sexta-feira, março 29, 2024

Festival do Rio 2013: Mato Sem Cachorro

GUTO & EU

 É muito difícil saber que tipo de comédia nacional irá emplacar no gosto do grande público. A tarefa se torna difícil para os avaliadores porque no fundo todas parecem fazer uso de um humor bem similar, tornando quase impossível sua dissociação. A verdade é que as mais inocentes, e recomendadas para a família toda, vide Até que a Sorte nos Separe e Minha Mãe é uma Peça, tendem a levar mais gente aos cinemas. Já obras um pouco mais ácidas, e voltadas para assuntos mais recomendados para adultos, como O Concurso, acabam ficando mais restritos.

Talvez Mato Sem Cachorro sofra um pouco dessa síndrome, já que além do tema central aqui ser o relacionamento entre um casal, o filme faz uso em sua maioria de um humor incorreto, muito palavreado de baixo calão, e cenas que os correspondem. O protagonista Deco (Bruno Gagliasso, em seu primeiro papel no cinema) é um sujeito mais do que encostado, que divide o apartamento com o primo, vivido pelo humorista Danilo Gentili. Durante uma emergência, na qual levava o primo para o hospital, Deco quase atropela um cãozinho. O animal sofre de uma rara doença conhecida como narcolepsia canina.

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A doença é definida como: toda vez que o animal fica muito excitado por qualquer que seja o motivo, ele cai num sono pesado, como um desmaio. Esse é o gancho para milhares de piadas iguais, todas fazendo uso da situação peculiar do cachorro. No mesmo dia em que quase é linchado devido ao incidente, o personagem principal conhece Zoé, vivida pela talentosa Leandra Leal (Bonitinha, Mas Ordinária). Os dois se apaixonam por algum motivo inenarrável, tendo em vista que o personagem Deco de Gagliasso é tão sem vida e introspectivo, que logo de cara começamos a torcer contra ele.

O sujeito não possui numa qualidade atraente que o redima, e mesmo seus gestos altruístas e boas ações parecem acidentes. O sujeito é empurrado a tais situações, nunca por vontade própria. Mesmo em personagens introspectivos é preciso existir ao menos uma qualidade redentora, para torná-lo minimamente interessante. Deco não possui uma sequer. Não possui desejos ou ambições, e passa os dias deitado no sofá. Seu maior feito foi ter colocado na internet um vídeo da cantora Sandy, bêbada numa Lei Seca (boa sacada que brinca com a persona de santinha da jovem celebridade).

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As personalidades do casal principal não poderiam ser mais opostas. A personagem de Leal é uma jovem mulher cheia de vida e aspirações, trabalha num programa de rádio, e realmente ama animais. Apesar de ser um filme, existe algo muito errado em querermos que esses dois fiquem juntos. Se estivéssemos de fato vivendo de perto tal situação, não existe ninguém que não aconselharia Zoé a fugir o mais rápido possível. Mas no cinema o amor vence tudo, até a real felicidade de uma personagem para quem deveríamos torcer.

Sinceramente não acredito que pessoas que recriminaram O Concurso possam dar seu aval para esse Mato Sem Cachorro. Talvez apenas os românticos inveterados, pois no quesito humor, as duas produções não são minimamente desiguais. Aqui encontramos piadas com anões (assim como no filme citado), nudez masculina, e até masturbação em cachorros, tudo com o intuito de arrancar gargalhadas. Junte a isso montagens de cachorros fugindo num parque, com seu passeador (o citado anão) os perseguindo, sequência que aproxima o filme de qualquer uma dessas exibições da Sessão da Tarde, de filmes sobre animais.

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Mato Sem Cachorro não é um desastre de trem completo. Obviamente sua proposta é jogar no seguro e atingir o maior número de pessoas possíveis. Danilo Gentili tem carisma o suficiente para roubar a maioria de suas cenas, talvez só precisasse de um material melhor e mais afiado. Leandra Leal consegue levantar a moral de qualquer obra em que esteja. Suas cenas são sempre recheadas de muita classe, até mesmo quando todo o resto não corresponde. A atriz consegue trazer seriedade e como já vimos na TV, fazer qualquer tipo de personagem. Ela é uma grande profissional. E Gagliasso mergulha de cabeça, como um ator metódico, se transforma e some em Deco. E o problema, para o filme, é justamente o protagonista.

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