sexta-feira, maio 10, 2024

Falcão e o Soldado Invernal | Série promove desconstrução do heroísmo tradicional

[ANTES DE COMEÇAR A MATÉRIA, FIQUE CIENTE QUE ELA ESTÁ RECHEADA DE SPOILERS] 

Se você ainda não assistiu ao último episódio de Falcão e o Soldado Invernal, não leia esta matéria para não receber spoilers.


Apesar dos super-heróis estarem em alta desde a última década, o arquétipo do herói está longe de ser uma novidade na história humana. Tanto que alguns dos grandes e poderosos heróis dos quadrinhos acabam sendo releituras dos clássicos heróis gregos, romanos e medievais. Em comum, todos eles costumam ostentar as seguintes características: fortes, viris, corajosos, praticamente invencíveis, destemidos e atendem a um chamado interno de fazer o bem. Eles flertam entre o mundo dos humanos e a realidade dos deuses, sempre realizando feitos impossíveis, dando a eles uma aura mítica que nos inspira e motiva, visto que eles (quase) nunca demonstram fraqueza. E é essa busca pela perfeição, essa omissão de fraquezas e inseguranças, que costuma causar suas respectivas ruínas.


Fisicamente falando, principalmente pelos principais heróis dos quadrinhos virem dos EUA do século XX, eles seguem um padrão quase imutável. São brancos, extremamente fortes, ostentam uma arrogância sedutora e definem os estereótipos do Macho Alfa. E isso leva aos cinemas personagens que sempre tentam não vacilar ou recusar missões. O que vier pela frente pode ser enfrentado por eles, não importa a dificuldade.

Forte, invencível e cansado da vida comum. O Wolverine é um clássico exemplo do herói “Alpha”.

Em Falcão e o Soldado Invernal, porém, os protagonistas são dois homens comuns, que não ostentam superpoderes e, diferentemente do padrão, eles não estão empenhados em cumprir seu “Chamado à aventura”. Esse conceito vem da chamada Jornada do Herói, proposta pelo mitologista Joseph Campbell. Segundo ele, é esse chamado que motiva os heróis a seguirem suas jornadas épicas que entram para a história. Na série, a dupla principal já atendeu a esse chamado no passado e conseguiu concluí-lo. Só que, agora, os nossos heróis se recusam a cumprir seus novos chamados que mexem com eles em nível pessoal. Sam Wilson (Anthony Mackie) abre mão do legado do Capitão América, enquanto Bucky Barnes (Sebastian Stan) precisa se recuperar psicologicamente para viver suas missões.

Ambos são assombrados por fantasmas que não agem fisicamente, mas os rodeiam e influenciam diretamente em suas vida. Enquanto Bucky precisa lidar com a culpa pelos crimes do passado, Sam tem a questão do racismo, que assola a ele e sua família, mesmo que seja um dos heróis mais famosos do mundo. Então, diante desses vilões silenciosos, eles precisam aceitar a dor e engolir o medo para se ajudarem a superar esses traumas ou, pelo menos, conseguir lutar contra eles. E mesmo que eles relutem a aceitar essa ajuda, os episódios vão desconstruindo esse arquétipo de Macho Alfa para que eles trabalhem seus problemas.

Eles não deixam de realizar feitos super-humanos, mas também não perdem suas falhas tipicamente humanas. Eles não deixam de ser sinônimo de virilidade e força por desarmarem seus traumas, chorarem e enfrentarem seus problemas psicológicos ou sociais. E essa desconstrução fica ainda mais nítida com a chegada do Agente Americano (Wyatt Russell). Na teoria, ele é o típico herói clássico. Forte, grande, másculo, motivado e movido pelo incessante desejo de fazer o bem. Mesmo que isso signifique matar quem estiver pela frente. Na prática, porém, ele é um soldado que reúne  os traumas dos dois heróis da série e traz a eles memórias do que há de pior em suas jornadas. Essa dualidade do herói impulsivo contra heróis desiludidos que passam por seus problemas dá uma dinâmica incrível a série, já que os três buscam ajudar, mas cada um a seu jeito.

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A cada novo episódio, vemos John Walker, um herói ‘perfeito’ ruir em seus próprios traumas e inseguranças, beirando a vilania, enquanto Bucky, que poderia ter o mesmo destino que o rival, trabalha seus problemas e vai se perdoando pelo passado, chegando ao fim como um novo homem. Da mesma forma, Sam trabalha e estuda as questões raciais que o afetam, e repensa sua decisão de não ser o Capitão América vendo como aquilo poderia ajudar a impedir que outras pessoas negras passassem pelo que ele passou. Ao aceitar seu verdadeiro destino, o herói conclui sua missão e se mostra pronto para o mundo. Armados de conciliação e palavras, o Capitão América e o Soldado Invernal se prontificam para salvar o mundo dotados de compreensão e, claro, suas habilidades físicas especiais.

Por fim, chegamos ao último capítulo com um mundo novo disposto a aceitar heróis falhos, mas genuinamente bons. Eles não precisam ser supersoldados matadores para conquistarem e inspirarem a população. Basta que eles estejam bem e façam o bem. Afinal, é impossível ajudar os outros se você está afogado em seus próprios traumas e inseguranças. É uma nova era de novos heróis. Superpoderosos, mas essencialmente humanos. Vocês estão prontos?

Capitão América e o Soldado Invernal está disponível no Disney+

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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