis, também mostra como as mulheres são vistas em algumas partes do mundo, e ainda são vistas, como aquelas que se envolvem com bruxaria, as responsáveis por trazer as coisas ruins para a comunidade, sabe?

Stacie: Eu acho que o filme explora todas as formas como as mulheres são temidas e desconfiadas pela sociedade. Acho que uma coisa boa é que as mulheres no castelo, as duas irmãs, elas simplesmente não querem se envolver com a forma como as pessoas pensam sobre elas. Tem uma cena, no final do filme, que os moradores escreveram “vão embora” na porta delas, mas é mais como se as irmãs tivessem escrito aquilo na porta: “vão embora”. Elas queriam estar protegidas do mundo exterior, elas não queriam se envolver no que estava acontecendo. É como se elas dissessem ao mundo “lidem com os seus problemas, nós não queremos nenhum intruso”. E é claro que o que acontece com essa utopia é que uma pessoa chega para reivindicar o direito à casa e, assim, deixa entrar o fantasma de todas essas pessoas do lado de fora da casa, então é certamente uma metáfora de tentar encontrar o rumo por conta própria como mulher, e é isso que eu amo tanto no livro, porque com certeza Jackson sabidamente armou isso na história. Shirley Jackson queria deixar as pessoas do lado de fora do cérebro dela. Eu acho ela uma escritora incrível. Espero ter trazido justiça ao livro dela.

CinePOP: Nessa linha de pensamento, o filme ecoa tudo que estamos vendo dos discursos de ódio. Eu consigo ver isso no filme, embora a história tenha sido escrita mais de meio século atrás.

Stacie: É, a história foi escrita em 1962. É claro que há muito trauma de pós-guerra ali. E a Shirley, naquela época, tomava muitas drogas e tinha que lidar com o marido mulherengo ao mesmo tempo. É engraçado que há uma campanha surgindo no seu país e no meu, um nacionalismo que é assustador, e eu pensei sobre isso quando estava fazendo o filme. Há uma camada de ideias político-sociais na história que nos leva a onde estamos hoje, com certeza. Eu não sei se você sabe, mas na sequência do incêndio, no filme, há um monte de retratos de pessoas que moraram na casa, e são todos retratos de homens, e estão queimando.  Eu não sei exatamente o que significa, mas é um visual interessante.

CinePOP: Com certeza! Eu adoro a parte do final de ‘Os Segredos do Castelo’, de verdade!

Stacie: Obrigada!

CinePOP: Eu não posso dizer muito mais que isso para não estragar o filme, mas fiquei surpresa, especialmente porque essas duas personagens, Merricat e Constance, elas são ao mesmo tempo tão diferentes e tão iguais! E Alexandra Daddario e Taissa Farmiga fizeram um trabalho oposto em cena, e dava para ver que era difícil para elas atingir esse ponto de interpretação porque não era possível mostrar muitas emoções.

Stacie: Nós conversamos muito sobre isso enquanto filmávamos. Acho que as duas personagens foram treinadas para não demonstrar emoções. A personagem da Alexandra, Constance, foi treinada para sorrir. E acho que Merricat não tem isso dentro dela, de conseguir existir no mundo. Ela está tentando, mas não consegue e desiste. É o motivo pelo qual ela se livra de todo mundo, porque ela não consegue entender a lógica que as pessoas esperam que ela tenha. Há provavelmente uma forma com que Merricat gostaria de viver e que viria à tona se todas essas pessoas opressoras sumissem, e acho que Merricat faz isso. Não sei se ela precisa demonstrar algum sentimento no rosto, e isso não é bizarro, é apenas a forma como ela é.

CinePOP: Nos últimos anos tem havido muitos thrillers dirigidos e protagonizados por mulheres. Você acha que isso é uma tendência para os próximos anos no cinema?

Stacie: Acho que as mulheres estão assumindo um pouco mais o controle dos thrillers psicológicos porque acho que elas podem trazer um pouco mais de entendimento da história de fundo das personagens mulheres, que ou perpetuam o crime ou que são as vítimas de crimes. Se vai ser horror ou suspense, ser mulher traz uma diferente perspectiva. Um grande exemplo é ‘Babadook’. É um filme completamente perfeito e nenhum outro diretor poderia ter feito aquele filme. Quer dizer, Jennifer Kent poderia ter feito esse filme, mas às vezes me pergunto se o filme tivesse sido dirigido por um homem, o que seria perdido, entende? Tem algo a ver.

CinePOP: Com certeza! Mudando um pouco, a direção de arte é surpreendente em ‘Os Segredos do Castelo’: os detalhes, os contrastes de cores, a composição de ambiente. No início do filme tudo é mais brilhante e colorido, o sol entra na cozinha e, do meio para o final tudo é mais sombrio. E é difícil achar o ângulo certo em uma casa para conseguir capturar tudo isso.

Stacie: Nós tivemos uma diretora de arte maravilhosa, chamada Anna Rackard, e uma das coisas que eu mais gostava nela era o senso de cor dela. E também os designers Eimer Ni, eu e Anna Rackard, nós criamos uma paleta de cores e entendemos quando trouxemos pro set que rosa, azul vibrante, brancos e verdes acabariam criando uma cena colorida, mas em algum momento essas cores se emudeceram e ficaram reais. A ideia era começar nessa forma cartunesca e se transformar no básico da realidade, mais escuro. Então, obrigada por perceber isso.

CinePOP: Imagina! E, bom, parece no filme que há três personagens principais: as duas irmãs e a casa em si. E me parece que o filme não seria a mesma coisa se a história se passasse em um apartamento ou em outro tipo de casa ou castelo, porque há o jardim, as escadas, muitos andares etc. Como você, como diretora, conseguiu encontrar a linguagem de dizer isso no filme, sem dizer isso ao espectador?

Stacie: A casa, para mim, é um personagem, e representa o privilégio. As meninas que cresceram nesse privilégio e não pediram por esse privilégio mas foram envolvidas por ele, se tornaram como a própria casa: um ornamento. Então, quando um ornamento queima, o privilégio queima, e pessoas que desejavam estar na casa não vão querer mais estar na casa porque é inabitável, mas elas ainda querem, querem estar lá porque é onde a outra está. Então, elas não precisam de privilégios, elas precisam uma da outra. Acho que o castelo é a percepção do privilégio, e quando esse privilégio vai embora, o que resta às pessoas?

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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