Encerrou na última quarta, 19/06, a 10a edição do Festival Varilux de Cinema Francês, o festival de cinema com os áudios originais mais agradáveis aos ouvidos dos apaixonados pela francofonia, que contou com um catálogo de filmes para agradar a todos os gostos.
O festival, que veio ao longo desta década crescendo em alcance territorial e de público, é um importante difusor da produção cinematográfica francesa, e também é responsável pela criação de um público para essas produções. Além de atrair para as salas cinéfilos e amantes da língua, também consegue alcançar o espectador que ainda desconhece os encantos dos cinema francês, e assim, possibilita o enriquecimento cultural sobre a sétima arte e a quebra de preconceitos com a produção fora da bolha estadunidense.
O Varilux de 2019 apresentou em quase todo o país 17 longa-metragens, dentre os quais dramas, comédias, animações e filmes com abordagem histórica. Nas telonas, grandes nomes do cinema francês que já realizaram diversos trabalhos em Hollywood, como Gérard Depardieu (‘O homem da máscara de ferro‘, ‘Asterix e Obelix contra César‘) e Juliette Binoche (‘Chocolate‘, ‘A vigilante do amanhã‘); e também estrelas mais conhecidos pela própria cinematografia francesa, como Louis Garrel (‘O Formidável‘, ‘A bela Junie‘), Gaspar Ulliel (‘Saint Laurent‘, ‘Paris, eu te amo‘), entre outros. Neste ano o circuito contemplou 22 estados e o Distrito Federal, dos quais SP e RJ foram os estados com mais cidades exibindo (16 e 12 cidades, respectivamente). Somente os estados de Roraima, Acre, Rondônia e Amapá (todos na região Norte do país) não tiveram a oportunidade de participar do circuito. O festival foi realizado concomitantemente em 79 cidades entre os dias 06 e 19 de junho.
E para deixar a coisa ainda mais interessante, o festival também recebeu como convidados para debates alguns dos atores e diretores dos longa-metragens exibidos. Entre eles, os atores Joséphine Japy e François Civil (‘Amor à segunda vista‘), Swann Arlaud (‘Graças a Deus‘) e Thaïs Alessandrin (‘Meu Bebê‘) e os diretores Éric Métayer e Andréa Bescond (‘Inocência roubada‘), Alexis Michalik (‘Cyrano Mon Amour‘), Lisa Azuelos (‘Meu bebê‘) e Pierre Scholler (‘A revolução em Paris‘). Assim, após assistir aos filmes, o público teve a oportunidade de trocar sobre as experiências no processo de construção dos roteiros, curiosidades sobre as gravações e aprofundar em questões sensíveis das produções.
O CinePOP teve a oportunidade de participar da conversa com o diretor Pierre Scholler, que veio ao Rio de Janeiro apresentar sua produção milionária ‘A revolução em Paris‘ (‘Un Peuple et son roi‘). O premiado diretor falou sobre suas intenções principais ao fazer a reconstrução da primeira fase da revolução francesa, tendo como ponto de observação a cidade de Paris.
O filme icônico teve uma de suas cenas escolhidas para o material de divulgação do festival – provavelmente não só devido ao seu excelente elenco, figurino impecável ou direção de arte magnífica, mas por tratar de um evento histórico tão relevante sob a ótica do povo, especialmente das mulheres. Durante a conversa, quando questionado sobre a abordagem, Pierre explicou que historiadores dizem que as mulheres tiveram um papel significativo na evolução do processo revolucionário. A Marcha das Mulheres, a presença delas lutando nas ruas e suas articulações foram, para ele, determinantes para o êxito popular. A forma como as mulheres vivenciavam à época os efeitos do período econômico conturbado sofrido pela França, fosse no preço do pão, fosse ao enterrar seus filhos mortos pela fome, fez das mulheres figuras tão importantes na Revolução Francesa. O diretor também conta que, de acordo com suas pesquisas, verificou que alguns estudiosos atribuem a este momento o surgimento do feminismo. Portanto, mesmo se tratando de um novo filme abordando uma temática recorrente, o longa-metragem aguça o olhar do espectador para questões que devem ser ainda muito trabalhadas. Outro aspecto interessante apresentado é que ele tentou mostrar, em sua narrativa, que de dentro do processo histórico nenhum dos atores envolvidos compreendia os desdobramentos de suas escolhas, fazendo com que cada passo precisasse ser dado com cautela. Por isso sua opção por destacar os diálogos em todos os núcleos. Por fim, ao ser questionado sobre o motivo pelo qual não apresentou, ainda que minimamente, os desdobramentos do acontecimento principal do final do filme, compreendendo o risco de interpretações errôneas dos fatos históricos, o diretor contou que seu interesse é rodar um segundo filme dando continuidade à obra apresentada no festival – ao que a plateia respondeu com olhares entusiasmados. Vamos seguir esperando a continuação dessa bela obra sobre uma história de uma revolução por igualdade de direitos. Pelo povo, para o povo.
Além da exibição regular dos filmes do catálogo, o Festival Varilux de Cinema Francês 2019 também realizou uma sessão ao ar livre na Capitania dos Portos (RJ), sessões de democratização (exibições a preços populares ou gratuitas em espaços alternativos) em sete estados, sessões educativas (gratuitas em espaços educacionais e escolares) em todo o país e o laboratório franco-brasileiro de roteiros, realizado no Rio de Janeiro, e que contou com a participação de quinze selecionados. O laboratório foi coordenado por François Sauvagnargues e ministrado por Corinne Klomp, Didier Lacoste e Jean-Marie Chavent. Notadamente um festival que está indo muito além da simples exibição de filmes, e fazendo do cinema uma ferramenta sociocultural potente.
O festival se despede do país deixando, mais uma vez, o público querendo mais dias de exibição, mais filmes, mais trocas com diretores e atores. Então, que após a espera de um ano inteiro, venha a 11ª edição em 2020, com mais cidades, mais rodas de conversa e mais cinema francês para encantar os corações daqueles que adorariam ver a produção francesa entrando com força para a programação normal das salas de cinemas nacionais.