O cinema italiano vem apresentando uma nova safra de bons diretores, que estão sobressaindo nos festivais internacionais de cinema. Mas, infelizmente, a maioria desses filmes não chega ao circuito brasileiro. Por isso vale aproveitar os últimos momentos do Festival do Rio para conferir Alì tem olhos azuis, do jovem cineasta Claudio Giovannesi, que ainda não tem distribuidora no Brasil.
Interpretado por não-atores – por isso o nome de cada um também é o nome do personagem – o longa aborda a história real de Nader (Nader Sarhan), adolescente de origem egípcia nascido em Roma, que vive em conflito com os pais e sai de casa após eles desaprovarem seu namoro com uma italiana. O menino passa a viver nas ruas, roubando e passeando com o amigo Stefano (Stefano Rabatti).
A trama é ambientada em Ostia, na periferia de Roma, região pouco conhecida para quem só vai a capital italiana por turismo. O grande mérito do roteiro é mostrar que os conflitos multiculturais continuam fortes na Itália – e, embora o tema seja recorrente em outros filmes italianos, é a primeira vez que o protagonista é a pessoa que realmente vive essa história em seu dia a dia.
Outro fato interessante que o roteiro frisa é que, ainda que Nader seja italiano, sua origem e as tradições de sua família falam mais alto – tão alto que, quando a irmã de Nader se interessa por um italiano, ele se mostra totalmente contrário ao relacionamento. É neste ponto que o longa enfatiza que o conflito dos pais do garoto, também é o seu próprio. Essas contradições são acompanhadas pela câmera nervosa de Giovannesi, que segue os personagens de um jeito quase documental.
Prêmio Especial do Júri no Festival de Roma do ano passado, e exibido este ano no Festival de Tribeca, Alì tem olhos azuis tem direção de fotografia do aclamado Daniele Cipri, e trilha sonora composta pelo próprio Giovannesi, que também assina o roteiro. E, embora o filme deixe o final em aberto e não tome partido de nenhum dos lados, fica a sensação de que o dilema dos personagens é o dilema da própria Itália, que nem sempre enxerga com bons olhos os filhos da imigração.